Pedro DuarteDivulgação para o on-line
O Rio de Janeiro já foi berço de boas ideias no campo do urbanismo, com reflexos positivos na segurança pública, aliás um dos principais problemas da cidade. Não foram poucas as iniciativas reconhecidas mundialmente nas últimas décadas, mas, seguindo uma lógica desaconselhável, projetos de âmbito federal, estadual e municipal acabaram ficando pelo meio do caminho. Isso se dá por vários motivos - desde falta de recursos a planejamentos incorretos-, mas eu resumiria esse histórico em uma única sentença: ‘muita vitrine, pouco legado’.
É preciso ser justo: essa não é uma característica exclusiva do Rio, mas, como a cidade é tambor do país, tudo fica com cores mais berrantes por aqui. Ficamos (mal) acostumados com novas promessas a cada gestão e, a título de embalagem, novos nomes midiáticos, além de slogans publicitários de ocasião. O problema é que o desfecho é o mesmo quase sempre: o projeto começa, ganha visibilidade e, pouco tempo depois, é abandonado pelo Poder Público.
Difícil é encontrar regra à exceção. Programas urbanísticos como Plano Doxiadis, Favela-Bairro, Rio Cidade e PAC das Favelas até apresentaram resultados positivos numa primeira etapa. Apesar de haver algum grau de inovação e foco territorial em todos eles, por que tropeçaram nas próprias pernas com o tempo? Num olhar em retrospectiva, é possível constatar de bate-pronto que tais programas cresceram mais rápido do que o orçamento podia sustentar.
É claro que esse bolo não é feito de um sabor só. Houve também aqueles projetos que foram mal executados desde o início. Mas tanto esses quanto aqueles seguiram um padrão claro: políticas públicas lançadas com pompa e circunstância, mas sem planejamento de longo prazo, sem devida adequação orçamentária e sem permanente articulação entre as áreas. Essa é a prova de que, quando os motivos não se mantém focados no bem comum, tudo vira vitrine e maquiagem.
Urbanismo não pode ser tratado como acessório. É infraestrutura, qualidade de vida. Faz a roda girar, e isso não pode ser reinventado a cada quatro anos. E vou além: existe uma relação clara entre urbanismo e segurança pública. Nos locais em que o Estado não chega com organização, o crime ocupa espaço. Um território desordenado favorece a ação do tráfico, da milícia e de outras formas de criminalidade. Urbanismo e segurança caminham juntos — ou afundam juntos. Concorda?
No fim das contas, acaba que essa descontinuidade mina a confiança da população. Basta ver como o histórico de tentativas frustradas alimenta o ceticismo do carioca, paralisa a cidade, desmobiliza bons servidores, desestimula a participação social e bloqueia avanços consistentes. Além das expectativas frustradas, a cidade acumula estruturas inacabadas por todos os cantos. Já parou para pensar de onde sai esse dinheiro jogado pelo ralo? Sai dos impostos do contribuinte.
No fim das contas, acaba que essa descontinuidade mina a confiança da população. Basta ver como o histórico de tentativas frustradas alimenta o ceticismo do carioca, paralisa a cidade, desmobiliza bons servidores, desestimula a participação social e bloqueia avanços consistentes. Além das expectativas frustradas, a cidade acumula estruturas inacabadas por todos os cantos. Já parou para pensar de onde sai esse dinheiro jogado pelo ralo? Sai dos impostos do contribuinte.
Romper com esse ciclo exige uma mudança de lógica. O carioca quer o básico funcionando. O Rio não precisa de mais um projeto com nome criativo. Precisa de continuidade e compromisso com o longo prazo. Precisa de planejamento urbano sério, conectado com políticas de segurança, habitação, transporte e educação. O resto é barulho demais para legado de menos.
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