Françoise Forton - Carol Goetz
Françoise FortonCarol Goetz
Por BRUNNA CONDINI

Rio - Um sentimento resume o momento de Françoise Forton, a Emília de 'Tempo de Amar': gratidão. Na pele da amorosa irmã de Reinaldo (Cassio Gabus Mendes), e tia de Lucinda (Andreia Horta), a atriz faz um balanço do trabalho que termina na próxima segunda.

"Foi muito bonito. Estou tão feliz com essa personagem! Uma mulher sensível, íntegra, delicada. Com um pensamento à frente da época dela", define. "Mas ela também sabe as leis da sociedade em que vive, até onde essa sociedade suporta. O pilar dela é a família. O irmão e a sobrinha são suas paixões".

PAIXÃO

Françoise analisa a trajetória da sua Emília. "A novela começa com ela perdendo o noivo para a febre amarela. Já começa com esse registro de perda. E ela foi vivendo. Ela é assim, é doce, generosa, mas é forte", lembra. "Depois, foi sendo desvendado o amor dela pelo Barão de Sobral (Reginaldo Faria). Um homem casado. Mas foi amor, a paixão enlouquece. E foi forte porque balançou o casamento da baronesa, vivida pela Malu (Mader), que fez uma participação na novela", diz, referindo-se ao barão e à baronesa saídos de outra trama de Alcides Nogueira em parceria com Gilberto Braga, 'Força de Um Desejo' (1999).

Mas os conflitos de Emília não pararam por aí. Na reta final do folhetim, ela vive o impasse de se entregar aos sentimentos que nutre por Fernão (Jayme Matarazzo). E nem de longe imagina que a aproximação com o médico faz parte do plano dele com sua sobrinha, para roubar seu dinheiro. "A novela fala também da condição da mulher, do preconceito. A Emília está com a vida estruturada. Até que aparece Fernão, que ela julga perfeito, mas mais jovem. Ela receia porque pensa que não vai durar, mas acha que é verdadeiro", esclarece.

Afinal, ela vai descobrir que o eleito é um grande vilão? "Olha, não sei, não posso opinar", desconversa, aos risos. "O que posso dizer é que o par, Fernão e Lucinda, nasceram um para o outro. São uma bomba relógio".

IDENTIFICAÇÃO

A atriz revela que muitas mulheres a abordam e se identificam com a história da personagem. "Emília vive isso em 1929. Mas é atual, ainda existe muito preconceito. Tem o social, tem em relação a uma mulher fazer o que deseja, se relacionar com alguém mais novo, por exemplo", comenta.

Ela diz ainda que as lutas femininas são antigas e tiveram no cenário da época espaço fundamental. "Infelizmente, ainda existe necessidade de lutar, denunciar o assédio, o abuso. O 'não é não' é real. Colocamos isso numa cena da novela. Que loucura termos que dizer 'não' desde essa época".

LAÇOS DE TERNURA

Na ficção, a carioca vive a bonita relação fraterna com Reinaldo (Cassio Gabus Mendes), um desafio para atriz, filha única. "Não tive irmãos, não conheci meu pai. Fui filha única de mãe viúva", conta. "Essa relação tão forte de amizade e proteção, que precisava ser passada na novela, eu tive que trabalhar. Me inspirei na relação com Guilherme, meu filho. Sou apaixonada por ele. Viramos uma grande dupla", diz ela, sobre o único filho de 32 anos. "E também na relação que construí na vida com alguns amigos, como a Nicette (Bruno), o Caio Blat. Peguei esse amor todo e pensei como construir a relação da Emília com o irmão".

Casada com o produtor Eduardo Barata desde 2014, ela também fala sobre a relação com o marido, mais novo do que ela. "Poderia sofrer preconceito como na ficção, mas nunca tivemos esse problema. O que importa é o sentimento, o amor. Isso não tem a menor diferença. Nós somos parceiros, nos ajudamos", garante.

LINDA E ATIVA

São 60 anos, 52 de carreira (sim, ela começou no teatro aos 8), e mais de 40 produções, entre novelas e séries. Fora as peças e filmes. Françoise ama trabalhar e já produziu tanto que está no ar simultaneamente no horário das 18h e nas reprises de 'Bebê A Bordo' (1988) e 'Explode Coração' (1995), ambas no canal Viva. "Adoro essas novelas, revejo amigos. É ótimo rever minha trajetória", diz a atriz.

Em 2018, ela tem mais trabalho. "Dia 5 de abril, reestreio no teatro 'Estúpido Cupido', um espetáculo delicioso que montamos pelos 50 anos de carreira", conta. "E logo após a novela, recomeço as aulas do projeto 'Cena Aberta'. Vamos dar o curso agora em Niterói, no Clube Central", informa. "Acredito que a arte transforma uma pessoa em um ser humano melhor. Essa é uma das razões porque dou aula: a pessoa poder se ver através da arte".

A atriz afirma que quer deixar uma semente, com as aulas e os trabalhos. "É preciso buscar viver bem. Tive um câncer (de colo de útero) há 29 anos. Foi na época da novela 'Tieta' (1989). Hoje, consigo falar disso. Quero alertar as mulheres para que se olhem, se cuidem", diz.

"Sou mais simples, minha alimentação mais natural. Quero me precaver, pra não ter que tratar. Levo uma vida natural, mas sem frescuras, como orgânico, mas vou na feijoada. Agradeço a Deus pelas oportunidades. Quero mais sabedoria para aprender. Não estamos na terra por acaso", finaliza.

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