Rio - A verdadeira identidade de Shakira do Sertão (Jesuita Barbosa) será descoberta hoje, em 'Onde Nascem os Fortes', da Globo. Depois de uma tentativa de assédio malsucedida, o delegado Plínio (Enrique Diaz) vai reconhecer a artista performática e, em seguida, chantageá-la. "Oxê! Mas é o filho do homem?! Essa não! Ramirinho Curió, quem diria, tu é Shakira do Sertão? Quanto você vai me pagar pelo segredo? Quanto vai te custar para o nosso respeitável juiz da comarca, de Sertão, não saber que o filho é fêmea? Me diga, hein, amorzinho?", questionará o oportunista, sabendo que o pai do rapaz o cria para ser seu sucessor.
PARA TODOS
"Espero que os pais também se percebam nesse lugar errado da ideia de criação, imposição. Não só os jovens, espero que abra consciência, que eduque. Quero muito que meus pais, por exemplo, assistam, muito que minha família, meus primos percebam que tem uma modificação necessária e que reverbere", explica Jesuita Barbosa. "A Shakira é uma pessoa do interior, aí já se parece comigo, enfrenta problemas da família, que também a gente enfrenta. Acho que tem muita semelhança comigo. Sinto propriedade de poder fazer essa personagem", defende o ator de 26 anos, natural de Salgueiro (PE).
A TRAMA
Na supersérie de George Moura e Sergio Goldenberg, seja sozinho no quarto ou no palco do Bodão Night Club, Ramirinho extravasa sua criatividade e liberdade ao se travestir de Shakira do Sertão. Unhas postiças, salto alto, batom marcante, legging dourada, movimentos delicados. O pai viúvo, Ramiro, criou o filho sem se interessar pelo que faz o rapaz feliz.
"É um rapaz sertanejo, que tem uma vida escondida da família, mas acima de tudo um rapaz que procura se libertar de muitas pressões psicológicas, de barreiras impostas pelo pai e pela família", frisa Jesuita. "O pai, Ramiro (Fábio Assunção), precisa entender que as coisas não são do jeito que ele quer que seja, as coisas se transformam o tempo inteiro. O importante é não rotular. Desconstruir mesmo. Menino ou menina? Masculino ou feminino porque tem a genitália ali? Não é nada disso. O gênero não está ali, vai se construir com o tempo. Temos que dar liberdade", acrescenta.
SONHO
O desejo de viver uma personagem travestida na TV era antigo. Mas, inicialmente, Shakira não existia na história. "O Zé (o diretor José Villamarim) já ouviu muito eu falar disso (se montar), e uma hora ele colocou dentro da história. E aí os dois, Zé e George (Moura, que divide a autoria com Sergio Goldenberg), começaram a criar essa personagem. Fiquei feliz", admite.
O processo de criação de Shakira teve participação total de Jesuita. No começo, a personagem seria uma cover da cantora colombiana. "Mas aí fomos chegando nesse lugar do travesti dentro do sertão. E dessa juventude que tem acesso às tecnologias. Um lugar mais plural e livre do que imitar uma figura já existente", defende o artista.
CANTANDO
Como Shakira deixou de ser cover, Jesuita dispensou a dublagem e chamou para si a responsabilidade do canto da da personagem. Foram dois meses de aula. "É um desafio, porque eu nunca tinha feito um trabalho cantando. Foi ótimo. Criamos cinco músicas de repertório diferente, músicas antigas, que lembram uma época. Nós remontamos isso e levamos para o funk, para a música eletrônica", indica ele, que solta a voz em canções como 'Mal Necessário', de Ney Matogrosso, 'Amor e Poder', de Rosana, e 'Sonhos', de Peninha.
"Não queria de jeito nenhum trabalhar a Shakira só em função da questão sexual. Quando você vê uma figura que se monta, que é drag, você vai diretamente a esse ponto do sexo. 'Mas é um personagem gay?', 'É um personagem hetero?', 'Ela fica com homem ou fica com mulher?'. A minha vontade junto com o Zé (o diretor José Villamarim) era fazer uma drag, mas deixar de jeito nenhum só a questão sexual à tona. Acho que a gente está conseguindo fazer isso", frisa o ator, com orgulho.