Por daniela.lima

Rio - Esqueça aquele sujeito casca grossa e preconceituoso que Joaquim Lopes encarna em ‘Império’. Recostado no sofá de sua casa, na Barra, o ator que interpreta o chef de cozinha homofóbico Enrico é a imagem de um boa-praça, simpático e tranquilão, sem nenhum traço do destempero de seu personagem. Estreante em novela das nove, depois de ficar conhecido por papéis cômicos em ‘Morde & Assopra’ e ‘Sangue Bom’, Joaquim vem brilhando em um papel dramático, principalmente depois que Enrico reagiu de forma violenta ao descobrir que o pai, Cláudio Bolgari (José Mayer), é bissexual.  

Joaquim na cozinha do restaurante de Enrico na novela 'Império'Divulgação


“Acho que a atitude do Enrico parte dessa surpresa que ele tem com o pai, ele se sente enganado. Além disso, ele é um cara que já tem esse traço homofóbico dentro dele. É preconceituoso, muito rígido em tudo, nos pensamentos e na forma como encara a sociedade”, comenta o paulistano, de 34 anos. 

Se na ficção Enrico não aceita a condição do pai, na vida real histórias semelhantes ainda se repetem em muitos lares do país. Joaquim lamenta que, em pleno século 21, o tema ainda seja tratado com tanto preconceito e, muitas vezes, acabe em violência. “Vi um levantamento de 2012 que dizia que uma pessoa morria a cada 26 horas no Brasil vítima da homofobia. Isso é um absurdo, uma loucura. É quase uma chacina, inacreditável”, indigna-se o ator. “Espero que meu personagem sirva como denúncia, uma forma de levantar esse tema de novo, e que as pessoas responsáveis tomem as providências para que isso acabe, que não fique só no papo de político para ganhar eleição.” 

A favor do casamento gay, o ator ainda se surpreende com o machismo que permeia a sociedade quando o assunto é a união homoafetiva. “Acho que amor é amor. Quem somos nós para julgar quem outra pessoa deve ou não amar?”, questiona. “É engraçado porque o Brasil vende a imagem de liberdade, mas não é assim. Nos Estados Unidos e na Europa, o casamento gay não é mais polêmica, mas aqui ainda é. Tanto que toda vez que tem um casal gay numa novela as pessoas falam: ‘Nossa!’ Gente, estamos em 2014, vamos ser mais inteligentes.” 

Na trama, Enrico foi expulso de casa, brigou com o namorado do pai, Leonardo (Klebber Toledo), e não vai se casar com Maria Clara (Andreia Horta), que não perdoa a homofobia do noivo. A fase ruim do chef ainda vai resultar em uma depressão profunda e a perda do seu restaurante para seu ajudante de cozinha, Vicente (Rafael Cardoso), que vai comprar o estabelecimento com a ajuda de José Alfredo (Alexandre Nero). 

“Não acho que Enrico veja o Vicente como uma ameaça. Ele reconhece o talento do funcionário, mas quer colocá-lo no seu devido lugar. Em toda cozinha, no mundo inteiro, existe uma hierarquia quase militar. Vicente quer botar as asinhas de fora, mexer no cardápio. Mas é claro que é superantiético o Enrico dizer que são suas as receitas do Vicente. É um desvio de caráter”, diz Joaquim, formado em gastronomia. 

Houve especulações de que Enrico seria um gay enrustido. O autor Aguinaldo Silva já desmentiu essa possibilidade. Mas o ator garante estar preparado para tudo: “Se recebesse essa nova sinopse do personagem, faria com a mesma vocação e intensidade que fiz o Enrico até agora. Apesar de toda a modernidade que vivemos, se assumir gay ainda não é tão simples. Então, respeito muito o espaço de cada um e a opção de tornar essa questão algo privado ou público.” 

Acostumado com o calor do público, por conta dos personagens cômicos, ele já enfrenta outro tipo de reação nas ruas: “Agora é uma coisa assim: ‘Te odeio! Enrico é um grosso!’ As pessoas não estavam acostumadas a me ver nesse papel, rolou um estranhamento. Para mim é bom, significa que estou fazendo bem e não deixei traço algum dos outros personagens.” 

Cantada de gay, o ator garante que ainda não levou. Mas e se isso acontecesse? “Levaria na maior esportiva, sem criar qualquer clima de tensão. Agradeceria o carinho, mas honestamente falaria que não faz o meu perfil e desejaria toda a felicidade para a pessoa.” 

Aliás, faz tempo que Joaquim encontrou sua cara-metade: a loura, linda e também atriz Paolla Oliveira, com quem está casado há cinco anos. Reservado, ele pouco fala da vida pessoal, mas deixa claro que os dois não pretendem, por enquanto, aumentar a família. “Acho que filho tem de vir na hora certa. Eu e Paolla estamos trabalhando bastante. Quando tivermos um, vamos querer estar por perto, acompanhar o crescimento dele, educar”, diz.  

Joaquim com a mulher%2C Paolla OliveiraOnofre Veras / Agência O Dia


A RECEITA DO CHEF LOPES

De uma família de médicos, Joaquim Lopes tentou seguir a tradição, mas sua paixão pela gastronomia foi maior. Após se formar, ele trabalhou em restaurantes de São Paulo. Hoje, cozinha por prazer. “Para mim, depois de sexo, a gastronomia é a experiência estética mais completa, porque você tem todas as sensações: o paladar, a visão, a audição.” Adepto de uma alimentação saudável, ele também adora uma macarronada, e dá a receita: 

Ingredientes: 1 lata de tomate pelado; 1 bandeja de miniberinjelas; 1 maço de manjericão fresco; azeite extra-virgem; 3 dentes de alho; queijo de cabra ou mozarela de búfala; algumas azeitonas pretas e alcaparras; sal e pimenta do reino a gosto. 

Preparo: cozinhar o espaguete em água salgada. Assar as berinjelas no forno com azeite e sal. Numa panela com azeite, colocar alho picado. Acrescentar os tomates picados, as berinjelas cortadas em rodelas, as azeitonas sem caroço e as alcaparras. Quando a massa estiver al dente, escorrer a água e colocar na panela do molho. Finalize com o manjericão e lascas do queijo.

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