A atriz Léa Garcia, que morreu nesta terça-feira aos 90 anos, foi homenageada no Festival de Gramado, onde seu filho recebeu troféu em nome da artistaDilson Silva / Ag. News

Rio - Léa Garcia recebeu uma homenagem póstuma, nesta terça-feira, no 51º Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul. A atriz estava na cidade para receber o Troféu Oscarito pelo conjunto da obra, quando sofreu um infarto agudo do miocárdio e não resistiu. O filho da artista, Marcelo Garcia, subiu no palco para representar a veterana, considerada uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira.
A informação da morte de Léa foi divulgada, na manhã desta terça, por familiares no perfil oficial da atriz no Instagram,. "É com pesar que nós familiares informamos o falecimento agora, na cidade de Gramado, no Festival de Cinema de Gramado, da nossa amada Léa Garcia", diz a postagem.
Léa estava na cidade de Gramado desde sábado e chegou a fazer alguns passeios pelo local. Ela postou fotos em que aparece sorridente em frente ao troféu Kikito e também ao lado de Laura Cardoso e Emílio Orciollo Netto. "Quanta felicidade ao lado dessas pessoas maravilhosas", escreveu a veterana na legenda da foto ao lado dos amigos.
Laura, que também está no festival para receber o Oscarito pelo conjunto da obra, lamentou a morte da amiga: "Ainda sem compreender o que houve. Estávamos juntas todos esses dias em Gramado, sorrindo e se divertindo, como nos velhos tempos... Fique com Deus, minha eterna colega. Fique com Deus", declarou a atriz de 95 anos.
Legado
Léa Lucas Garcia de Aguiar, mais conhecida como Léa Garcia, nasceu no Rio de Janeiro em 1933. Ela estreou nos palcos aos 19 anos depois que o amigo e dramaturgo Abdias do Nascimento a convenceu a participar da peça Rapsódia Negra, em 1952, no Teatro Experimental. A atriz e Abdias se casaram nos anos 50 e tiveram três filhos. O intelectual morreu em maio de 2011, aos 97 anos.
A artista estreou na televisão no Grande Teatro da TV Tupi, na década de 1950. Em 1969, participou de sua primeira novela, "Acorrentados", na Record. Em 1970, foi para a TV Globo onde interpretou a empregada Dalva na novela "Assim Na Terra Como no Céu". Em 1972, Léa participou do primeiro programa gravado totalmente em cores no Brasil. Tratava-se de um episódio do Caso Especial chamado "Meu Primeiro Baile".
Léa Garcia participou de sucessos da TV Globo como "Selva de Pedra", de Janete Claire, em 1972, e "Escrava Isaura", adaptação de Gilberto Braga para a obra de Bernardo Guimarães, em 1976. Nesta última, a artista fez sua primeira vilã. "'Escrava Isaura' é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa (personagem de Léa) acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou", disse certa vez em entrevista à TV Globo.
A veterana também participou de obras como "Dona Beija", de Wilson Aguiar Filho, em 1986; "Tocaia grande", de Duca Rachid, que foi baseada na obra de Jorge Amado, em 1995; e "Xica da Silva", de 1996, escrita por Walcyr Carrasco. Todas as três obras na TV Manchete.
Em 2002, Léa Garcia participou de "O Clone", de Gloria Perez, na TV Globo. Ela também esteve em "A Lei e o Crime", em 2009, de Marcílio Moraes, na Record. Em 2018, participou da série do Globoplay "Assédio", escrita por Maria Camargo. Um de seus últimos trabalhos, "Vizinhos", vai estrear no Canal Brasil no dia 25 de agosto deste ano.
A atriz estava cotada para participar do remake de "Renascer", de Bruno Luperi, que tem previsão de estreia para depois de "Terra e Paixão", na TV Globo.
Premiada
Léa Garcia atuou em mais de 30 obras, entre curtas e longas-metragens. A artista recebeu vários prêmios nacionais e internacionais. Seu primeiro filme, "Orfeu Negro", lhe rendeu uma indicação a categoria "melhor atriz" no Festival de Cannes, em 1957. Ela foi eleita "melhor atriz" no Festival de Gramado, em 2005, por sua atuação em "Filhas do Vento", de Joel Zito Araújo.
Em 2013, venceu novamente a categoria de "melhor atriz" com o curta "Acalanto", de 2012. Com este mesmo filme, ela foi premiada no "Brazilian Film Festival of Toronto", no Canadá. "Barba, Cabelo & Bigode", de 2022, da Netflix, dirigido por Rodrigo França, foi seu último filme.
No ano passado, Léa voltou aos palcos para comemorar seus 70 anos de carreira com a peça "A Vida Não É Justa", baseada no livro homônimo de Andréa Pachá. No espetáculo, a veterana interpretava três personagens.