Por tabata.uchoa
Luiza (Bruna Marquezine) entrou para o rol das personagens chatas de Manoel Carlos. Nas redes sociais%2C o público não perdoaDivulgação

Rio - Se você cai numa roda de conversa e o assunto é ‘Em Família’, pode esperar: já, já alguém vai gritar: ‘A Luiza é uma mala!’. Pelo jeito, a personagem de Bruna Marquezine no folhetim de Manoel Carlos é a mais nova integrante da lista de chatas do autor. Não é a primeira.

À filha da Helena de hoje (Julia Lemmertz) juntam-se Camila (Carolina Dieckmann), de ‘Laços de Família’ (2000); Eduarda (Gabriela Duarte), de ‘Por Amor’ (1997); e Joyce (Carla Marins), de ‘História de Amor’ (1995). Aliás, a Eduarda, na época, ganhou até um site, ‘Eu Odeio a Eduarda’, tamanha era a antipatia do público em relação à personagem. E outras mulheres de Maneco, que não as filhas das Helenas, ganharam a aversão dos espectadores. Entre elas estão Iris (Deborah Secco), de ‘Laços de Família’; Dóris (Regiane Alves), de ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003); e Isabel (Adriana Birolli), de ‘Viver a Vida’ (2009).

Quando a bola da vez, Luiza, deu o primeiro beijo em Laerte (Gabriel Braga Nunes), os tuiteiros não perdoaram. “Mimada, fútil, fura-olho da mãe” e “Como Luiza pode ser tão pistoleira? Pegar o ex-namorado da mãe e ainda aquele que feriu o rosto do pai (Humberto Martins)” eram as frases que apareciam. Então, veio o troco de Helena, que deu um tapa no rosto da filha. Comemoração geral. Na web, pululavam elogios para a mãe e a bofetada.

O autor Manoel Carlos é o primeiro a sair em defesa da personagem, mas reconhece que ela não agrada a todos. “Só recebo elogios sobre a Luiza. Ela e a Juliana (Vanessa Gerbelli) são as queridinhas das mensagens que nos chegam via internet. Mas claro que há quem não goste. Afinal, o personagem é polêmico. Se ela é mimada? Que filha única não é? Mas ela não é passiva. É valente. E algumas pessoas não gostam de jovens valentes e desafiadoras. Preferem as passivas, as boazinhas com todo mundo. As tímidas e humildes. Luiza não é assim. Traidora? Por quê? Faz tudo às claras, não esconde nada de ninguém”, questiona.

Para a psicanalista Clarice Palmeira, não se trata, simplesmente, de Luiza ser ou não chata, pois relações turbulentas entre filhas e mães são muito mais complexas e comuns do que se possa pensar. “O imaginário coletivo tende a tratar como algo sagrado a relação entre mães e filhas. Mas esse relacionamento não tem apenas aspectos positivos. Há a coexistência de amor e ódio, que estão presentes no inconsciente. Ao que me parece, o Manoel Carlos gosta de explorar o embate entre mãe e filha, o que torna a relação complexa e não tão sagrada. Ele (o autor) não está fantasiando, isso existe e faz parte das relações”, explica a psicanalista.

Manoel Carlos defende LuizaDivulgação

A psicóloga e professora da PUC de São Paulo Ceneide Cerveny, especializada em relações familiares, também acredita que não se trata de chatice e, sequer, traição por parte de Luiza. “Mãe e filha se amam de verdade. O caso é que elas têm visões diferentes de mundo, o que é normal entre as gerações, Foram criadas em contextos diferentes e são produto de um passado malresolvido. Será que essa mãe tem mesmo inveja e compete com a filha? Ou será uma mãe preocupada, que conhece o homem em questão e acha que ele continua o mesmo? Luiza está fazendo o papel que o autor acha ser a visão das garotas de hoje: querem liberdade, independência, mas, ao mesmo tempo, aconchego, mesada, mimos dos pais. Querem ser diferenciadas, mas acabam por ser muito iguais entre si. E não acho traição da filha em relação à mãe, porque a história malresolvida do passado não é dela (da Luiza)”, expõe Ceneide.

Várias razões

Na avaliação de Tatiana Siciliano, professora da Faculdade de Comunicação Social da PUC-Rio e especialista em teledramaturgia, o público classifica a personagem como chata por diversas razões. “Ela quer ser independente, mas vive com o dinheiro dos pais e, o pior, disputa com a mãe. Luiza ignora os sentimentos de Helena, e, para os brasileiros, a instituição família ainda é algo que preservam. O público, então, não perdoa.

Além disso, ainda não houve a redenção da personagem, uma passagem dramática, como aconteceu com Carolina Dieckmann, por exemplo, em ‘Laços de Família’. Sua personagem (Camila) roubou o namorado da própria mãe (papéis vividos por Reynaldo Gianecchini e Vera Fischer). Mas, logo depois, ela teve câncer, sofreu e se redimiu junto ao público. Luiza não sofreu”, analisa Tatiana.

A especialista lembra, ainda, que, enquanto todos esperavam que a antagonista de Helena fosse Shirley (Vivianne Pasmanter), eis que surge a própria filha no papel. “O estranhamento é maior. A disputa com a própria filha é mais dolorida e complexa. O espectador fica incomodado. Aumenta a audiência, mas muitas pessoas rejeitam este conflito”, diz.

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