Rio - É dos cafajestes que elas gostam mais. Certo? Errado! E o responsável em fazer essa teoria cair por terra é o personagem Virgílio, de ‘Em Família’. Com perfil clássico do bom moço, o marido de Helena (Julia Lemmertz) virou objeto de desejo das telespectadoras da trama de Manoel Carlos. Vibrando com o sucesso do artista plástico está o seu intérprete, Humberto Martins. “Não tenho palavras para expressar o quanto é especial fazer o Virgílio. Ele é um homem sensato, tranquilo, tolerante e carismático. O Virgílio é o cara que toda filha queria ter como pai, que toda mãe queria como filho, que toda sogra queria como genro e que toda mulher queria como marido. Quem gosta de paz quer ter um Virgílio em casa”, explica, convicto.
Confirmando a tese de que quem é rei nunca perde a majestade, a repercussão superpositiva de Virgílio junto ao público feminino não deixa dúvidas de que o posto de galã — conquistado por Humberto em 1990, quando protagonizou ‘Barriga de Aluguel’, e consolidado em novelas como ‘Uga Uga’, em que aparecia com pouca roupa — se mantém inalterado. O título visto com reservas por parte da classe artística é bem-vindo para o ator, de 53 anos. “Ainda ser considerado galã é um privilégio”, diz. Maduro como seu atual personagem, o ator não se incomoda com o assédio do público, que aumenta de forma vertiginosa quando está fazendo novela. “Meus pés estão sempre no chão. Nunca me dei mais importância do que aos personagens. Lido bem com a fama, atendo a todo mundo que me aborda na rua. Converso, brinco... Sou um transeunte, um ser humano comum, tenho identidade, CPF, como todo mundo. O trabalho de ator é como o de pedreiro, que você vai construindo tijolo por tijolo, dia a dia”, compara Humberto.
Por se considerar apenas um operário da arte, entrar nos lares brasileiros todas as noites com uma cicatriz no rosto não é problema para Humberto. “Não tenho vaidade. Me doo por inteiro ao personagem. Quando eu coloco a cicatriz, ganho um peso. É um momento de concentração, em que eu penso na dor do Virgílio, na vida dele. A cicatriz é uma marca que não tem como não puxar lá de trás o dia em que aconteceu aquela tragédia”, explica, referindo-se a quando Virgílio foi agredido por Laerte (Gabriel Braga Nunes), há 20 anos, quando quase morreu.
A popularidade de Virgílio, assim como o trabalho de um ator ou de um pedreiro, vem sendo conquistada passo a passo. E uma das teorias para o personagem de Humberto ter se tornado o queridinho do público feminino muito se deve à fidelidade do artista plástico, que não se envolveu com outra mulher nem enquanto esteve separado de Helena. Nesse aspecto, criador e criatura também têm muito em comum. “Fidelidade é uma necessidade, não uma obrigação. Quando você ama, não há espaço para querer estar com outra pessoa. Não sou fiel por obrigação, mas porque é legal estar com aquela pessoa, porque tem química, intimidade de toques, de conversas, de olhares... Fidelidade é isso. Esse tipo de coisa não se sente toda hora, por qualquer pessoa. Então, a gente precisa estar inteiro na relação quando isso acontece”, acredita.
Namorando há três anos a atriz e designer gráfica Márcia Del Anillo, Humberto é o oposto de Virgílio quando o assunto é casamento. “Eu prefiro namorar. Namoro é mais saudável do que casamento porque você sente saudade. E a saudade deixa a relação mais feliz. Não é fácil dormir e acordar todo dia junto e manter a ternura. Namorar não acostuma ninguém a nada. E o costume é perigoso, faz a pessoa ficar preguiçosa. Está tudo ali, certo, fácil, não há necessidade da conquista. O Virgílio disse uma vez que ‘casamento não é tarefa para os fracos’. Nesse sentido, eu me considero fraco. Casamento sem cobranças seria maravilhoso, mas é difícil”, comenta.
A vida em família, no entanto, é cultivada dia a dia pelo ator, que é pai de Thamires, 24 anos, Humberto, 17 (do seu casamento com Ana Lúcia Mansur), e Nicole, 7 (da união com Andrea Abrahão). “Sou paizão. Eles são doidos por mim e eu sou doido por eles. A gente se liga direto, tem saudade, fico até emocionado ao falar deles. Eles são os meus amores. Tudo que eu fiz e ganhei na vida foi por eles”, garante.
Se no cenário perfeito da vida idealizada por Humberto inclui namoro e filhos, não há mais espaço para ciúme, sentimento que quase causou a morte de Virgílio no início de ‘Em Família’, quando o possessivo Laerte o enterrou vivo após uma briga que tinha Helena como pivô. “Ciúme é um sentimento perigoso porque se acredita que a outra pessoa é de sua propriedade. Mas não é. Ninguém é de ninguém. Quando era mais jovem, dos meus 18 aos 24 anos, tinha muito ciúme. Nunca fiz loucuras, exageros, mas era ciumento. Depois, fui aprendendo a lidar com esse sentimento. A maturidade traz mais tolerância, você aprende a não procurar, porque quem procura acha. Existe um monte de antídotos para você fugir do ciúme e um deles é o trabalho”, frisa.
Tema recorrente na conversa de Humberto com a ‘Já É! Domingo’, o passar dos anos é visto muito mais como uma possibilidade de ganhos do que de perdas. A evolução como ser humano, inclusive, é o que o ator aponta como principal fator para ter chegado à maturidade com fôlego de menino. “Estou bem aos 53 porque estou bem comigo mesmo. Não tem a ver só com o surfe e o golfe, que eu pratico. Tem a ver com aceitar todas as coisas que acontecem na vida”, teoriza ele. “Qualquer dor que eu tive não chega nem perto da de pessoas que vejo no noticiário. Tenho uma vida de rei. Se a gente tiver consciência de tanta tristeza que há à nossa volta, a gente vê o quanto é privilegiado. Dou graças a Deus por poder ver o sol todos os dias, por ter meu trabalho, minha família e meus amigos”.
‘VIRGÍLIO PODE SER GOSTOSO’
SEGUNDA CHANCE. “Sempre procuro dar um novo fôlego aos relacionamentos quando os problemas surgem. Tento não ser intempestivo e me esforço para fazer com que as coisas deem certo. Nem sempre tive sucesso, claro. Sem dúvida, o Virgílio é mais tolerante do que o Humberto”.
BRIGA. “Falaram que eu e o Gabriel Braga Nunes brigamos quando gravamos aquela primeira cena de agressão entre o Virgílio e o Laerte, mas isso é mentira. E, mesmo que tivesse acontecido algum problema, seria um assunto nosso. A relação de trabalho é nossa, somos colegas, cada um tem um jeito de ser, mas a gente se respeita. O Gabriel é muito profissional, não tenho o que falar sobre ele. Nós sempre conversarmos, trocamos ideias sobre as cenas, principalmente as de briga. Ele é um cara legal, maneiro, bom ator, tranquilaço”.
GOSTOSO. “Talvez pensem que o Virgílio não é bom de cama por ele ser sereno. Mas eu discordo. O fato de ele ser tranquilo não significa que não tenha certas cafajestices na hora da relação sexual, que é uma coisa que faz parte da natureza do ser humano. A cafajestice que eu digo é um vigor a mais. É importante salientar que ele pode ser gostoso na cama. A intimidade das pessoas não tem cara. Se ele não fosse gostoso, a Helena não estaria com ele todos esses anos. Ela até fica preocupada quando ele é assediado pela Ana (Claudia Mauro)”.