Por daniela.lima

Rio - É com a mesma elegância com que atuava nos gramados que Paulo Roberto Falcão, de 60 anos, conduz o ‘Boa Noite Copa’, programa de debates diário no canal Fox Sports. O treinador e ex-craque da Seleção, do Internacional de Porto Alegre e da Roma (Itália) passa a bola para os convidados marcarem o gol.

'Neymar é uma grande perda. Um jogador como ele poderia desequilibrar. Mas Oscar pode aparecer mais um pouco%2C tem qualidade para suprir essa falta'Márcio Mercante / Agência O Dia


“Pra mim, o âncora tem que distribuir o jogo, como se fosse um jogador do meio-campo, deve falar menos e deixar o entrevistado brilhar”, resume ele, que está surpreendendo na função. Nesta entrevista, à beira da piscina do hotel Radisson Barra, onde está hospedado no Rio, Falcão fala das suas possibilidades profissionais após a Copa do Mundo — seguir a carreira como treinador ou continuar na TV —, revela o sonho de comandar um talkshow, analisa a instabilidade emocional da Seleção e demonstra confiança no time de Felipão, mesmo sem Neymar, na semifinal de hoje contra a Alemanha. “O jogo coletivo vai ter que suprir a ausência da individualidade”, diz.

CHORO DA SELEÇÃO
Tão surpreso quanto a torcida, Falcão diz que nunca tinha visto um time chorar como no jogo contra o Chile nas oitavas de final. “Acho que tem a ver com o fato de a Copa ser no Brasil. Ali, eles sentiram num momento da partida a possibilidade de perder. O choro foi um desabafo, pelo risco de sair fora.”

AUSÊNCIA DE NEYMAR
Ele acha natural que a Seleção dependa de um jogador fora de série como Neymar. Mas o desfalque do camisa 10 da Seleção nesta reta final da Copa tem que ser superado pelo jogo coletivo. “É uma grande perda. Um jogador como ele poderia desequilibrar. Mas Oscar pode aparecer um pouco mais, porque também tem qualidade para suprir essa falta.”

ÂNCORA DE TV
O ex-jogador garante estar à vontade no papel de âncora. “Aprendi há muito tempo que o mais importante na TV é não perder a naturalidade, mesmo quando você erra. Tem que brincar e ter humildade para assumir isso”, diz. Ele tem até receita para se sair bem na função: “Não falo mais do que os outros. Meu papel é provocar, fazer com que eles falem. Não estou ali para brilhar, quero que o entrevistado brilhe.”

COMENTARISTA
Entre 1996 e 2011, Falcão foi comentarista na Globo. “É muito mais fácil comentar do que ancorar. Você aperta um botão, fala e sai”, descreve ele, que ganhou popularidade nessa época. “Tinha uma boa aceitação. O que me ajudava era o sotaque, não tenho nem o do paulista nem o do carioca. E também não falo o tchê!” (risos). Como âncora, ele tem mais trabalho: “Preciso controlar uma discussão, polemizar, brincar, contar histórias. Nesse período de Copa, só se fala de futebol, mas nem todo mundo quer saber de sistema tático, 4-3-3. As pessoas querem ouvir histórias de quem esteve em campo, com humor.”

DO CAMPO PARA A MÍDIA
Após pendurar as chuteiras em 1986, ele teve coluna em jornal, trabalhou em rádio e fazia comentários diariamente no ‘Jornal do Almoço’, da RBS TV, em Porto Alegre. Em 1990, comentou a Copa da Itália pela extinta TV Manchete. “Nunca tive dificuldade ou preocupação com preconceito. Quando comecei, já tinha na cabeça a ideia de fazer um programa num teatro. Já me imaginava na TV.”

SER TREINADOR OU FAZER TV?
O último ‘Boa Noite Copa’ vai ao ar no próximo domingo. “A repercussão foi maior do que eu imaginava. Muita gente do ramo ficou surpresa com a minha capacidade de trabalhar, de ancorar. Tento fazer o programa como se estivesse na minha casa recebendo amigos”, conta. Ele tem propostas de clubes para voltar a ser treinador, mas também pode seguir na TV, embora ainda não tenha aberto as negociações com o Fox Sports. “São duas coisas que acho que sei fazer bem, uma (a TV) com mais qualidade de vida e a outra com mais adrenalina. É mais fácil ver treinador com problema de coração do que apresentador.”

TALKSHOW
Caso continue na televisão, o ex-craque gostaria de comandar um talkshow. “Desde que fosse uma coisa diferente do que está aí. Mas é muito difícil fazer algo novo, a criatividade é uma coisa muito complicada.”

ELEGÂNCIA
Falcão veste roupas da grife Ricardo Almeida, feitas sob encomenda para ancorar o programa. Mas, dia desses, apareceu com um terno vermelho que deu o que falar. “Fizemos umas cores mais berrantes... O vermelho foi comentadíssimo! Mas, quando vou mais esportivo, fico mais arrojado”, diz ele, que é amigo do estilista de longa data. “Quando tinha grife nos anos 80, eu e Ricardo fazíamos 200 calças de linho no galpão no fundo de casa.” Fã de moda, ele ensina: “Sempre gostei de me vestir bem. Mas a roupa não te dá elegância, é só o complemento. A elegância é sua maneira de ser, de se comportar.”

FAMÍLIA
Casado com Cristina Ranzolin, apresentadora do ‘Jornal do Almoço’, na RBS TV, ele afirma que a mulher está acostumada com sua vida cigana, viajando como treinador ou agora como âncora. “Minha filha, Antonia (10 anos), é que sente minha falta. Ela está fazendo catequese. Agora, acrescentou outra coisa na sua reza: que o pai arrume um emprego bem pertinho de casa”, diz ele, que também é pai de Paulinho, 18, de seu primeiro casamento.

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