Por daniela.lima

Rio - Aos 49 anos, Alexandre Borges deixou para trás a vaidade e a imagem de galã. Com o cabelo e a barba mais compridos, além de usar chinelos, bermuda e camiseta, o ator se distanciou dos tipos sedutores em ‘I Love Paraisópolis’, em que interpreta o malandro Jurandir, o Juju, ex-marido de Eva (Soraya Ravenle) e pai de Mari (Bruna Marquezine) e Danda (Tatá Werneck). 

Alexandre Borges com Soraya Ravenle e Bruna Marquezine%2C que vivem a ex-mulher e a filha adotiva do malandro JurandirReprodução Internet


“Ficar barbudo não incomoda”, garante o ator, que também não se preocupa em emendar uma novela na outra. “Tento aproveitar as oportunidades. Tenho ainda uma longa carreira pela frente, quero manter uma regularidade e tentar surpreender. Não estou acostumado a fazer personagens como esse. Mesmo constante em novelas, tento trazer novos tipos, para não ficar essa sensação de repetição.”

Enquanto Alexandre busca surpreender a cada trabalho, seu personagem é o retrato da acomodação. Desempregado, Juju vive de bicos na comunidade, sempre com a intenção de reconquistar a ex-mulher, que o expulsou de casa. Para faturar uma graninha, aposta até em briga de galo.

Ele diz que o personagem, mesmo cômico, não glamouriza a vagabundagem: “Ninguém estimula ninguém a não ter dinheiro, a ter que se virar e apostar em coisas erradas para conseguir dinheiro para a comida e o aluguel de casa. O importante é que, mesmo numa situação difícil, tem humor e leveza. Ator não tem que se preocupar muito com a moralidade.”

Para Alexandre, Juju é uma vítima da falta de oportunidades no país, como milhares de brasileiros. “Ele é um filhote da crise”, decreta. Mas, sem fazer julgamentos, o ator também identifica alguns fatores que fazem com que tipos como Juju se encostem nas mulheres e levem uma vida bem mansa.

“Acho que tem isso de ele não querer trabalhar, ser encostado. Mas há pessoas que não têm ambição. E tem também a questão da não oportunidade, o temperamento, o fato de não querer receber ordens. Isso tudo faz o cara ir se acomodando. De repente, ele ganha R$ 500 fazendo um trabalho que não queria o dia inteiro, e, numa briga de galo em que aposta, ganha R$ 2 mil”, analisa.

Empolgado com o papel, o ator ressalta a importância de ter uma atividade produtiva: “Acho que todo mundo tem que correr atrás, buscar sua dignidade, seu trabalho. E acredito que o Juju vá ter essa virada.”
Assim como outros colegas do núcleo de Paraisópolis, Alexandre também conheceu a comunidade em São Paulo, onde se passa a trama das sete. Mas foi em sua própria experiência que ele buscou inspiração para o personagem.

“Comecei a trabalhar muito cedo. Trabalhei em muitas coisas, fazia bicos, com 15, 16, 17 anos. Sou de Santos. Frequentei muitos cortiços e tive muitos amigos humildes, sem dinheiro. No começo, o ator lida com a profissão com muito sacrifício. Sempre transitei bem por esse ar despojado, sem glamour, sem a cara da Zona Sul, sem a coisa urbana. Sempre tive contato com isso. Eu sou povão também”, diz.

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