Por bianca.lobianco

Rio - Há quem acredite que “A Regra do Jogo” ainda não emplacou porque não gerou memes instantâneos na web ou ofereceu personagens que viralizem com certa facilidade como Téo Pereira (Paulo Betti) e o comendador (Alexandre Nero) de “Império”, Félix (Mateus Solano) de "Amor à Vida", ou a Beatriz (Glória Pires) de “Babilônia”.

De acordo com a última medição do Ibope Twitter TV Ratings, ferramenta lançada pelo Ibopeem parceria com o Twitter para medir a repercussão de programas televisivos na rede social, “A Regra do Jogo” não aparece entre os dez programas mais comentados da semana. “Verdades Secretas” e “I Love Paraisópolis” são as únicas novelas mencionadas. O ranking é liderado pelo programa “MasterChef Brasil”, da TV Bandeirantes, que se provou um sucesso insuperável nas redes sociais.  

'A Regra do Jogo' tem mostrado índices baixíssimos de audiência%3A de 17 a 21 pontos%2C em médiaDivulgação

“Mais do que na primeira edição, essa segunda se esforçou em selecionar personagens que causassem debates e paixões no público. Isso foi fundamental para o sucesso do programa”, observa Fernando Império, sócio do Salada de Conteúdo, empresa especializada em produzir, divulgar e monitorar conteúdo para as redes sociais.

“O que acontece nas mídias sociais interfere direta e indiretamente na produção, estilo e até narrativa de alguns programas”, opina Tarcízio Silva, gerente de pesquisa na Social Figures. “Antes da internet, a televisão não estava muito preocupada com o que o telespectador pensava. As pesquisas de opinião sempre existiram. Mas, na verdade, era algo institucionalizado e muito mais demorado. Hoje em dia, com o programa no ar é possível saber o que agrada e o que não agrada”, complementa Império.  

O fenômeno das pessoas estarem dispostas a assistir um programa na TV e reagir a ele nasredes sociais é conhecido como “segunda tela”. Ele permite que as emissoras monitorem o que se fala dos programas e gerem inteligência em cima desses dados.

Os memes de MasterChef ajudaram a consolidar a audiência alta da segunda edição do programaReprodução Internet

Silva advoga que alguns programas, pelo formato ou pela expertise da realização, conseguem explorar melhor esse universo com o que chama de “fatos conversáveis”, que podem ser um plot twist na trama da novela, a competição entre participantes de um reality, etc. Esse processo faz parte de um esforço das emissoras em alinhar alguns de seus produtos à dinâmica de engajamento dos fãs nas redes sociais.

O primeiro sintoma dessa interdependência entre TV e internet é o fim da passividade. Para Império, o receptor deixou de vez o papel de coadjuvante. “A TV amplia seu poder de divulgação com outra linguagem e formato de conteúdo e, de quebra, consegue medir a recepção do público. Ao mesmo tempo, a televisão alimenta a internet com pautas que fazem as pessoas ficarem mais tempo conectadas”.

Ilha com vontade própria

O Twitter é apontado como a rede social mais apropriada para viralizar. Mas tem gente que tenta subir hashtags de maneira anacrônica. “Essa participação não deve ser vista apenas como algo reativo (tuitar e votar com hashtags definidas pelo programa)”, observa Silva. Esse modelo é adotado por muitos programas esportivos, tanto na TV aberta como na TV paga, e por noticiários vespertinos como o "Brasil Urgente", de José Luiz Datena.

Silva ressalva que é muito difícil controlar inteiramente o processo, mas existem maneiras de facilitar a viralização de um conteúdo.  “É preciso disponibilizar material remixável. Uma frase que vira jargão temporário, uma imagem reinterpretada como meme, uma situação curiosa... Quando falamos de segunda tela, é possível analisar o que dá resultado em tempo real e redirecionar programas e narrativas para alcançar um maior sucesso”.

“O Twitter é uma ilha”, observa Império. “Na nossa timeline ‘Verdades Secretas’ pode ter sido um sucesso, mas isso não quer dizer que a novela é esse sucesso na internet toda. Quer dizer que naquela rede, com aquele perfil, o assunto tem grande penetração”. 

Império observa que viralizar na web não é uma ciência exata. Mas tem quem faça muito bem. “Alguns programas deixam na tela a hashtag para ser usada quando o programa está no ar. O Multishow faz isso muito bem, mas tudo isso vai depender da boa vontade do público. Muitas vezes, para entender o que o público está falando sobre um determinado programa é preciso monitorar nomes e o tema abordado”.

“No final das contas, há pouquíssimos temas ou assuntos que podem ser vistos como‘garantidos’ para gerar repercussão necessária a virar trending topic”, acrescenta Silva. Para ele, o entretenimento televisivo, a política e o esporte mobilizam paixões e controvérsias e tendem a gerar maior engajamento espontâneo.

O gerente da Social Figures destaca, ainda, a maneira como jornalistas estão capitalizando nas redes sociais. “Figuras como William Bonner e Marcelo Tas possuem cada um mais de oito milhões de seguidores no Twitter, tornando-se veículos eles mesmos”.

Essa integração, advoga Silva, além de representar uma expansão de sua audiência cativa, passa a ser um valor a ser “vendido” nas negociações com os veículos.  “Agora com oPeriscope”, observa Império, “a tendência é de que os live tweets se ampliem. É mais uma forma de divulgação para os programas de TV”.


*Reportagem Reinaldo Glioche 

Fonte IG

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