Por roberta.campos
Osvaldo Mil interpreta o Juca de 'A Regra do Jogo'Pedro Curi/ TV Globo

Rio - Os tapinhas que embalam os versos de funk podem até não doer, mas os que Juca (Osvaldo Mil) dá em Domingas (Maeve Jinkings) ferem não somente a personagem de ‘A Regra do Jogo’ como também o telespectador, que vem se indignando com as atitudes do malandro agressivo, que vive às custas da mulher. “Acho que uma relação calcada na violência não é boa de forma alguma”, sentencia Osvaldo. Para o ator, a exceção só é válida na hora do sexo.

“Alguns casais entram num consenso e permitem violências amorosas. Na cama, existe a troca de energia que permite desde um carinho até pequenas agressões. Mas o impulso inicial é sempre do amor”, analisa, sem denunciar se é adepto dos tapinhas na hora H. “Essas intimidades deixa quieto, é na alcova que as coisas acontecem”, diz, com sorriso tímido.

As cenas violentas que divide com Maeve cortam o coração de Osvaldo. Ela pede pra bater firme na hora de gravar, mas ele não “vai fundo”. “Os tapas são reais, mas são fracos. Maeve é uma atriz maravilhosa, pede para eu bater nela de verdade, eu bato, mas nada com força, faço para que fique cenicamente verdadeiro. Depois, eu fico constrangido, com medo de ter machucado. Mas quando termina a cena, abraço ela, dou beijos. Vejo aquela carinha e me corta o coração”, admite ele, que também dispensa comparações com outros personagens do gênero, como Marcos (Dan Stulbach), de ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003), que batia na mulher com uma raquete de tênis.

Osvaldo é o tipo manso, “da paz”. Não dá nem pra dizer que ele é um típico baiano do interior, arretado. “Todo mundo tem momento de ter reação irracional, vontade de ser grosseiro, mas a questão é saber o que você faz com essa energia ruim. Eu saio de perto, não discuto”. Separado e pai de dois filhos, Valentina, 13 anos, e Theo, 10, o ator admite que a cultura machista está arraigada na sociedade brasileira, mas que tenta fugir dos pensamentos que colocam a mulher numa posição inferior.

“Somos influenciados por essa cultura machista, mas procuro me separar ao máximo dela. Tenho 50 anos, mas aos 15 eu pensava diferente em relação à mulher. Sou do interior da Bahia, tenho avô delegado, tios de comportamentos machudos. Isso tudo está na minha veia, no sangue, mas eu tento me desvencilhar”, assume, revelando que ensina o filho a respeitar a figura feminina. “Vejo muita rapaziada que acha que mulher é tudo vagabunda. Infelizmente, esse pensamento machista é muito atual. Eles usam elas de forma descartável.”

O assunto gera discussões aprofundadas, talvez por isso esteja tendo tanta repercussão nas ruas. O próprio Osvaldo confessa que não saberia direito o que fazer caso visse um homem agredindo a mulher. “Primeiro, tentaria afastar o cara dela. Mas tem que avaliar a situação. A pessoa não vai se meter em confusão de casal sem analisar a sua segurança, porque depois quem vai levar pau vai ser você. Acho que tem que chamar a polícia, outras pessoas para ajudar.”

O ator em cena com Maeve Jinkings%2C que vive a humilhada Domingas%2C na novela das 21h da GloboEstevam Avellar / Globo


Nunca passou pela cabeça do ator ser o famoso bon vivant ou o cara que adora tomar uma gelada, fazer farra e pegar mulher. Mas Osvaldo não se envergonha ao dizer que se precisar ser “bancado” por uma mulher temporariamente, não vai se sentir humilhado perante a sociedade. “Não digo bancar, mas tiveram momentos no meu casamento em que eu precisei de muita ajuda da minha mulher, na época. Às vezes, ela estava melhor e acabava segurando a barra, pagando as contas para mim. As relações são parcerias. Não tem a coisa do bancar, o casal se facilita, divide, não fica nas costas do outro.”

O público torce para que Juca tome tenência e trate Domingas como ela merece, sem violência ou traições. Mas Osvaldo prefere não arriscar um futuro para o safado. “Alguma coisa vai acontecer com ele. Ou não, né? Nem sempre aqui se faz, aqui se paga. Tem vários bandidos aí que têm uma vida feliz e depois morrem tranquilos.”


Celebridade temporária

Com uma carreira sólida no teatro (em ‘O Rei Leão, o Musical’, Osvaldo foi escolhido por uma banca da Broadway para viver o protagonista Scar, na versão brasileira) e um currículo recheado de trabalhos no cinema e na TV, o ator não se deslumbra por estar no horário nobre ou por conta do assédio. “O fato de virar uma celebridade temporária não dá para mexer com um cara de 50 anos. Acho engraçada a reação das pessoas.Tenho uma vida normal, ando de ônibus, de metrô. Por enquanto, o assédio não me incomoda, uns me olham, falam, outros me ignoram. Mas se eu fosse o Cauã Reymond, por exemplo, não iam me ignorar e, talvez, esse assédio todo fosse desagradável.”

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