Rio - A atriz Yanna Lavigne carrega em seu DNA uma combinação inusitada. “Sou filha de um japonês com uma baiana. Essa mistura deu uma brasilidade que só a minha casa tem”, diz Yanna. Ela conta que a educação japonesa mais rígida do pai não prevaleceu em sua criação. “A cultura baiana equilibra. Elas se complementaram”, garante.

Yanna, que morou no Japão até os 19 anos, foi modelo antes de ser atriz. Quando voltou ao Brasil, fez a Oficina de Atores da Globo e logo começou a trabalhar. Sobre o período em que morou na Terra do Sol Nascente, ela lembra de práticas que leva para a vida. “Lá existe esse exercício da disciplina, a cultura milenar. Já o melhor do Brasil são as pessoas, o calor humano”, analisa.
Dona de um visual exótico, ela foi convidada pelo produtor de elenco André Reis e pelo diretor Vinicius Coimbra para interpretar a prostituta Mimi, em ‘Liberdade, Liberdade’. “Gostamos muito dela. Quando pensei na Yanna, o Vinicius concordou imediatamente”, lembra André. Satisfeita com o desafio, a atriz paulistana admite que de início teve dificuldades para se preparar para o papel. “Me entreguei nesse trabalho, pesquisei muito. Fiquei bem mexida em ouvir as histórias de tantas mulheres que vivem de vender seus corpos. Isso não é nada fácil.”
A atriz confessa não ter preconceitos, e exerce a empatia quando fala da profissão de sua personagem. “Cada uma sabe das razões que levaram a essa escolha. Em geral, vemos atitudes de desespero diante de uma vida de poucas oportunidades”, reflete.

No folhetim, Mimi é uma mulher sedutora e trabalha no cabaré de Virgínia (Lilia Cabral). A prostituta desenvolve uma delicada amizade com André, vivido pelo ator Caio Blat. Os dois personagens têm vidas marginalizadas: ela, uma prostituta, e ele, um gay enrustido, naquela época.
“Um precisa do outro, o afeto vai crescendo com a amizade”, avalia a atriz. Os temas polêmicos orbitam ao redor de sua Mimi, que não teme a opressão já sofrida e decide não interromper uma gravidez acidental. André é solidário e diz que vai assumir o filho dela. A intérprete acha que a atitude do personagem de Caio Blat é louvável, e que na relação deles não cabe preconceito.
“Se eu estivesse na pele da Mimi, ficaria muito feliz que o André quisesse ser pai do meu filho. O fato de ele ser homossexual não é uma questão, nunca seria.”
Na vida, ela não declara sua posição a respeito da legalização do aborto, mas acha importante a discussão do tema. “Temos um código penal que prevê que ele seja realizado quando significar risco de vida para a gestante, quando resultar de ato de estupro, entre outras situações. Acho válido falar sobre a questão, mas cada caso deve ser analisando isoladamente. Não é bom ter uma lei engessada, até porque temos uma realidade bem triste de que o aborto clandestino é a segunda maior causa de morte materna no país”, pondera.
André prefere homens, mas e Mimi prefere André? A atriz acha que sim. “Ela nunca foi tratada tão bem quanto é por André. Essa relação se tornou admiração rapidamente. Acho que ela gosta dele”. O destino de André e Mimi ainda é uma incógnita, mas o par, que não é casal, já dá o que falar. A cena em que a prostituta se despe para o amigo, tentando seduzi-lo, causou alvoroço nos espectadores. O episódio movimentou as redes sociais. “André suando frio kkkkkkk”, comentou karenkfs, no Twitter.
Yanna é discreta, ao contrário de Mimi, que movimentou ainda mais a novela com cenas ousadas: fez strip-tease, tomou banho de rio nua com as outras meninas do bordel e beijou a prostituta Gironda, papel da atriz Hanna Romanazzi. “As cenas de nudez não são exatamente fáceis, mas faz parte do meu trabalho e estão no contexto. O Vinicius e a equipe tiveram todo cuidado pra que a coisa fluísse bem”, revela, entregando que embora a nudez não seja um problema, ela não pretende ver seu corpo exposto em uma revista. “Não posaria nua.”
A atriz está satisfeita com a trajetória profissional que vem construindo e acredita que o ator deve estar preparado para os desafios que surgirem. “Tem que ser visceral. Amo o que faço, estou disposta a qualquer mudança que um bom personagem exigir”, confessa. Curtindo o bom momento, ela diz estar solteira e prefere que o tema dos assuntos em entrevistas seja seu trabalho. “A curiosidade das pessoas nem me incomoda. O que não curto é a forma de abordagem de alguns veículos, mas acho natural o interesse.”
Curiosos também estão os espectadores sobre o destino da personagem que vem crescendo na trama. Mimi já foi levada pela família de Branca (Nathalia Dill) para a casa deles, que se fizeram de bons samaritanos oferecendo abrigo e apoio, mas na verdade, desejam em troca o filho que ela espera, já que Branca perdeu seu bebê e quer continuar enganando Xavier (Bruno Ferrari).
Yanna vai sofrer bastante nos próximos capítulos, aprisionada, junto com sua personagem e com a ameaça de ser descartada após o nascimento do filho. A história do folhetim ainda promete e a de Yanna também.