Ofélia (Vera Holtz) e Felisberto Benedito (Tato Gabus Mendes)  - João Miguel Júnior/TV Globo
Ofélia (Vera Holtz) e Felisberto Benedito (Tato Gabus Mendes) João Miguel Júnior/TV Globo
Por Gabriel Sobreira

Rio - Em 'Orgulho e Paixão', Vera Holtz interpreta Ofélia Benedito, uma matriarca que arma as mais esdrúxulas situações para casar suas cinco filhas com homens solteiros e, como ela mesma gosta de frisar, preferencialmente com posses. Na vida real, a atriz, de 64 anos, convive com a cobrança do casamento desde quase sempre. "A cobrança começa quando sua mãe compra o primeiro percal, que era um tecido para fazer enxoval, aprende a bordar. Aprendi a bordar com seis anos para fazer o primeiro pano de prato na minha vida. Tenho (até hoje) esses panos. E com 12 anos falei que não ia casar. Falei: 'Pode dar meu enxoval'. Mas ele já estava pronto", lembra a atriz, que não é contra o enlace. "Casamento é um tempo de espera. Eu também não abro mão, se eu tiver que casar aos 80, 70, nenhum problema", frisa, com humor.

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Enquanto Ofélia tem cinco filhas ("Deve ter uma vida sexual ativa com o marido, porque não é possível uma mulher ter cinco filhas lindas, do nada", brinca a atriz) com personalidades fortes e que deixam a mãe à beira de um ataque de nervos, Vera optou pela vida sem filhos. "Eu não tive filhos por escolha. Muito cedo já estava determinado na minha cabeça, ainda que intuitivamente, que a escolha pelos filhos não seria a minha primeira escolha. Sempre trabalhei desde muito cedo, sempre me dediquei, o casamento existe, casei com meu trabalho e minhas escolhas", reforça.

AMBICIOSA

O enlace com o trabalho completará 40 anos em 2019 e ao que tudo indica qualquer sombra de crise ou cansaço. "A Vera sempre foi ambiciosa. Saiu de casa e não foi a passeio. Ela não sabia que as barreiras eram tão grandes. Quem iniciou a pular cerca, janelas para resolver suas coisas, o obstáculo que viesse na minha frente eu pulava o obstáculo também. Sempre encarei a vida assim. As vezes se eu tivesse alguma coisa muito difícil, mas eu resolvia de uma forma lúdica e seguia em frente", conta a intérprete. "Sabia que ia chegar em algum lugar. Acho que você deliberadamente inventa a sua vida. E obviamente eu inventei que seria conhecida nacionalmente como era conhecida em Tatuí (cidade onde ela nasceu, em SP)", conta ela, que já foi até reconhecida na Rússia, por causa do sucesso de 'Avenida Brasil'. "Sou muito grata por todo esse carinho", derrete-se.

Com uma carreira tão extensa, Vera admite uma dificuldade. "É difícil manter a amizade. Eu falo para as pessoas que sou muito intensa enquanto estou com vocês, mas depois que acabo o trabalho eu vou partir. Porque eu quero e sigo pelo mundo. Vou seguir, viajar, conhecer outras pessoas, mas estou aqui intensa com você nesse momento, você pode contar 100% comigo, mas na hora em que nos distanciarmos, eu provavelmente vou ficar muito distante porque minha vida é um rio", justifica.

Prova disso é o reencontro quase 30 anos depois com Tato Gabus Mendes, o Felisberto (marido de Ofélia na trama das 18h), com quem contracenou em 'Que Rei Sou Eu?', novela de 1989, na Globo. "No primeiro dia que gravamos juntos, eu avisei: 'Oh gente, voltamos a nos encontrar depois de 30 anos. É o primeiro dia que estamos gravando juntos novamente e eu estreei ao lado dele'. Aí todo mundo aplaudiu no estúdio, foi muito bonito ver a sensibilidade dos nossos colegas dentro do estúdio", recorda-se emocionada. "E o Tato, em 'Que Rei Sou Eu?', foi o primeiro beijo na minha vida televisiva. O Jorginho Fernando estava dirigindo. Eu morria de vergonha de beijar. Não entendia desse universo. Eu ia beijar o Tato, parava e dava uma risada. Fiz isso umas três vezes. O Tato esperou muito pacientemente", acrescenta.

Vera também faz sucesso nas redes sociais. Em especial no Instagram, que acumula 1,3 milhão de seguidores ávidos por seus vídeos e cliques com doses de ironia. "Às vezes tenho um conceito e algo que eu quero dizer, não consigo expressar em palavra me dá uma travada, mas em imagem consigo. Esse simbolismo da imagem vem fácil para mim porque sou formada em artes plásticas. É através do visual que consigo expressar um posicionamento ou opinião", explica.

Sobre sua personagem, Vera diz que Ofélia é uma mulher que se preocupa com o futuro das filhas. "Ela acredita que se não ajudar as filhas, elas vão acabar solteiras na soleira da porta da casa dela. E eles (a família Benedito) estão perdendo a casa. A herança não é passada para linhagem feminina, a herança é por linhagem masculina e o herdeiro do pai seria um primo. A preocupação da Ofélia é terrível nesse sentido", ressalva a atriz, que tira onda com o fato de poder tirar o pé do freio no sotaque interiorano. "A Ofélia tem o sotaque do interior de São Paulo e trago isso com bastante dificuldade, óbvio. Está sendo um desafio para mim", provoca, às gargalhadas.

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