Fabio Porchat -  EDU MORAES
Fabio Porchat EDU MORAES
Por Bárbara Saryne*

Rio - Prestes a completar dois anos na Record com um programa para chamar de seu, Fábio Porchat não esconde a alegria. No início, o apresentador sentia que muitos duvidavam de sua capacidade, pois as perguntas da imprensa e de seus conhecidos, antes da estreia, eram sempre voltadas aos convidados que ele levaria ao programa, já que não teria autorização para entrevistar artistas da Globo no talk show.

O humorista, no entanto, imprimiu sua marca na emissora de Edir Macedo e venceu a principal barreira: elogiado pela crítica, Porchat já fez entrevistas marcantes, balançou o ibope e evoluiu não só na área artística. "Acho que agora estou muito mais maduro e seguro, ouvindo mais as pessoas. Estou muito menos preocupado com coisas que antes eu ficava tenso", reconhece.

Seguindo menos a ficha e mais sua própria intuição, Fábio acredita que seu diferencial é o improviso, a capacidade de deixar qualquer convidado à vontade no sofá do programa. Recentemente, inclusive, o humorista conseguiu levar Jô Soares para seu estúdio na Barra Funda, em São Paulo, e precisou segurar a emoção para fazer a entrevista que mais repercutiu desde a sua estreia em agosto de 2016.

"No começo, acho que as pessoas tinham medo do que iria acontecer no meu programa. Eu sentia um certo receio dos convidados, mas vi que depois eles foram vendo que tenho um perfil divertido, que a pegada é essa, e agora até pedem para vir", revela, sem encontrar palavras para explicar o quanto foi importante receber o ídolo Jô.

O reconhecimento dos artistas, que sempre pedem para voltar ao talk show, é o que motiva Porchat a continuar investindo no formato. O contrato dele com a Record vence no fim deste ano, mas a renovação já está praticamente acertada. "Acho que ainda temos muito pela frente. A princípio, está indo tudo bem, fluindo, com anunciante e dinheiro entrando, crítica boa. Estamos no caminho certo", afirma.

DESAFIOS

Quando todos perguntavam como seria o 'Programa do Porchat' sem os convidados da emissora líder em audiência, o humorista que ficou conhecido pelo canal 'Porta dos Fundos' revela que sentia um friozinho na barriga, mas logo pensava que a missão não seria impossível. "Isso me preocupou, mas o Jô Soares ficou muitos anos no SBT sem levar ninguém da Globo. O Danilo Gentili também, então dá", explica.

Para ele, um dos principais desafios é não fazer as mesmas entrevistas. E a regra nos bastidores é clara: o programa só repete o convidado se tiver assunto novo para falar. "Uma vez, veio a Ludmilla, depois veio a Ludmilla com a mãe dela. Foram entrevistas completamente diferentes. Na primeira, eu falei de carreira, na outra eu falei só de família. O meu medo é sempre o de ficar uma coisa igual, que a pessoa de casa já viu. Quando a produção me fala que alguém quer vir de novo ao programa, pergunto o que ela tem para contar. Se a pessoa só lançou uma música nova, não adianta vir", dispara.

De olho nos concorrentes, Porchat diz que assiste ao 'The Noite', do SBT, 'Conversa com Bial', da Globo, e até ao 'Lady Night', da Tatá Werneck, no Multishow. A ideia é procurar pontos que não foram abordados pelos outros apresentadores em algumas entrevistas que ele ainda pretende fazer.

"O Rubinho Barrichello veio aqui e foi excelente, mas ele tinha ido no Bial há um mês. O Rubinho responde bem, e o Bial pergunta bem. Foi tão completo que eu fiquei pensando em como eu iria fazer para entrevistar esse cara de uma maneira diferente, sem perguntar as mesmas coisas. Eu tenho essa preocupação de ir por um caminho que ainda não foi vasculhado em outras entrevistas", admite.

O cuidado do apresentador com todos os detalhes do formato é o que faz a diferença. Em casa, Porchat também assiste ao seu próprio programa e, sempre que nota pontos que exagerou, tenta não repetir o erro. Crítico e esforçado, ele diz que leva mais em consideração a sua própria opinião e os comentários que lê e escuta nas ruas do que a audiência.

"Eu sempre achei que a Record fosse encher o meu saco por causa de audiência, mas eu nunca fui chamado a atenção por isso. É claro que eu quero que tenha audiência e eles também. Mas nunca, nunca mesmo, alguém chegou para dizer que preciso mudar. De um tempo para cá, eu até parei de ver essas coisas. Eu não sei quanto deu de audiência ontem e não sei quando vai dar hoje. É claro que se tiver dando zero, eu vou precisar fazer alguma coisa porque é um sinal de que ninguém está vendo (risos). Mas não é isso que está acontecendo", revela.

LIBERDADE

No ar em uma emissora evangélica, o apresentador e humorista comemora o fato de entenderem seu trabalho e diz que a Record nunca o censurou. "No início, eu pensei que poderia ser perigoso não poder falar alguns assuntos aqui, mas estou sacaneando Dilma, Temer, Lula, Aécio, brincando com o Edir (Macedo), falando de filmes, dando a minha opinião, e tudo anda funcionando. Quando o Jô veio, falamos de casamento gay e nada disso foi cortado", conta.

Com os pés no chão, Porchat afirma que tem bom senso e respeita o seu local de trabalho. Embora faça piada com vários assuntos polêmicos, ele diz que sabe que existe hora e lugar para tudo. Por isso mesmo, o que acha indelicado dizer na Record guarda para brincar no YouTube. "Quando você vai visitar a casa de uma pessoa e lá tem um quadro feio, você não chega lá dizendo que o quadro é horrível e você quer atear fogo nele. Tem que haver uma boa educação e é a mesma coisa aqui", pontua.

Franco, Fábio não esconde que discorda da emissora em algumas coisas, mas sabe que isso aconteceria em qualquer outro canal: "Posso viver minha vida fora daqui tranquilamente, falar o que eu quiser. Aqui eu já falo muito, me sinto muito livre, mas não tenho 100% de liberdade, o que eu sei que também não teria na Band, na Globo ou no SBT."

Feliz no amor e no trabalho, Porchat deixa claro que está sempre aberto para novas oportunidades. Quando aparecem convites para filmes, por exemplo, o apresentador geralmente aceita de primeira. Por enquanto, a intenção é conciliar os projetos que aparecem com o talk show, já que ama o que faz na Record. Se essa rotina será assim por muito tempo, porém, nem ele sabe dizer.

"Acho que só daqui a uns 30 anos eu vou poder falar que cheguei realmente onde eu queria. Acho que estou numa crescente, num momento bom da minha vida. Mas vai que de uma hora para outra as coisas mudam e eu falo que quero tirar um ano sabático ou fazer uma novela? Sei lá", confessa ele, que depois que se casou, no fim do ano passado, vive viajando. "Minha mulher está trabalhando no Rio, e eu moro em São Paulo. Então, a gente fica na ponte aérea, indo para lá e para cá o tempo todo. O dia do meu casamento foi o mais divertido da minha vida: teve show do É o Tchan e Molejo, a gente dançou até às 5h e eu bebi, pulei, dancei, mas não fiquei bêbado e lembro de tudo (risos)", diz.

*Correspondente em São Paulo

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