O narrador Cleber Machado, da Globo - Copa do Mundo 2018 - TV Globo/João Miguel Junior
O narrador Cleber Machado, da Globo - Copa do Mundo 2018TV Globo/João Miguel Junior
Por PAULO RICARDO MOREIRA

Rio - Copa do Mundo é sempre um momento especial na carreira de jornalistas esportivos. Que o digam os narradores Luis Roberto e Cleber Machado, duas das estrelas da equipe da Globo que transmite o Mundial da Rússia. Luis chega à sua sexta Copa na emissora (fez outras duas pelo Sistema Globo de Rádio), enquanto Cleber está na sua oitava. Juntos, eles vão narrar um total de 36 jogos, dos 64 da competição. "A Copa do Mundo é como se fosse a apresentação de gala do jornalista esportivo", resume Luis Roberto, de 57 anos.

Uma competição de futebol dessa magnitude exige também uma preparação especial. Para os narradores, assistir aos jogos das seleções e conhecer os jogadores são requisitos básicos. "Também gosto de estudar um pouco da história de quem está envolvido naquele enredo. É bacana ter alguma coisa para contar sobre os países", diz Cleber Machado, de 56 anos.

Luis Roberto acredita que, se o narrador não estiver devidamente preparado, o jogo se torna apenas mais um. "E, definitivamente, a Copa do Mundo não é só futebol. Então, é muita entrega, muito perfil, muita história. E também tem o lado emocional. É como se cada jogo fosse a realização do seu cotidiano", frisa ele, que também procura fazer exercícios físicos e ter uma boa alimentação.

O time de narradores da Globo conta também com Gustavo Villani, Rogério Corrêa e Rembram Jr, que vão transmitir outros jogos dos estúdios da Globo no Brasil. Já Galvão Bueno deve fazer nove partidas - todas as da seleção brasileira - incluindo a final.

Mas será que é diferente fazer um jogo do Brasil ou de outra seleção? "A responsabilidade é a mesma, é preciso estar focado no jogo e nas informações. Quando é Brasil, tem o componente emotivo, que é bacana, e permite que você seja locutor e torcedor ao mesmo tempo", explica Luis Roberto. "Todos os jogos da Copa do Mundo têm um clima diferente. Você vai fazer um jogo de Portugal, por exemplo, e o Cristiano Ronaldo, melhor jogador do mundo, está em campo. Vai fazer um jogo da Argentina e está lá o Messi. O clima no estádio nos jogos da Copa é diferente", destaca Cleber.

Rivalidade, só entre as seleções dentro de campo. Eles garantem que entre os narradores o clima é amistoso. "Não tenho rivalidade com ninguém. Nem com profissionais de outras emissoras. Tenho bons amigos em outros canais. Acredito que há espaço para todos", afirma Cléber.

Luis Roberto endossa as palavras do amigo. "Mesmo entre colegas de outras emissoras, temos uma relação bem bacana. Nesses eventos grandes, eu costumo ficar direto com o Cleber, dividimos carro nos deslocamentos, estamos sempre juntos. Nosso convívio é bem legal. Tenho muito respeito pela profissão, porque sei como ela é complicada", diz.

O narrador Luis Roberto, da Globo - Copa do Mundo 2018 - TV Globo/João Miguel Junior

CUIDADO COM A VOZ

Uma das preocupações constantes é com a voz, para que ela não falhe na hora do grito de gol. Luis tem a receita para driblar esse fantasma. "É preciso cuidar da saúde, do sono e beber muita água. Procuro tomar algumas medicações preventivas, como vitamina C, por exemplo. São cuidados normais, que outros profissionais, como cantores e professores, também têm", conta ele, que acrescenta outro cuidado especial: "Também é preciso enxergar bem o monitor, ter uma visão bacana do campo, para que a narração seja precisa".

Cleber não gosta nem de pensar em ficar sem voz, mas seu medo é outro. "O maior temor é errar alguma coisa durante a transmissão. Não é errar um nome, isso acontece. É cometer um erro grande, de informação, de interpretação de um lance", frisa. No dia a dia, ele não faz nada diferente para a saúde de suas cordas vocais. "Só fico mais esperto se percebo alguma mudança. Mas dou sorte, poucas vezes tive problema".

Cada narrador tem seu estilo. Uns gritam mais, outros menos. Uns são mais descritivos, outros menos. Para o paulista Luis Roberto, conhecido dos cariocas por transmitir os jogos do times do Rio , o narrador "é um contador de histórias". E decreta: "É quem dá tom e cores à história que está sendo contada. É o cara que decifra e dá vida às imagens, faz com que quem está em casa entenda o que está acontecendo no vídeo, quem são os atores e os personagens".

Mais identificado com futebol de São Paulo, o também paulista Cleber também se define assim: "Tento ser um jornalista que transmite futebol, um jornalista narrador. Aliás é o que sou. Um jornalista que narra. Então, minha intenção é sempre relatar com a maior precisão possível. Futebol tem sentimento, rivalidade, paixão de quem acompanha. Penso que o narrador deve viver esse clima, entrar nessa emoção e tentar passar para o espectador".

TURISMO

A Rússia não é uma novidade para Luis Roberto. Ele já esteve no país algumas vezes, a primeira há mais de 20 anos para narrar um amistoso da seleção brasileira contra os donos da casa, que terminou em 2 a 2. "A Rússia é um país encantador, tem uma história espetacular. Pouca gente fala inglês, mas certamente teremos uma Copa bem organizada. A maior diferença é a distância, com necessidade de grandes deslocamentos", diz.

Cleber visitou o país-sede do Mundial no ano passado. Foi a Moscou e São Petersburgo. " É um país muito grande, com as ruas limpas, prédios grandiosos e uma história muito rica. Como fomos para passear, não fui pensando em futebol. Mas achamos a Rússia muito parecida com o Brasil em alguns aspectos. Nessa época, experimentei alguns pratos russos", conta.

Durante a Copa, eles têm pouco tempo livre para visitar pontos turísticos ou até se aventurar um pouco mais na culinária russa. "Às vezes, dá tempo, em outras, não. Mas em grandes eventos, normalmente temos uns dois ou três dias de folga que nos permitem conhecer algo novo", acrescenta Luis.

O fuso da Rússia - seis horas à frente em relação ao horário de Brasília - não atrapalhou a adaptação dos narradores. "Não sofro muito com o fuso. A adaptação vem na boa. E se precisar dormir um pouco menos, vale a pena", garante Cleber. "É um problema físico, é normal demorar um pouco para se adaptar. Mas o fuso à frente com relação ao horário do Brasil ajuda. Depois de uma semana, normalmente, já está tudo bem", emenda Luis.

Com 40 anos de carreira e a oitava Copa na bagagem, Luis Roberto tem muitos momentos especiais no maior evento de futebol do mundo. Um deles foi a Copa do Mundo no Brasil. "Foi a realização de um sonho. No primeiro jogo que fiz, na Bahia, a Espanha, campeã do mundo, sofreu uma goleada da Holanda na Fonte Nova. Lembrava o tempo todo do meu pai, que já morreu e era criança na Copa de 50, dizendo que nunca mais veríamos uma Copa no Brasil", conta.

Já Cleber elege como um dos momentos marcantes a narração do último gol de Maradona em Copas, no Mundial dos Estados Unidos, em 1994. "Foi a primeira da minha carreira e a última do Maradona", lembra.

Na Rússia, os dois estão confiantes que o Brasil consiga o sonhado hexa. " É bom saber que o Neymar está chegando bem", destaca Luis Roberto, que inclui Alemanha, Espanha, França e Argentina entre as favoritas. "A seleção brasileira tem todas as chances de fazer uma bela Copa. O time se classificou bem, está jogando direito. Tem jogadores que são importantes no mundo do futebol e recuperou o respeito dos adversários e o carinho do torcedor", analisa Cleber, que também aponta Alemanha, Espanha, França e Argentina como candidatas ao título.

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