Rio - Após o sufoco que passou com a trama medieval 'Deus Salve o Rei', a Globo se prepara para a estreia de uma novela bem diferente das que já produziu na faixa das sete. O desafio, desta vez, não será voltar no tempo, mas mostrar que ele nunca parou, de um jeito inusitado.
Escrito por Mario Teixeira, o folhetim ambientado em São Paulo promete manter a comédia que tanto agrada ao público do horário. Os risos, porém, terão um gostinho ácido, já que o autor avisa que vai trazer conflitos de gerações, colocando falas que muitos gostariam de dizer, em personagens que jamais imaginaríamos convivendo atualmente.
Para ficar mais claro, a história começa em 1886, com a família de Dom Sabino (Edson Celulari) congelando, literalmente, ao perceber que o navio que usava para viajar se chocou com um iceberg. Muitos anos depois, em pleno 2018, esse imenso bloco de gelo aparece na praia do Guarujá, no litoral paulista, e para a surpresa de todos, várias pessoas do século passado saem vivas de lá.
"Esse choque de realidades vai alimentar a história inteira, e o olhar que esses congelados terão para o mundo contemporâneo tem a ver com o que muita gente pensa. O personagem do Edson (Celulari), por exemplo, sai do bloco achando que ainda tem escravos e, quando descobre que houve a abolição, não entende o motivo de um negro continuar carregando papelão nas ruas", explica Mario.
Para emplacar essa trama, o autor confessa que precisa convencer o público de que essa história é real e vai apostar suas fichas em personagens que têm tudo para agradar pessoas de todos os estilos. Sem Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa para duelar, ele adianta que a briga pelo mocinho, em sua novela, ficará entre as personagens de Juliana Paiva, do elenco dos congelados, e a de Cleo Pires, do núcleo contemporâneo.
"A Betina e o Samuel (Nicolas Prattes) namoram e têm uma empresa, fazem vários planos, pensam em casar. Mas tudo muda quando uma menina de outro século chega e rouba o coração do cara que era o parceiro fiel da Betina", afirma Cleo Pires, já em defesa de sua vilã, que fará de tudo para não perder o amado para a rival.
RESGATE DE VALORES
Um dos aspectos mais enaltecidos pelo elenco da trama é a discussão de valores que foram perdidos com o passar do tempo. A falta de confiança na palavra das pessoas será um dos pontos criticados por Dom Sabino (Edson Celulari), que reclamará de sempre precisar assinar papéis para comprovar coisas que nem ele entende.
Algumas conquistas feministas também serão colocadas em xeque quando o personagem de Nicolas Prattes decidir cortejar Marocas (Juliana Paiva). Criada em uma época diferente, a mocinha ficará encantada com a independência das mulheres no novo século, mas sentirá falta de uma postura mais delicada dos rapazes. Para namorar com o jovem, ela exigirá trocas de cartas e não admitirá que ele fique de bermuda em sua frente.
"Hoje em dia, com todo o feminismo, pequenas delicadezas estão sendo pulverizadas. E, neste sentido, a novela brinca com o que seria politicamente correto ou incorreto. É bom a gente lembrar que dá para fazer uma declaração de amor sem precisar assinar um compromisso de união estável, que não tem problema em abrir a porta de um carro para alguém ou dizer que a pessoa pode casar porque fez um bom café", defende Christiane Torloni, intérprete de Carmen, a mãe do moço disputado.
A proposta certamente desperta curiosidade, resta saber se convencerá o público e terá fôlego para ficar meses no ar. Considerando o último trabalho de Mario Teixeira na faixa das sete, com 'I Love Paraisópolis', a expectativa é boa. A torcida da emissora agora é para, assim como os personagens, o autor não ter ficado congelado.
*Correspondente em São Paulo
