Olivia Araújo, a Cesária de 'O Tempo Não Para' - Roberto Cardoso/Divulgação
Olivia Araújo, a Cesária de 'O Tempo Não Para'Roberto Cardoso/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Forrada de ouro e pedrarias da cabeça aos pés, feito uma rainha poderosa. É assim que surgirá Cesária, de visual sofisticado, em 'O Tempo Não Para', amanhã, na Globo. A ex-escrava de ganho escravos que eram autorizados pelos donos a fazer tarefas remuneradas para terceiros e dividir o lucro com os proprietários finalmente encontrou seu baú com joias de crioula adornos em ouro e prata usados para ostentar sua riqueza.

"Para mim é uma incógnita como ela vai reagir sabendo o valor que tem nas mãos e de que forma ela vai trabalhar com isso. A minha expectativa é que ela ficasse com esse dinheiro e construísse uma vida para ela e os que ela gosta. Mas Cesária é uma mulher que não sabe ler nem escrever. O conhecimento da vida é riquíssimo, mas como vai lidar com o dinheiro, aí que eu quero ver", destaca a intérprete Olivia Araújo, 45 anos.

GOLPISTAS

A atriz não descarta a possibilidade de sua personagem, agora rica, ser vítima de golpistas. "Acho que vão tentar. A minha esperança é que não consigam (risos). Como ela diz: 'O mundo de hoje é cheio de gente sem palavra'", diz.

Na história de Mario Teixeira, a mulher já contou que uma das coisas que logo compraria com o dinheiro é o "forno mágico" (microondas). Mas no capítulo de hoje, a nova rica paga a estadia do cavalo de Dom Sabino (Edson Celulari) na pensão de Coronela (Solange Couto). Em seguida, ela dá um trato no visual de Menelau (David Junior). "Ela diz que quer colocar o Menelau mais alinhado do que uma noiva", diverte-se a atriz.

O fato de Cesária ter encontrado suas joias, segundo Olivia, abre um novo arco de possibilidades. "Aí que começa a história dela. Tem cenas em que ela tenta pegar um carro de aluguel, e ele passa por ela. A Cesária o alcança e fala que sabe que ele a viu, passou por ela e não parou, mas que o dinheiro dela ele vai aceitar".

VISUAL

Sobre o visual novo da personagem, Olivia diz que o figurino é atual, mas sem abrir mão da história da personagem. "Ela não se perde nesse figurino novo. Não vem uma mulher de calça jeans e tênis. Ela traz na roupa atual toda sua ancestralidade presente, que é um trabalho bonito tanto da caracterização quanto da figurinista e que me ajuda a manter a personagem. Não sei como seria a Cesária de camiseta e calça", diverte-se.

Ao longo dos capítulos, Cesária não se cansa de contar que as suas joias são frutos do suor do rosto dela vendendo cocada em tabuleiro quando era escrava. "Isso não é repetição. É uma maneira de falar com orgulho da história dela. Ela conta que, aos 5 anos, foi separada da mãe em um navio negreiro. E que assim mesmo, a Cesária foi à luta. Em nenhum momento se coloca no lugar de coitada. E agora está talvez mais rica do que o próprio Dom Sabino", provoca Olivia.

ESCRAVIDÃO

Para a atriz, abordar o tema escravidão e os seus reflexos é fundamental em tempos em que o racismo ainda é um problema latente. "Nenhum judeu conta feliz sobre o holocausto para seus descendentes. Mas conta, faz filmes, livros, documentários, monumentos para que as novas gerações reajam a qualquer ideia de reviver esse horror. E que valorizem a sua história e os seus. Com a escravidão é o mesmo. Porque, senão, as pessoas podem achar que nem foi tão grave assim. Ou interpretar de maneira errada o que de fato aconteceu", defende.

RACISMO

Você já foi vítima de racismo? "Sim, acredito que todo negro já sofreu com preconceito. Na verdade, é uma situação diária e que a gente aprende de forma muito dura a passar, chegando muitas vezes a ignorá-la para seguir em frente", frisa.

ATUAR

Segundo Olivia, o ator, seja negro ou branco, ou de qualquer outra etnia, tem que trabalhar muito porque o apoio à cultura, no geral, é pequeno. "No nosso caso, negros, especificamente, precisamos que os autores nos pense inseridos na sociedade em que vivemos. Como atriz, posso dar vida a um objeto inanimado, uma vassoura, um relógio. Posso ser qualquer pessoa de qualquer nível social. Posso ser médica e doméstica, assim como posso ser traficante e psicopata. A nossa profissão é atuar", defende.

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