Uma entrevista fictícia gravada por Elis (Andrea Horta), a última antes de sua morte, é o fio condutor da minissérie - Globo/Divulgação
Uma entrevista fictícia gravada por Elis (Andrea Horta), a última antes de sua morte, é o fio condutor da minissérieGlobo/Divulgação
Por Gabriel Sobreira

Rio - Andréia Horta foi sincera quando atendeu a chamada do diretor Hugo Prata (ele é um dos que assinam o roteiro para TV) com o convite para ela voltar a interpretar Elis Regina em algumas cenas para 'Elis - Viver é Melhor que Sonhar', a minissérie que a Globo exibe a partir de amanhã, às 22h15. "Eu falei: 'Não, essa ideia não é boa. Nada a ver. Três anos depois (risos), não vai ter como'", lembra ela, às gargalhadas.

DE NOVO?

De fato, a atriz achou que a missão já tinha sido concluída. Afinal de contas, na época (2018), três anos haviam se passado desde que o filme fora rodado. E, segundo ela, não era simplesmente voltar. Tinha sala de ensaio novamente e todo um trabalho a desenvolver. "A primeira impressão foi: 'Não, já fizemos. Que ideia! (risos)'. Depois de pensar um pouco, entendi que não, que tinha mesmo muita coisa (para contar). Mudei de ideia rapidinho", jura, aos risos.

Elis (Andreia Horta) - Globo/Divulgação

NOVIDADES

No ar em quatro episódios consecutivos, o projeto da Globo se diferencia do filme 'Elis', lançado em 2016. O fio condutor da minissérie é uma entrevista fictícia gravada por Elis Regina (Andréia Horta), criada a partir de declarações reais da cantora, construindo a dramaturgia. "A ideia foi construir, a partir do filme do Hugo Prata, este docudrama, que fala da vida de uma das maiores cantoras do Brasil, da realidade da época, e também ter o testemunho de pessoas que conviveram com Elis na sua intimidade. Tudo para contar uma história intensa e emocionante, de uma artista que deixou um legado incrível", conta o roteirista George Moura.

"A gente fala (na minissérie) que, quando Elis estava chegando aqui, estava tendo golpe militar, e a gente explica rapidamente o que é o golpe militar. Ela chegou logo após o ápice da bossa nova, nossa maior expressão artística, acredito. A gente explica o que estava acontecendo, quem era Nara (Leão), quem era Tom (Jobim), as diferenças entre Elis e a bossa. E no mundo também, nos Estados Unidos, Harvey Milk fazendo passeatas pelo movimento gay, os Panteras Negras incendiando os EUA", explica Prata, que vai além: "Tem uma cena que ela (Andréia) entra no meio da sequência que já tinha filmado. A cena começa, a Andreia entra e continua a cena com o mesmo rosto, mesma performance".

TOM E VINÍCIUS

George Moura foi o responsável por escrever cenas novas exclusivas para a minissérie. Um dos exemplos é um teste que Elis (Andréia) fez diante de Tom Jobim, vivido por Sergio Guizé, e Vinicius de Moraes, interpretado por Thelmo Fernandes. "Um conflito houve entre eles ali no início da carreira", entrega Prata. E também tem um encontro dela com Rita Lee (Mel Lisboa). Em 1976, a Pimentinha foi visitar Rita na prisão, e elas nem se conheciam.

"E a justificativa para fazer essa visita ela dá ao marido. Acho que é uma frase que diz muito quem é a Elis: 'Uma pessoa que escreve essas coisas que essa menina escreve, não pode ficar presa'. É dessa natureza, a alma dessa mulher. É muito bom quando temos a possibilidade de contar a história de uma pessoa dessa magnitude. O país está muito precisado de pessoas dessa magnitude. Fico tão feliz e emocionado de poder estar nesse bonde", comemora Moura.

RITA LEE

Mel Lisboa, que vive Rita Lee na minissérie e é amiga de Andréia Horta, diz que também passou por um processo parecido ao da intérprete de Elis. Por quase três anos, Mel interpretou Rita nos palcos. "E, de repente, muito tempo depois, o Hugo (Prata, diretor e roteirista) me chama para fazer novamente a Rita", lembra.

Mas, no caso de Mel, reviver Rita tem uma bossa diferente. "A Rita da minha peça era solar, era um musical, então tinha toda uma coisa pra cima, mesmo nos momentos mais tristes da peça. Nesse caso, da TV, ele (Prata) me convidou para um momento em que a Rita tinha sido presa em 1976, e a Elis vai lá querendo ajudar e briga por ela. A Rita está em uma situação muito frágil, acuada, com medo. Foi uma experiência supernova fazer a mesma personagem em duas situações completamente diferentes", vibra.

MIELE

Assim como no filme, Lúcio Mauro Filho completa o elenco dando vida a Miele. Lucinho lembra que, na época, para conquistar a vaga no longa, precisou fazer um teste. "O Hugo (Prata, diretor e roteirista) foi quase obrigado a me chamar por causa da minha amizade com ele (Miele). As pessoas começaram a bater no ouvido dele: 'Tem que chamar o Lucinho'", provoca, o ator, aos risos. "Não é verdade. Ele fez humildemente um teste e brilhou", enaltece Prata.

Para Lúcio Mauro, o filme 'Elis' tem um capítulo importante na vida dele por várias razões, entre elas o afeto entre o elenco. "E também é porque eu já estava ali, quarentão, e continuava naquela estante do Tuco (personagem de 'A Grande Família', da Globo). Por ter passado 14 anos fazendo um 'adolescente', o mercado, os diretores, os produtores de elenco, eles não olhavam para mim e falavam: 'Ah, um homem de 40 anos'. Eu carregava aquela coisa da longevidade daquele meu último projeto ('A Grande Família'). 'Elis' e o Miele foram como um despertar nesse sentido. As pessoas foram assistir e falaram: 'Ih, caceta, dá para chamar o Lucinho para fazer um adulto (risos)'. Depois, fui fazer até um avô. Não precisavam exagerar, mas tudo bem", brinca, aos risos.

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