Fernanda Montenegro e Fernanda Torres com o bode - João Faissal / TV Globo
Fernanda Montenegro e Fernanda Torres com o bodeJoão Faissal / TV Globo
Por TÁBATA UCHÔA
Rio - Depois do sucesso de "Amor e Sorte", Fernanda Montenegro e Fernanda Torres voltam a interpretar as personagens Gilda e Lúcia no especial de Natal da Globo, que vai ao ar no dia 25 de dezembro. "Nós já tínhamos feito aquele primeiro programa (Amor e Sorte) em um sentido bem impressionista. Era uma família fechada lá em Petrópolis: os netos, os pais, a avó e um bode. E saiu direito. As pessoas gostaram", diz Fernanda Montenegro, relembrando que "Amor e Sorte" foi gravado apenas em família.
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"Então, passamos pro nosso especial agora, que veio mais estruturado. Espero que gostem, que amem, que curtam a gente. A gente quer amor. Mas, também, se vier rejeição, a gente aceita com muita dignidade", brinca a veterana de 91 anos sobre a expectativa para a estreia.
No spin-off "Gilda, Lúcia e o Bode", as protagonistas estão de volta ao Rio de Janeiro e têm que enfrentar dificuldades financeiras causadas pela pandemia de coronavírus. Fernanda Torres chegou a ficar apreensiva de abordar vacina e covid-19 em um especial de Natal, mas foi convencida por Jorge Furtado, que assina o roteiro ao lado da própria Fernanda e de Antônio Prata.
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"Eu pensava: 'meu Deus, é um especial que vai passar no dia de Natal. Vamos ficar discutindo a covid-19?'. A gente está vivendo em um mundo em que tudo é covid-19 e, ao mesmo tempo, a gente não aguenta mais falar da covid. Aí o Jorge Furtado falou: 'Não, o assunto é dinheiro. Vamos falar de dinheiro'. Essa é a questão do próximo ano. Com vacina ou sem vacina, a questão é de sobrevivência. Meu personagem, a Lúcia, perdeu o emprego na leva da covid. Está morando com a Gilda, na casa da mãe...", revela Fernanda Torres.
O bode
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Para as "Fernandas", gravar com um bode não foi problema. Elas, inclusive, se divertiram com o animalzinho. "O bode é maravilhoso. Quando ele entra, ele acaba com a cena. É o melhor ator. Nos ensaios, ele era instável. Mas na hora da ação, o danadinho ficava tranquilo. Senhor da cena. Olhava, virava, subia na árvore. E a gente: 'danado, roubou a minha cena'", diz Fernanda Montenegro, aos risos. 
"Ele (o bode) foi apelidado de Zequinha Montenegro, de tanto que ele arrebentou. O Zequinha é um fenômeno", completa Fernanda Torres.
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Mais temporadas?
Questionada sobre a possibilidade de "Gilda e Lúcia" entrar para a grade fixa da Globo, Fernanda Torres descarta a ideia. "Eu acho que um seriado inteiro não. Não me vejo fazendo 24 capítulos ou até mesmo 10 capítulos de 'Gilda e Lúcia'. No máximo, é algo para se fazer em datas comemorativas: a Páscoa, o Dia das Mães. Em momentos cívicos e familiares, no máximo. Mas não acho que é uma coisa pra entrar na grade".
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"Eu assino embaixo. Eu acho que de vez em quando a gente pode aparecer, sim. Mas não em um trabalho contínuo", concorda Fernanda Montenegro. "Talvez a gente vire um outro tipo de especial do Roberto Carlos", brinca Torres. "Ah, não, mas o Roberto é insubstituível. Vamos devagar", contemporiza Fernanda Montenegro.
Mãe e filha no set
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Profissionais ao máximo, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres não deixam sua relação de parentesco influenciar o trabalho. "É muito natural para a gente trabalhar junto. Tem dado certo. Quando a gente se junta, a gente tem muita liberdade, muita intimidade. Uma fala para a outra o que pensa. A gente tem uma conversa profissional, que até é emocionante por isso. Mas a gente não fica assim, segurando a mão da outra com o olho cheio d'água e dizendo: 'mãe, que emoção estar aqui nesse set com você'. Embora seja muito emocionante nós duas estarmos ali no set com todo mundo", diz Fernanda Torres.
"Não tem da nossa parte, na hora do trabalho, a lembrança sequer que somos mãe e filha. Nós temos um personagem para dar conta, a ação dramática com outro ator... No set, é outro esquema porque aquele personagem não sou eu. Eu sou uma porta-voz. Não tem essa maternidade ou essa filiação romantizada. É pão, pão, queijo, queijo. Tem que dar conta do que está solicitado na escrita dramática".
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Dificuldades da pandemia
Em um ano tão difícil como 2020, gravar "Gilda, Lúcia e o Bode" acabou sendo um respiro para as atrizes. "Eu cansei de ter esperança. Estou entrando em uma fase dessa pandemia que eu perdi o fuso horário. Eu já estou tão cansada, que eu começo a dormir às 20h, acordo às 4h da manhã. Estou vivendo uma realidade paralela. Antes eu tinha disciplina, agora eu não tenho mais nada. Eu não aguento mais", lamenta Fernanda Torres.
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"Eu tenho paciência. Porque nessa idade... Já que cheguei a isso, quase 100 anos de vida, fico me perguntando: 'será que vou ter tempo de rever uma certa organização, uma certa paz, uma certa vivência realizada?'. Temos que acreditar. É isso. Sempre existe esperança", analisa Fernanda Montenegro.
"Nós tivemos uma aleluia interior. Estávamos já há uns três para quatro meses fechados lá em cima, em Petrópolis. E, de repente, tivemos uma terapia ocupacional. Somos todos desse campo de ação. Somos atores, diretores... Isso baixou em nós lá em cima. Esse jogo nos ocupou. Deixamos de pensar que não tem saída, que ainda vai levar muito tempo pra ter vacina. Me estendi um pouco porque a pergunta me emociona. (Relembrar) A hora que começamos a fazer (o especial de Natal), como foi bom, como nos tirou da agonia...", finaliza a atriz.