Glória Maria e Sandra Annenberg falam sobre as dificuldades de fazer a 'Retrospectiva 2020'
Programa vai ao ar na noite desta terça-feira na Globo. Pela primeira vez, a atração terá uma versão exclusiva com cinco episódios especiais no Globoplay
Rio - Elencar os principais acontecimentos de um ano que teve pandemia, crises políticas, queimadas, entre tantas outras coisas, não é uma tarefa fácil. Mas é isso que Sandra Annenberg e Glória Maria vão fazer na "Retrospectiva 2020", que vai ao ar na Globo na noite desta terça-feira.
São tantos acontecimentos que, pela primeira vez, a retrospectiva terá uma versão exclusiva no Globoplay. Na plataforma, o programa terá cinco episódios – “O Ano do Vírus”, “O Ano da Perplexidade”, “O Ano da Diversidade”, “O Ano do Fogo” e “O Ano da Incerteza” – com participações dos repórteres Edney Silvestre, Isabela Assumpção e Renato Machado.
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"Esse ano pela primeira vez a gente vai fazer dois tipos de retrospectiva. Um tipo é aquele que todos estão acostumados do final de ano da Globo. A retrospectiva normal, que a gente sempre faz. Vamos falar desse ano impossível, desse ano vil, desse ano que ninguém imaginou. Vai ter também a retrospectiva do Globoplay, que vai ser um pouquinho diferente. A gente dividiu por partes: diversidade, violência, tudo mais. O que a gente vai mostrar nessa retrospectiva é a perplexidade que foi esse ano", explica Glória Maria.
"São retrospectivas de um ano que não houve, um ano que não começou ou jamais terminará. É um ano que marca pra sempre a história da humanidade. A gente dividiu por temas, mas tudo se intercala. O vírus é esse fio condutor. A gente tem 'o ano do vírus', 'o ano da perplexidade', 'o ano da diversidade', 'o ano do fogo', que fala do meio ambiente e todos os incêndios que nós acompanhamos, e 'o ano da incerteza', que eu acho que se existe uma certeza é de que ninguém tem certeza de absolutamente nada", analisa Sandra Annenberg.
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Recuperação
Apesar de ter sido um ano difícil para todos, 2020 também trouxe bons momentos para Glória Maria. Em novembro de 2019, a jornalista passou por uma cirurgia para remoção de um tumor no cérebro. Este ano, para ela, foi o ano da recuperação.
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"Esse ano é controverso. Por um lado, ele foi terrível por conta da pandemia. Mas para mim, por outro lado, pessoalmente, ele foi maravilhoso. Foi o ano da minha recuperação. Está fazendo exatamente um ano que eu fiz a cirurgia para tirar o tumor do meu cérebro, e estou feliz, inteira, trabalhando, recuperada. Foi um milagre, mas estou aqui. Esse é um ano de perplexidade. Deixou a gente realmente sem saber o que fazer por conta do vírus. Mas, por ter tudo parado, eu tive tempo para me recuperar numa boa. Então, foi um ano pra mim, na verdade, terrível e ao mesmo tempo maravilhoso", explica Glória Maria.
Para Sandra, o ano foi de reflexão. "Este foi um ano que nos fez parar muito para pensar. Primeiro porque nós fomos obrigados a parar. O mundo parou. Foi um ano de reflexão diária e aquela sensação de 'vamos viver um dia de cada vez'. A gente não sabe sobre o dia de amanhã. Por mais cuidados que a gente tome, por mais atenção que a gente tenha, todo mundo está sujeito a pegar o vírus em qualquer ocasião. Foi um ano de muito medo. De entender o que é importante. Entender as prioridades: o que não dá para deixar de fazer, o que você pode deixar para outro dia ou que não faz mais a menor diferença. As coisas se realocaram, tomaram outras dimensões".
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Peso
Com tantos acontecimentos marcantes e pendendo para o lado negativo, a retrospectiva tende a ser um pouco mais pesada. No entanto, para Glória, é a experiência de cada pessoa que vai deixar os fatos mais leves ou mais carregados.
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"Tornar os acontecimentos e informações menos pesadas é uma tarefa difícil, na verdade quase impossível. Esse foi um ano que fez a gente pensar o que o ser humano está fazendo dele mesmo. A gente viu tanta coisa, tanta violência de todos lados, de todas as maneiras, tanto em relação a natureza quanto em relação ao ser humano, que a gente tornar isso menos pesado talvez seja tão difícil quanto a descoberta da vacina. Mas a gente tenta. Na verdade, ver isso de uma maneira mais leve vai depender de cada um, da experiência de cada um dentro desse ano. Não adianta querer amenizar ou pesar, o que cada um tem dentro de si é que vai determinar a maneira de olhar para a retrospectiva e para esse ano", reflete.
Sandra acrescenta que "não dá para ser algo leve". "A gente vai conseguir ter uma dimensão do que todo mundo viveu. Não dá pra ser algo leve. Não é. É um volume de informação muito grande. Mas o mais importante disso tudo é rever a linha do tempo e pensar 'o que eu vou aprender com isso e como eu posso me transformar para que isso não se repita?'. Precisamos aprender com nossos erros. Vamos expor (na retrospectiva) não só os erros, também os acertos".
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Conexão
Dentre todos os temas que serão abordados, as apresentadoras tiveram uma maior conexão com alguns deles. Para Glória Maria, os movimentos raciais e a eleição de Kamala Harris foram o ponto alto do ano.
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"Várias coisas me sensibilizaram, como por exemplo os movimentos raciais. Esses movimentos raciais fortes que aconteceram esse ano me fizeram feliz porque deu pra entender que isso é uma coisa que vai acontecer sempre. A gente vai estar sempre vivendo esses momentos. Outra coisa foi a eleição da Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos. Foi uma coisa que eu acreditava que eu não conseguiria ver durante a minha geração. Achava que era para a geração das minhas filhas. Consegui ver (a eleição de) uma mulher, que provavelmente ainda vai ser a presidente dos Estados Unidos. Me deu aquela sensação do movimento da vida. Essas coisas me mobilizaram e sensibilizaram pessoalmente", explica.
Mas a jornalista também lembra fatos tristes que a sensibilizaram. "E uma outra coisa, que realmente foi a mais difícil, foi ver a quantidade de crianças pequenas mortas por balas perdidas. Isso foi uma característica quase que exclusiva do Rio de Janeiro. Foi uma coisa que ao longo da minha vida profissional, em mais de 40 anos de jornalismo, eu nunca tinha visto isso numa quantidade tão grande. Crianças mortas por nada. Talvez tenha sido uma das coisas mais tristes desse ano. Mundialmente, você não vê esse tipo de coisa nem nos países mais violentos para crianças. Tantas crianças mortas por balas perdidas. Foram esses três fatos que mais me atingiram e mais me fizeram sofrer e pensar".
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Sandra Annenberg concorda com a colega e ainda cita outros fatos. "Eu citaria as mesmas coisas que a Glória falou. Mas vou citar outras coisas também só para variar os temas, porque todos são muito fortes esse ano. A gente encarar no meio de uma pandemia governos negacionistas é inacreditável. Está aí. As vidas estão sendo perdidas. No Brasil, 177 mil mortos. Nos Estados Unidos, os números são 283 mil mortos. O mundo está vendo milhões de contaminados. A gente vai negar o que exatamente? Isso foi algo muito forte e difícil de lidar. A ciência não pode ser politizada", inicia.
"Outra coisa que pegou demais também foi ver o nosso país queimando na Amazônia, no Pantanal. O nosso meio ambiente sendo jogado fora. Não foi um ano nada fácil para ninguém", completa.
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"Assistir ao discurso da Kamala Harris foi um dos momentos mais emocionantes. É uma mulher, é uma mulher negra, é uma mulher asiática, é uma mulher no segundo papel mais importante do mundo. A gente está chegando lá. A gente finalmente se ombreou com quem decide", finaliza.
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