Cena do documentário ’Encarcerados’Fernando Grostein Andrade

Rio - O descaso com a população carcerária no Brasil é um tema que, de forma recorrente, vem sendo debatido na sociedade. A superlotação dos presídios, o déficit no fornecimento de suprimentos e o desrespeito aos direitos básicos são uma constante já conhecida pelos críticos. Mas além da população carcerária, um outro grupo de pessoas sofre com uma rotina obscura dentro dos presídios: os carcereiros. Com o trabalho conhecido mais a fundo após a série 'Carcereiros', na Globo, esses profissionais também são destaque do documentário 'Encarcerados', que estreia nesta quinta-feira nos cinemas do país.


Assim como a série da Globo, o filme também é baseado no filme 'Carcereiros' de Dráuzio Varella, que revela as dificuldades de convivência nos presídios através dos olhos dos responsáveis por manter a ordem no local. "Já tive livros adaptados para o cinema e para o teatro, mas esse documentário tem uma força especial, que é a força da realidade. Ele mostra às pessoas o ambiente, não no mundo da ficção, mas no dia a dia, no cotidiano, e exibe esses homens que têm uma vida muito especial, muito diferente desta que nós levamos", explica o médico.

Atrás das câmeras

Paralelo ao trabalho de jornalista e apresentador, Pedro Bial é responsável pela direção do projeto ao lado de Claudia Calabi e Fernando Grostein Andrade. O trio foi responsável por conduzir as entrevistas e filmar as cenas nas oito penitenciárias de São Paulo. "São diversas mensagens ou conclusões e reflexões que podem ser desencadeadas na cabeça de quem assiste ao documentário e se debruça sobre o tema. Se for para sintetizar, a mensagem é mostrar como a sociedade revela os valores sobre os quais está sentada, mostrar como ela trata aqueles que foram punidos, castigados pelo seu comportamento antissocial, e estão presos. Quer dizer, digamos que o documentário revela o nosso grau civilizatório", adianta Pedro Bial, que também vê no filme a chance de ressignificar o trabalho dos carcereiros.

"Eles são daquele tipo de profissional que se sacrifica pela nossa boa consciência, pelo nosso conforto social e são simplesmente ignorados, são invisíveis, são tão prisioneiros quanto aqueles que eles guardam. Eles são julgados de maneira preconceituosa, apressada e desprovida de base por pessoas que estão no conforto de seus lares, que emitem juízos acerca do comportamento deles. Os carcereiros são gente de grande dedicação a sua profissão, que praticam o idealismo diariamente e concretamente em condições muito difíceis de trabalho. Os carcereiros, pra mim, são uma categoria crucial para o equilíbrio da sociedade, e é comovente a maneira honesta da sua maioria absoluta, além da dedicação ao trabalho", defende o jornalista.

Além de tornar visível e reconhecer o trabalho dos carcereiros, Bial acredita que o documentário ainda ajuda a humanizar esses espaços que são altamente discriminados pela sociedade. "Quando você se aproxima de lugares que evita ou constrói cenários e personagens em sua imaginação, aquele desconhecido que costuma ser preenchido com a criação e fabricação de monstros e cenários monstruosos, acabam virando pessoas lidando com pessoas. Existe uma humanidade que cada um carrega, e o documentário vem desmontar defesas e mesmo estratégias inconscientes de cada um. Eu acho que sim, havia uma intenção de aproximar, trazer aqueles que estão fora do nosso olhar e mostrar: 'olha, eles são alguém como você'", argumenta o apresentador.