Marcos Uchôa em Nova Yorkfotos Divulgação / TV Globo

Rio - O maior ataque terrorista de todos os tempos completa 20 anos neste sábado, dia 11 de setembro. Há duas décadas, acontecia o atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, que vitimou quase três mil pessoas e feriu outras nove mil. Para mostrar os reflexos desse ataque nos Estados Unidos e no mundo, o Globoplay lança hoje o documentário original "Retratos de uma Guerra Sem Fim", que estará disponível inclusive para não assinantes da plataforma de streaming. Já o canal GloboNews exibe o primeiro episódio neste domingo, dia 12, às 23h.
Em quatro episódios, Marcos Uchôa passa por países como Paquistão, Iraque, Irã, Síria e Líbano para retratar os cenários no mundo antes e depois dos atentados e também as guerras que se originaram após o ato terrorista. "Não seria possível relatar, em quatro episódios, toda a complexidade de cada guerra, de cada conflito, de cada país. Ainda mais de 20 anos dessa nossa história recente. A série é um relato de crises e guerras que se sucedem. E principalmente é a tentativa de mostrar o lado de pessoas que sofreram e ainda sofrem as consequências de um cotidiano brutal", explica. 
"Tem imagens dramáticas, exóticas, tocantes; e mostra também as dificuldades de se trabalhar nessas situações. Nenhum país se resume aos seus problemas mais graves e é importante sair do estereótipo e se imaginar ali, como uma pessoa de uma família que só quer viver e ser feliz", completa. 
A série conta como começaram as ameaças do grupo extremista Talibã aos Estados Unidos, além de relembrar detalhes do dia do ataque e o início da Primavera Árabe, que culminou em uma série de revoltas populares em mais de 10 países no Oriente Médio. Uchôa explica que a retirada das tropas americanas do Afeganistão e a volta do Talibã ao país vai prejudicar muito a situação das mulheres, além de trazer mudanças significativas para cidades como Cabul e Herat. 
"Para quem mora no interior, no meio rural, que sempre foi muito conservador e que já convivia há anos com um certo domínio do Talibã, as mudanças não serão muito grandes. Mas para quem mora nas cidades maiores, como Cabul ou Herat, as mudanças podem ser enormes. O Afeganistão vai empobrecer. Todo o dinheiro que vinha de países ocidentais, que no ano passado representava quase a metade do orçamento do governo, acabou. Por outro lado, acaba também a enorme corrupção que fazia o governo anterior ser tão impopular. Não foi por acaso que ninguém pegou armas para defendê-lo", diz. 
"Para as mulheres vai piorar muito. Hoje o governo do Talibã se apresenta como mais moderado. Tem interesse em passar essa imagem. Mas e quando a mídia já não estiver com os olhos voltados para o país?", pondera.
Grandes coberturas
Marcos Uchôa estreou na Globo em 1987 e, desde então, já cobriu os mais variados assuntos, como os Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, desastres naturais e guerras. Correspondente internacional em Londres, na Inglaterra, era lá que Uchôa estava quando aconteceu o ataque às Torres Gêmeas. 
"Eu estava em Nova York até o dia 9 de setembro e cheguei em Londres no dia 10. Na manhã seguinte, aconteceram os atentados. Vi tudo ao vivo do escritório de Londres junto com colegas e sabia que o impacto seria enorme para a política internacional. A série fala exatamente disso", conta o repórter, que já passou por situações difíceis na cobertura de guerra. 
"Em Cabul, estava passando de carro na hora que começou um ataque do Talibã à Embaixada Americana. Foram várias explosões, o pânico das pessoas tentando fugir. Foi assustador. Em Gaza, em Tripoli e em Bagdá passei por momentos bem tensos, mas felizmente nunca senti que escapei por um triz. A gente aprende umas coisinhas com a experiência", afirma. 
"De uma maneira geral, desconfie de muito silêncio numa cidade. Em geral é sinal do medo de quem mora lá e vê algo ameaçador se aproximando. Nunca se afaste demais do seu carro, estacione na direção da fuga", aconselha Uchôa, que ressalta a necessidade de ter empatia pelos cidadãos que vivem nesses territórios conflituosos. 
"O que nos faz ser boas pessoas é a capacidade de empatia, de sentir pena do outro, mesmo de um desconhecido. Em guerras ou tragédias como tsunamis, o mais difícil é fazer coberturas em hospitais. É duro demais, traumático. São imagens que você nunca mais vai esquecer. E se abalar com coisas desse tipo é um bom sinal", afirma o repórter, que nunca havia "sonhado" em ser correspondente internacional ou em cobrir guerras. 
"Eu nunca pensei em cobrir guerras. Aconteceu. O drama da guerra na vida das pessoas revela histórias tão importantes para o mundo, que vale a pena o risco. Por temperamento, eu funciono bem sob pressão. Sou calmo, me preocupo com os outros, trato bem as pessoas locais e elas sentem isso e me ajudam no meu trabalho, até me protegem. Já são oito guerras. Sou um brasileiro indo nos lugares, falando com as pessoas e contando uma história com o nosso olhar. Jornalismo é isso".