Allan Souza LimaDivulgação/Robson Maia

Rio - Em setembro deste ano, os filmes "O Menino que Matou meus Pais" e "A Menina que Matou os Pais" chegaram ao Amazon Prime Video e colocaram, novamente, os holofotes sobre o assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen. Após o sucesso dos longas, o ator Allan Souza Lima conversou com o DIA sobre a recepção do público com a produção, em que interpreta Cristian Cravinhos, homem que ajudou o irmão Daniel (Leonardo Bittencourt) na execução do crime brutal, a pedido de Suzane von Richthofen (Carla Diaz).
Filmados em 2019, os dois filmes eram previstos para estrear em abril de 2020, mas os planos foram adiados por causa da pandemia do coronavírus. Para o ator, a espera aumentou a expectativa, mas esta não é a única explicação para o sucesso dos longas: "O público, querendo ou não, criticando ou falando bem, gosta de ver a desgraça alheia. Isso é inerente ao ser humano. Por que jornais de crimes e reality show como 'Big Brother Brasil' dão ibope'? Porque a galera gosta de ver a desgraça do próximo. E um projeto desse cai nesse lugar, de um crime tão bárbaro."
Para abordar um caso tão chocante, os roteiristas Ilana Casoy e Raphael Montes dividiram a história em dois filmes que mostram versões diferentes do crime cometido por Suzane, Daniel e Cristian. Em "O Menino que Matou meus Pais", a filha de Manfred e Marísia conta seu lado da história, enquanto Daniel revela sua perspectiva em "A Menina que Matou os Pais". Apesar do toque realista que os longas trazem, Allan destaca que não houve nenhum contato com os criminosos e toda a produção se baseia nos autos do processo.
Afetado pelo personagem
O recifense de 35 anos contou que dar vida a Cristian foi um grande desafio pela falta de liberdade de criação, considerando que se trata de um personagem real. "Pela primeira vez em um trabalho, estou representando uma pessoa que existe, então a parte mais difícil foi desenvolver esse trabalho técnico. Eu tinha que entender como ele falava, a postura dele, a forma como se comunicava", explica Allan, que ainda precisou emagrecer oito quilos para viver o homem condenado, em 2006, a 38 anos e 6 meses de reclusão.
"Durante o processo foi um desgaste emocional muito grande. Optei por viver dentro dessa imersão contínua, sem me desligar do personagem. É um tipo de processo meu, que eu abraço muito, apesar do sofrimento durante o período, quando exige esse lugar emocional", relata. "Acho que a pergunta clara, pra mim, desde o início, que me levou a desenvolver esse trabalho, foi: 'o que leva o ser humano desde o momento em que ele pensa [no crime], até a execução final do ato?'. Essa pergunta foi contínua durante todo esse processo."
Por um lado, o ator celebra o projeto como um "divisor de águas" em sua carreira profissional, servindo como ponte para outras oportunidades. Porém, Allan revela que precisou buscar ajuda psicológica após o fim das gravações, que duraram 33 dias seguidos. "Me lembro que, quando terminei as filmagens, algumas semanas depois, comecei a ter certas crises de ansiedade, por causa do desgaste emocional e desse meu processo", confessa o artista, que acredita que todos deveriam fazer terapia.
"Quando passa esse processo a nossa cabeça vai se assentando, entendendo tudo que a gente viveu e, claro, precisei fazer terapia. Sempre falo que a criação de um personagem, independentemente do que ele seja, não vai modificar a sua índole, sua essência. Ele vai te transformar, por mais positivo ou negativo que a história seja, sempre temos que tirar algo de bom dela. Então, precisei estar nesse lugar terapêutico pra entender tudo", afirma.
Pandemia e planos para o futuro
Além do filmes sobre o caso Richthofen, Allan Souza Lima viu outros projetos serem interrompidos ou adiados por causa da pandemia do coronavírus. No início deste período, o ator conta que se isolou em uma fazenda e chegou a passar muitos dias acampado no meio do mato. Para ele, o contato mais próximo com a natureza serviu para dar o pontapé inicial em uma transformação: "Me redescobri e estou começando a entender essa nova potência como ser humano e como artista", declara.
Com o avanço da vacinação no Brasil e no mundo, o ator começou a retomar alguns trabalhos como o longa "A Salamandra", que estreou no Festival Internacional de Cinema de Veneza, em setembro. Allan, que também é diretor e roteirista, adianta que se prepara para atuar por trás das câmeras em um projeto que escreveu há oito anos.
"Por acaso, retrata exatamente o que estamos vivendo, uma eclosão de uma terceira guerra mundial e o que restou da humanidade. Esse é meu próximo longa e estou começando a buscar o entendimento de como financiar, que é o mais difícil", analisa.
*Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa.