Gilberto Gil fala sobre sua nomeação para a Academia Brasileira de LetrasReprodução

Rio - O cantor Gilberto Gil, de 79 anos, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras na última quinta-feira. Em entrevista ao "Fantástico", o artista falou sobre o que o título muda em sua vida, sobre como encara a fé, como está sendo a retomada de shows e seu relacionamento com filhos e netos. "Evidentemente que lá (na ABL) o convívio, seguramente, vai acrescentar coisas, transformar coisas, até deletar coisas. Pra mim chegar lá, estar indo para lá, não está mudando muita coisa. Não deve mudar... a não ser esse sentimento profundo de gratidão à vida por me proporcionar coisas desse tipo ao longo da vida", disse Gil.
A nomeação do cantor aconteceu poucos dias antes do dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. "Quando a Academia me acolhe, acolhe aquele que ela sabe quem é. O apreço que eu tenho pela formação negro-mestiça da sociedade brasileira. Os problemas relativos a isso e a necessidade de posicionamento em relação a esses problemas, que tem sido uma constante na minha vida", afirmou o cantor. 
"É também expectativa minha, como é de todo mundo, a sociedade toda em relação à Academia, que ela também se porte cada vez mais na direção disso, né? Na defesa da democracia, defesa da pluralidade, na defesa da diversidade, na defesa do respeito entre as várias camadas de formação da sociedade. Eu acho que a sociedade brasileira espera da Academia cada vez mais esse tipo de compromisso". 
Gil voltou a fazer shows na Europa, acompanhado por filhos e netos, que também investiram na carreira musical. A apresentadora Poliana Abritta acompanhou os shows em Portugal e perguntou como o cantor se sente com a retomada dos eventos culturais. 
"Medo de não estar no palco de novo, propriamente, eu não tinha. Mas tinha um certo receio de não estar plenamente preparado para estar no palco, fisicamente, especialmente. A pandemia foi um momento de muito desgaste do ponto de vista físico e psíquico para todos nós, para todo mundo", afirmou Gil, que também falou sobre a turnê na Europa. 
"Eu tive que passar, primeiro, por uma quarentena de 10 dias na França. Aproveitei aquele momento para ensaiar, retomar um pouco o fôlego com as canções, com os instrumentos, com a mobilidade corporal. Enfim, quando você me viu no palco, você me viu mais enxuto", brincou o artista com Poliana. "Foi um momento revitalizante para mim, tínhamos essa sensação restauradora. Estávamos voltando a assumir posições de protagonismo na vida.
O artista também foi questionado sobre a canção "Andar com Fé" e sobre de que lugar o brasileiro pode tirar fé nos tempos atuais. "É o sentido do pleno engajamento, com a percepção dos valores, a distinção do certo e do errado, o belo e o feio, o bom e o ruim, esse é o sentido da fé, nessa canção. É o sentido da fé pra mim, independente de crenças, de confissões religiosas ou não. A fé é maior que a religião".