Bráulio BessaDivulgação/Globo

Rio - O Globoplay lançou nesta quarta-feira, a série documental Original 'Poesia que Transforma'. Idealizada por Duda Martins em parceria com Bráulio Bessa, com direção de Duda e de Chico Walcacer, e roteiro assinado por Douglas Vieira, a obra conta as histórias de brasileiros que, no momento certo, se cruzaram com a vida e obra do poeta popular Bráulio Bessa.


Com cinco episódios temáticos - raízes, amor, igualdade, fé e recomeço -, três pessoas de 10 diferentes estados do país têm suas trajetórias revisitadas desde as origens até o momento em que seus caminhos se cruzam com os versos de Bráulio. “Hoje, percebo ainda mais a força existente na palavra. Percebia isso em cartas, depoimentos, e-mails, abraços, em cada história que meus leitores me contavam, mas agora percorri geograficamente o caminho que a poesia fez e foi muito emocionante. Contar essas histórias é uma grande homenagem à poesia, à esperança, ao amor, à bondade, à sensibilidade humana”, diz Bráulio.

O documentário ainda navega por temas da atualidade, como racismo, homofobia, intolerância religiosa, desigualdade social, xenofobia e tantos outros assuntos que também atravessam a obra de Bráulio. “Encontramos um Brasil que é muito mais conectado à poesia do que poderíamos imaginar. Em tempos tão difíceis, conhecemos gente de todas as idades, de todas as classes, de norte a sul do país, respirando poesia. Foi uma experiência transformadora pra todos nós”, relata o roteirista Douglas.

A diretora Duda Martins, também nordestina, conheceu Bráulio Bessa nos bastidores do ‘Encontro com Fátima Bernardes’ e teve a ideia do projeto ao perceber a riqueza dos relatos que espectadores enviavam ao programa após as participações de Bráulio no seu quadro “Poesia com Rapadura”. Em sua visão, a série é um convite para o público se dar de presente. “O presente de parar, respirar e olhar para dentro. Um fôlego em meio ao caos. ‘Poesia que Transforma’ é uma forma de ver o Brasil bonito de novo, com os óculos da poesia. O país que amamos, cheio de potencialidades, histórias inspiradoras e arrebatadoras, e contadas por todo tipo de gente”, defende.

Durante quatro meses de viagens e gravações, o poeta e a equipe da série captaram de perto histórias, momentos e imagens de um Brasil múltiplo, com o olhar e a sensibilidade do diretor de fotografia Lucas Oliveira, parte fundamental para a narrativa, que junta periferia, favela, floresta e sertão, depois de percorrerem mais de 10 estados e 15 cidades, de Norte a Sul do país. Entre elas estão a terra natal de Bráulio, Alto Santo; Juazeiro do Norte; Assaré; Jaguaribe; Jaguaruana, Fortaleza; Pau dos Ferros; Salvador; Cuiabá; São Paulo; Porto Alegre; Rio de Janeiro; Reserva Amanã, em Manaus; Brasília; Poconé; Santarém; Óbidos; Tefé e Maraã.

Além dos depoimentos, a série, em uma referência à trajetória de Bráulio – marcada desde a infância por uma relação afetiva com a costura - ofício da sua mãe e avó – entrelaça a vida do poeta e das pessoas. A cada encontro, um verso bordado é deixado, como forma de espalhar simbolicamente a poesia. São peças feitas à mão pela artista pernambucana Blenda Souto Maior. A costura e o artesanato também estão presentes com obras inovadoras e pop que misturam fotografia e bordado, assinadas pela artista Cami Pires. É tradição e contemporaneidade caminhando juntas. “A nossa ideia era mostrar poesia em cada elemento do documentário. Seja nos bordados, nas imagens, nos sons e texturas de cada lugar, também nos silêncios e nos abraços. A poesia se revela num tempo diferente, que se opõe ao ritmo frenético que vivemos hoje. Existe um olhar atento à pluralidade. A gente queria mostrar o Brasil mais profundo, mas também o país mais urbano e pulsante”, conta Chico Walcacer.

A poesia na vida do poeta


A família, a esposa Camila, Alto Santo, o Nordeste, os afetos, suas raízes, o sertão, o Brasil, os assuntos de ontem e hoje. São diversas as inspirações de Bráulio Bessa. Antes de transmitir aos seus leitores o poder dos versos, ele também tem a sua própria trajetória como exemplo de transformação com a poesia, e sua primeira referência da literatura de cordel é o conterrâneo Patativa do Assaré. Foi no colégio, depois de conhecer e ficar hipnotizado com a obra do repentista cearense, que a poesia começou a dominar os pensamentos de Bráulio. Nascia ali um fazedor de poemas, aos 14 anos, com muita história para compartilhar. Um poeta matuto que já tinha como desejo ajudar o próximo com palavras, principalmente representando e exaltando a cultura nordestina.

Assim como os personagens de ‘Poesia que Transforma’, Bráulio é impactado pelas raízes de sua terra, pelo amor que sustenta pela família, pela igualdade por qual luta, pela fé que enxergava nos avós Dona Maria e Seu Dedé Sapateiro e pelo recomeço que tanto aplaudiu nos outros ou viveu. Nos cinco episódios, o poeta apresenta as 15 histórias da série documental, mas também revisita seu passado desde a infância. Suas memórias, junto com depoimentos de sua família, também são exemplos do poder transformador da poesia.