Por bferreira

Rio - 'A Dutra fez parte da minha vida. Faz parte da vida de muita gente. Vi a evolução dela desde criança. Boa parte do que eu conquistei foi cruzando sua pista", relembra Nelson Duarte, de 76 anos. Hoje aposentado e morador de Nova Iguaçu, Nelson foi durante 20 anos caminhoneiro. Na época, final dos anos 70, transportava azulejo entre o Rio e São Paulo, cruzando a estrada pelo menos três vezes por semana.

A Dutra passou por diversas melhorias após a concessão%2C iniciada em 1996Divulgação

Embora as boas lembranças predominem na memória de Nelson, o caminho entre as cidades, como conta, também tinha outro lado. "Era bem mais perigosa que hoje. Era um sufoco. Tinha pouquíssima sinalização e em muitos trechos era apenas uma pista em cada sentido. A Serra das Araras era um dos pontos mais perigosos. Era a rodovia da morte", conta o ex-caminhoneiro.

Mas de "rodovia da morte" a Dutra passou a ser uma das mais seguras e modernas do país. A virada se deu após o início de operação da primeira concessão rodoviária feita no Brasil, em 1996. Nesses vinte anos, o número de acidentes com vítimas fatais despencou, resultado de melhorias na pista e campanhas nacionais de educação no trânsito. Há duas décadas, morriam, em média, 520 pessoas por ano nos 402 quilômetros que conectam Rio e São Paulo. Em 2015, foram registradas 140 mortes. Em 2016, ocorreram 134 vítimas. Uma redução de cerca de 75%.
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"A década de 90 registrou um salto importante para o modelo de concessões, adotado para recuperar parte da malha rodoviária com grande volume de tráfego e alto nível de degradação. Isso ficou evidente com o resgate das condições da Via Dutra, um dos principais eixos rodoviários do país. A concessão da rodovia é um modelo a ser seguido pelas novas concessões", explica Flávio Freitas, diretor superintendente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).
A segurança nas pistas da Dutra, por onde passa metade do PIB brasileiro, melhorou muito e ajuda a escoar a produção feita em diferentes regiões do país. Diariamente são mais de 876 mil viagens, cortando 36 municípios com mais de 23 milhões de habitantes. Mas segundo Flávio, o que já era bom pode ficar ainda melhor. "Há melhorias importantes a serem feitas, como a construção da pista de subida da Serra das Araras. A concessionária está apenas aguardando definições do poder concedente, o governo federal, para investir e eliminar o importante gargalo dessa rodovia", finaliza o diretor da ABCR.
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A partir deste domingo, o leitor acompanha, nessa série especial feita por O DIA, como era a situação antes da atual administração, os avanços, desafios e a importância para a economia nacional promovida pela ligação viária após a concessão da Rodovia Dutra.
PROGRAMA DE CONCESSÕES DEVE GERAR INVESTIMENTOS NO RIO
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Lançado pelo governo federal, o Programa de Parceria de Investimentos (PPI), conhecido como Projeto Crescer, promete remodelar o formato das concessões no Brasil e terá impactos no Rio. O objetivo é impulsionar melhorias em infraestrutura, gerar empregos e cuidar para que os cidadãos recebam serviços de qualidade em áreas como saneamento, transporte, energia e mineração. Ao todo, 34 projetos serão destinados à concessão da iniciativa privada. O objetivo, segundo o governo anunciou em setembro, é que todas as concessões estejam concluídas até o primeiro trimestre de 2018. A meta é arrecadar R$ 27 bi apenas no próximo ano.
Além disso, existe a possibilidade imediata da retomada de investimentos em infraestrutura impulsionando a economia do estado do Rio de Janeiro, através de contratos já existentes, como o caso da via Dutra.
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Somente as obras de construção das novas pistas da Rodovia Dutra, na Serra das Araras, no trecho em Piraí, hoje principal gargalo do trecho entre Rio e São Paulo, contribuiria para o desenvolvimento regional, gerando em torno de cinco mil empregos, além de trazer mais segurança para a região. É o que explica Ascendino Mendes, diretor presidente da CCR NovaDutra, concessionária que administra a via.
"A construção de novas pistas na Serra das Araras dará maior segurança e agilidade aos usuários. Essa é uma necessidade imediata. O trecho tem os piores índices de acidentes da Dutra: 300% mais alto que no restante da rodovia. Por exemplo, cargas especiais muito grandes, cerca de 30 por mês, obrigam a concessionária a fechar a pista de subida para descida destas cargas na contramão. Por estes e outros motivos os usuários atualmente perdem cerca 2 horas por dia em congestionamentos neste trecho.
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Para Ascendino, além de gerar empregos, aquecendo a economia do estado do Rio e do País, a obra preza pela vida dos motoristas e caminhoneiros, esforço que, segundo o presidente, foi uma das principais metas nos vinte anos de administração.
"Trabalhamos diariamente para garantir a segurança dos nossos usuários. Nosso foco sempre foi salvar vidas. Investimos mais de R$15 bilhões em melhorias operacionais, modernização, impostos e conservação da rodovia. Os investimentos garantiram uma redução de 73% no número de mortes na via Dutra. Para melhorar ainda mais estes índices, a CCR tem condições de iniciar as obras da Serra em 60 dias, assim que aprovado pelo poder concedente. Esperar por uma nova licitação em 2021 impacta o desenvolvimento socioeconômico da região e sem dúvida no aumento no número de vítimas naquele trecho da Dutra", explica.
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Vice-presidente da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados e ex-secretário de Transportes do Estado do Rio, Júlio Lopes comentou, durante seminário sobre infraestrutura promovido pela Firjan, no fim de outubro, que o PPI oferece oportunidade para que novos empreendimentos públicos de infraestrutura saiam do papel através de parceria entre governo e iniciativa privada.
"É uma forma de alavancar a economia do País. Existe recurso financeiro na iniciativa privada para execução de projetos. Isso gera milhares de empregos" garante.
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