Por bianca.lobianco
Rio - Jaerã Correia era músico de uma banda que só se apresentava em casamentos. Gisele Mangueira Pinto fez ‘bicos’ como cobradora de van, camelô e recepcionista. Aos 23 anos, trabalha pela primeira vez com carteira assinada. Depois de trabalhar por 15 anos na indústria gráfica, Patrick Sousa Lima voltou a estudar para buscar uma nova profissão, assustado pela onda de demissões na área. Em meio ao contraste na história deles, há algo em comum.
Primeira turma de curso técnico em manutenção para elevador do país já atua no setorDivulgação

Selecionados entre 500 alunos da Faetec, eles fizeram parte da primeira turma do país para técnico em Manutenção para Elevador, que surgiu de uma parceria envolvendo o governo estadual, o sindicato das empresas que fazem manutenção de elevadores e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), que fornece certificado aos alunos que concluem o curso. E, formados há menos de duas semanas, já foram absorvidos por um mercado de trabalho carente de mão de obra qualificada.

O índice de empregabilidade já é de 73%, mas essa estatística pode beirar os 100%. Dos 26 selecionados pela Faetec, 19 já estão com carteira assinada. Outros cinco fazem estágio em empresas do setor, com chance de efetivação. E só dois não concluíram o curso, que é gratuito e vai ser mantido para 2017 como piloto de especialização pós-técnico. Mas a tendência é que entre definitivamente para a grade curricular a partir de 2018. “Num momento de crise, o setor privado fez uma parceria com o Estado para qualificar a mão de obra num setor que está absorvendo esses profissionais”, avalia Roberto Willians Santana, diretor da Faetec de Deodoro.

A ideia surgiu a partir de uma proposta feita pelo sindicato da área. Com a parceria, as empresas do setor doaram equipamentos avaliados em R$ 400 mil, cedidos para o laboratório da Escola Técnica Estadual de Transportes Engenheiro Silva Freire, unidade da Faetec onde o curso foi ministrado. O sucesso da iniciativa, inclusive, já despertou o interesse de cinco multinacionais. Para o Sindicato das Empresas de Conservação, Manutenção e Instalação de Elevadores do Rio de Janeiro, um dos motivos dessa atenção é justamente a defasagem na mão de obra dos profissionais da área, que não acompanhou o surgimento de novas tecnologias nos últimos 20 anos. “A modernização técnica começou a ser uma exigência do mercado. Por isso, estamos investindo na qualificação profissional”, explica Fernando Tupinambá, presidente do sindicato.
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TECNOLOGIA DE PONTA
Os alunos da Faetec tiveram acesso à mesma metodologia das empresas na Alemanha e Dinamarca, baseada na experiência prática. Ao todo, 70% da carga horária foi prática. Os outros 30%, com professores, repassando fundamentos científicos. O primeiro curso de qualificação técnica do setor no país já desperta interesse de empresas de outros estados e até de profissionais do ramo. “Está surgindo um novo perfil de ensino nesse setor no país. O aluno tem o contato real com o mercado de trabalho. Tivemos a procura de multinacionais e até de engenheiros querendo fazer o curso. Nas cidades grandes, tem mais gente andando de elevador do que de carro”, observa Nilton da Costa Silva, consultor de recursos humanos do sindicato.
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VIDAS TRANSFORMADAS
Em meio à crise, o então impressor de artes gráficas Patrick Lima acompanhou o declínio da sua área de trabalho. Ao ver o fechamento de empresas da área nos últimos anos, decidiu começar do zero e entrou no curso de Mecânica Industrial da Faetec. Selecionado no novo programa, agora já trabalha numa empresa que faz manutenção de elevadores. “Foi uma porta que se abriu”, diz. Gisele Mangueira Pinto, que só sobrevivia de ‘bicos’, assinou a carteira de trabalho pela primeira vez. “Isso mudou a minha vida. Agora, posso ajudar a minha mãe, que trabalhou a vida inteira como doméstica”, comemora. Aos 20 anos, Jaerã Correia agora sonha em entrar para a faculdade. “Quero crescer na vida. E a pessoa, sem estudo, não cresce”.