Por gabriela.mattos

Rio - "Quem ama, educa” é uma dessas verdades solares, universais e transcendentais. E também é verdade que “quem ama, educa financeiramente”. Para 90% dos pais ou mães, a educação financeira dos filhos é “muito importante”. O problema é que, dentro dessa obviedade, há uma inabilidade: 60% desses senhores e senhoras admitem “fazer a vontade dos filhos” na hora das compras e admitem ignorar o poder do “não”. Ou seja, também na área econômica, temos um fosso colossal entre o que os pais e as mães “sentem” pelos filhos e o que eles e elas “fazem” pelos filhos.

Diálogo e parceria

Isso acontece quando faltam no ambiente familiar atitudes fundamentais para o equilíbrio do orçamento doméstico, como diálogo, parceria e transparência. É preciso haver conversa, conscientização e compreensão sobre as possibilidades, as necessidades e os limites do dinheiro. E essas atitudes devem envolver todos os “entes queridos” — crianças, adolescentes, adultos, idosos e... os agregados (cunhados costumam ser o maior perigo). O diálogo ajuda a evitar euforias, desperdícios ou irresponsabilidades, especialmente no consumo, principalmente com o jovem.

A ninguém deve ser dado o direito de negligenciar os gastos correntes no lar doce lar, sob o risco de transformá-lo no lar duro lar. Lidar com o dinheiro achando que “quem tem, pode tudo” é uma arrogância que vai custar caro ao caráter — e um novo caráter ou um caráter novo não é coisa que se encontre nas lojas, como se fosse um i-Phone... muito menos em promoção.

Quando se trata de educação financeira — de pais para filhos, de mães para filhas etc — é essencial deixar claro que querer não é poder... poder é poder dizer “não”. Sem muita rigidez, que pareça avareza ou sovinice. Sem muita ternura, que pareça culpa ou remorso. Quem ama, também diz “não”. Simples assim.

Impulsos e cenários alarmantes

Um dos destaques do meu livro Faça as Pazes com o Dinheiro é o bom trabalho do SPC Brasil, que ao longo dos últimos anos, tem encomendado pesquisas nacionais para entender melhor o comportamento de compra dos brasileiros e o perfil dos consumidores inadimplentes no país.

Esses estudos mostram cenários ainda alarmantes: 8 em cada 10 brasileiros (80%) não fazem controle total de suas finanças, ou porque não conseguem ter disciplina ou porque não sabem como anotar gastos, não sabem estabelecer prioridades; e 85% dos consumidores admitem fazer compras por impulso, movidos por questões emocionais.

Mais de um terço não revela salário

Diante desses e outros números, profissionais da empresa concluíram que a inadimplência é muito mais ligada ao comportamento e aos hábitos dos consumidores do que relacionada ao tamanho do próprio orçamento.

Uma das muitas contribuições destacadas no ótimo site meubolsofeliz.com.br foi uma pesquisa reveladora de que mais de um terço dos casais brasileiros (35%) não sabe ao certo o valor do salário do companheiro.

O estudo mostra que não há o costume de se discutir o orçamento familiar com o cônjuge e com outros membros da família: apenas 31% das famílias brasileiras conversam abertamente sobre os gastos e as receitas da casa.

Assunto escondido só piora a situação

O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, explica que a disciplina em família com objetivo de cuidar do dinheiro da casa é fundamental para uma vida financeira saudável e organizada. Para ele, individualmente, o consumidor sabe pouco sobre como conduzir seu orçamento pessoal ou simplesmente não se importa muito com isso.

“A situação só piora quando um assunto que deve ser compartilhado com os familiares fica escondido”. Resumindo: o ideal é conversar sobre dinheiro tanto nos momentos bons quanto nos ruins. Assim, na hora da dificuldade, o assunto poderá ser tratado de forma mais suave, natural e barata.

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