O Rio é o oitavo estado do país em casos de combustível irregular. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o índice de não conformidade da gasolina, etanol e diesel vendidos aqui fica em 2,8%. Até próximo da média nacional, mas que acende o alerta para quem abastece. O bom é que o automóvel dá sinais quando o combustível é batizado.
O estado do Rio é um dos seis do país em consumo de combustível, com 2,5 bilhões de litros de combustível vendidos, em média, anualmente - dados na ANP consolidados até 2017. Ou seja, cerca de 70 milhões de litros deste total tinham alguma irregularidade.
Isso desperta a desconfiança do motorista antes de parar na bomba. “Tenho quatro, cinco postos que são de minha confiança e onde sempre abasteço. Mas já tive problemas em viagens, pois precisei colocar gasolina em estabelecimentos desconhecidos”, admite o professor universitário Marcos Fernandez, 59 anos.
Pois é, combustível ruim reflete quase que imediatamente no comportamento do veículo. Automóvel que começa a engasgar, que demora a dar a partida no motor ou que parece se arrastar ao pisar no acelerador pode apresentar tais problemas devido a combustível ruim.
O diretor de Combustíveis da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Rogério Gonçalves, ressalta que os “sintomas” variam conforme o tipo de adulteração. Os “engasgos”, por exemplo, podem ser ocasionados por produtos misturados à gasolina que formem goma.
“Isso pode acelerar o entupimento dos filtros. E se passar pelo filtro pode prejudicar os injetores”, exemplifica o engenheiro.
Problemas no sistema de injeção eletrônica do automóvel podem representar uma conta salgada no mecânico. Em oficinas pesquisadas, reparos ocasionados por gasolina ruim têm orçamentos entre R$ 600 e R$ 1 mil.
O etanol batizado também vai dar dor de cabeça. O tipo de adulteração mais comum é o “álcool molhado”, ou seja, com mais água do que o permitido. Isso acelera a corrosão de peças do motor. “O principal perigo é a qualidade dessa água”, explica Gonçalves.
Solventes e outros tipos de álcool também fazem parte do pacote de adulterações. Os solventes costumam atacar principalmente as borrachas e mangueiras do carro, acelerando o desgaste e ressecamento destes componentes.
Uma adulteração comum, de ter mais etanol na gasolina do que os 27% permitidos por lei, também afeta o consumo dos modelos que só rodam com o combustível fóssil. “Gasolina com maior teor de álcool pode provocar falhas de funcionamento, aumento do consumo e dificuldade de partida”, observa Gonçalves.
Uma dica é sempre observar o consumo que o veículo faz normalmente. Por exemplo, se o carro marca médias de 10 a 11 km/l na cidade e, de uma hora para a outra, o número cai para para 8 ou 9 km/l, é o suficiente para suspeitar do combustível.
Outra sugestão fundamental é manter a rotina de abastecer sempre nos posto onde o cliente esteja acostumado. No primeiro relatório da ANP em 2019, de janeiro, por exemplo, foram analisados combustíveis de 568 estabelecimentos no estado do Rio. Destes, 16 apresentaram problemas.
Nada de se deixar levar apenas pela aparência da loja ou mesmo pela marca. O índice de conformidade nos postos bandeira branca, por exemplo, ficou em 96,7% segundo o balanço de janeiro de 2019. Acima do registrado pela Ipiranga (94,6%) e próximo do da BR Distribuidora (97,6%).
Ao mesmo tempo, o consumidor pode exigir o teste de qualidade do combustível em qualquer posto. Os estabelecimentos são obrigados a fazer o exame com uma amostra de gasolina misturada a uma solução com água e sal na presença do cliente.
Os indicadores de etanol (aquela espécie de proveta ao lado da bomba) também indicam a qualidade do álcool combustível. Ao mesmo tempo, a ANP faz fiscalizações permanentes para avaliar a qualidade dos produtos vendidos. Suspeitas de adulteração também podem ser denunciadas à agência. O telefone é o 0800-970-0267.