Bom por um lado e ruim por outro: as vendas de carne para a China aumentaram e isso favoreceu os exportadores. Mas em contrapartida, o preço da carne disparou no Brasil. Segundo Humberto Margon, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, a arroba do boi subiu 34% e isso já impacta os valores no mercado interno. "Exportações para a China e o dólar em alta têm impacto direto no bolso do consumidor", conta Margon. Levantamento feito pelo DIA no site www.aondecovem.com.br mostra os encartes de descontos dos supermercados. A carne moída - que serve para fazer kafta - no Carrefour, por exemplo, sai a R$ 15,98 a embalagem de 500g. Já no supermercado Cristal o mesmo produto está R$ 4,59. O contrafilé, que fica uma beleza no churrasco a embalagem de 600g está R$ 48,90 no Carrefour. E no Guanabara a peça do contrafilé Maturatta Friboi estava saindo a R$ 39,98 o quilo até ontem.
Pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo, da Fundação Getulio Vargas, a carne bovina apareceu entre os destaques em novembro, com alta de 5,26%, dez vezes mais do que o visto em outubro. "Dá para ver que houve um avanço significativo no preço da carne bovina, já pronta para ir para o açougue", pontua economista André Braz, sobre a carne mais significativa para a inflação. Em novembro, Índice de Preços ao Consumidor constatou alta de 6,04% no contrafilé, enquanto em outubro havia subido 2,69%.
"Parte da alta ao produtor é repassada e dado que está subindo ao produtor, a carne vai continuar pressionando inflação em novembro e dezembro", completa Braz. Essa alta ocorre no momento em que o preço da arroba de 15 quilos do boi gordo, acompanhado pelo indicador Esalq/B3, chegou a R$ 228,85, alta de 34,07%, ontem, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Exportações
"Estamos no auge da captação dos aumentos de preços, a carne vai continuar subindo e vai impor um desafio para a dona de casa. Quando a carne bovina sobe, outras carnes também sobem, ainda que não houvesse razão para isso, elas sobem pela questão da substituição do produto", alerta o economista.
Na avaliação de Braz, da FGV, o preço da carne só vai começar a recuar um pouco ao final de janeiro. "Lá para fevereiro e março a carne começa a devolver uma parte do aumento", comentou ele, condicionando essa previsão a uma normalidade climática para as pastagens, por exemplo.
Não fossem poucos os fatores de alta, a proximidade das festas de final de ano gera uma demanda adicional por carnes, há o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro neste mês e uma oferta mais restrita de bovinos prontos para o abate. "Estamos assistindo uma alta forte dos valores, tem a ver com sazonalidade, e também com demanda chinesa. Isso gera choque de oferta", afirma Braz.
"A gente sabia que ocorreria uma maior demanda por boi para abate, mas não nesta magnitude", acrescentou o presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar.