Humberto Oliveira, contador, diz que foi pego de surpresa com o fechamento do posto Uruguai - Ricardo Cassiano/Agencia O Dia
Humberto Oliveira, contador, diz que foi pego de surpresa com o fechamento do posto UruguaiRicardo Cassiano/Agencia O Dia
Por MARTHA IMENES
Em meio ao caos na concessão de benefícios, que tem uma fila com dois milhões de pedidos para serem analisados em todo país - no Rio de Janeiro esse número chega a 115 mil -, a Previdência Social fechou ontem um posto de atendimento na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Ontem O DIA esteve no local e ouviu os segurados que, sem saber do fechamento, se aglomeravam na porta da Agência Uruguai. "Toda vez que precisava de informação vinha a esse posto e sempre fui bem atendido", diz o contador Humberto Oliveira, 66 anos, morador do bairro.
Na porta de vidro um cartaz com papel ofício informava que a partir do dia 4 (ontem) os atendimentos deveriam ser feitos nos postos da Praça da Bandeira (perícias médicas e benefícios por incapacidade) ou no posto Maracanã, os que não dependem de perícia.
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"Ontem estive aqui e não tinha nada disso. Tanto é que voltei hoje e dei de cara na porta", informa o aposentado José Luiz Santos Silva, 70, também da Tijuca. "Não deixaram nem um funcionário aqui para dar explicação e informação. Tratam a gente com descaso", critica José Luiz.
Assim como Humberto e José Luiz, outros segurados chegavam na porta do INSS e olhavam desolados o aviso do fechamento da unidade. "Fiz prova de vida duas vezes e meu pagamento não está no banco. Vim aqui na esperança de saber o que está acontecendo e o posto está fechado", diz um outro segurado que pediu para não ser identificado.
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Outra segurada que foi pega de surpresa com o fim das atividades na APS foi a aposentada Maria de Fátima Pereira, 72, da Tijuca, que aproveitava o atendimento espontâneo, que não precisa de agendamento, para resolver suas pendências. "Um absurdo fechar essa agência, ela é uma das poucas que se conseguia atendimento", critica Maria de Fátima, que foi ao local para buscar informações e autorização sobre crédito consignado.
O síndico do prédio ao lado da Agência da Previdência Social (APS), Ilmor Leão, diz que logo pela manhã a logomarca da Previdência foi retirada por uma empresa terceirizada. "Chegaram cedo e tiraram a placa", conta.
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Resposta do INSS
Questionado pelo fechamento da unidade, o INSS informou que a mudança será benéfica aos segurados pois as duas outras agências para onde foram transferidos os atendimentos estão em locais de mais fácil acesso. O posto fechado ontem fica na Rua Uruguai e os demais um fica na Praça da Bandeira, 96 e o outro na Rua São Francisco Xavier, 324.
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A autarquia informou ainda que "os segurados do INSS já podem obter a maioria dos serviços previdenciários pelo telefone 135 ou pelo Meu INSS, no site gov.br/meuinss e no aplicativo para celular, sem precisar ir a uma unidade do INSS".
Segundo o órgão, "a junção das agências permitirá um melhor aproveitamento do espaço e irá gerar economia com aluguéis e manutenção predial".
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Portaria prevê redução de 50% das unidades
O fechamento de postos de atendimento estão no radar do INSS há muito tempo. Em dezembro o então presidente da autarquia Renato Vieira anunciou em reunião com superintendentes e gerentes executivos que cortaria 50% da estrutura administrativa. Na época, segundo relatos, a previsão era de fechar 500 agências até julho deste ano. Uma portaria do Ministério da Economia, a 13.623, determina a redução de 50% das Unidades Administrativas de Serviços Gerais de sua estrutura até 30 de junho de 2020.
Na reunião, segundo a publicação Congresso em Foco, o ex-presidente do INSS chegou a afirmar que a informatização dos trâmites para obtenção dos benefícios da Previdência reduz a necessidade de se manter agências espalhadas por todo Brasil. Atualmente, a autarquia tem 1,2 mil postos de atendimento em todo país.
A decisão do INSS não agradou parlamentares que representam pequenos e médios municípios. Eles avaliam que o fechamento de agências pode prejudicar a economia local e também dificultar o acesso de parcela da população, que ainda está fora do universo digital.
Essas pessoas teriam de se deslocar para agências em outras cidades. A crítica ao sistema digital é de que seria uma forma de esconder as filas presenciais que se formavam na porta das agências. E substituir pelas filas virtuais, que hoje têm dois milhões de pessoas aguardando a concessão.