Poupança e negociações: especialistas contam o que muda com variação da inflação
Parcela mais pobre sofre mais com o aumento; aluguel deve ser o mais afetado
Rio - A última projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que os consumidores terão que recalcular gastos e refazer as contas. A inflação registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seguiu a trajetória de alta e está prevista para 3,5% em 2020. Na estimativa anterior, em setembro, era de 2,3%. Ainda assim, talvez a maior das preocupações não seja no supermercado, mas em casa. A primeira prévia de novembro para o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) também já havia registrado inflação de 2,67%, valor superior ao 1,97% da primeira prévia de outubro. É esse o índice usado no reajuste dos contratos de aluguel no país. Nessa cadeia de variações, a parcela mais pobre da população é que mais sofre com os aumentos.
O economista Gilberto Braga explica o porquê. "O aumento é mais sentido pelas camadas mais pobres porque o principal fator que pressiona o índice é o reajuste nos preços dos alimentos. Gasta-se mais para se alimentar, há um comprometimento maior da renda e sobram menos recursos para os demais gastos necessários", afirma.
Publicidade
A variação do IPCA corresponde ao preço que pagamos pelos produtos e serviços no dia a dia, como conta a professora de MBAs da FGV e economista Myrian Lund. De acordo com ela, porém, pode ser que não haja uma grande mudança nos custos:
"Já tivemos um aumento grande nos últimos meses. O setor de alimentos foi o que teve mais impacto. Mas não significa que vai continuar, pois o preço depende de oferta e demanda. Se a demanda cresce e a oferta não acompanha, o preço sobe. O Banco Central está trabalhando com a normalidade dos preços e considerando que foram aumentos pontuais", afirma.
Publicidade
Para o aluguel, porém, o cenário é um pouco mais complicado. Segundo Braga, a estimativa é de que ele esteja dentre os maiores reajustes. Por isso, a professora Lund explica que é importante que cada inquilino, comercial ou residencial, inicie negociações com os proprietários, sugerindo correção pelo IPCA:
"É importante cada um analisar os contratos e verificar o índice. Por exemplo, condomínios: muitos são reajustados pelo IGP-M. Se não for negociado, vai impactar no orçamento dos inquilinos (duplamente) e proprietários", analisa a economista.
Publicidade
Como se preparar?
Braga lembra que a economia não deslancha porque sofre os efeitos da pandemia. Por essa razão, "torna-se quase impossível aumentar a renda para quem é empregado". A solução, portanto, é "cortar despesas para reequilibrar o orçamento familiar".
Publicidade
Outra forma de se preparar é iniciando uma reserva de emergência, como aponta Lund. Ela reconhece que não temos o hábito de poupar, mas isso é importante "para fazer frente a possíveis aumentos e se precaver de cheque especial e dívidas". A professora da FGV também insiste na renegociação nos reajustes dos serviços:
"Eu gosto muito de usar uma planilha para o mês e projetar os próximos 12 meses. E aí analisar quando é o reajuste do aluguel, do plano de saúde, dos contratos de TV a cabo, Internet e telefones. É importante fazer isso para não ser pego de surpresa e poder iniciar a negociação com antecedência, considerando o que pode pagar", orienta.
Publicidade
A economista complementa dizendo que é preciso mudar a forma de agir. "Ao ligar para negociar, já ter um preço máximo que caiba no seu orçamento e negociar a partir deste valor. Comece com um percentual menor para fechar no valor factível. Esse é um exercício bastante difícil", finaliza.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes