O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante a cúpula do G20, em RomaAFP

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou na manhã deste sábado, 30, no início da cúpula do G20 em uma conversa com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que que "a Petrobras é um problema" ao ser perguntado sobre a empresa estatal. A frase foi dita em uma roda informal entre líderes presentes no evento, que acontece neste fim de semana em Roma, capital da Itália.
A conversa entre os dois aconteceu momentos antes da foto oficial dos líderes presentes, que marcou a abertura da cúpula. O evento reúne as 19 maiores economias do mundo, incluindo desenvolvidas e emergentes, além da União Europeia. Esta é a primeira reunião do G20 desde o início da pandemia de covid-19, em março de 2020.
Durante rápida conversa com Erdogan, Bolsonaro reclamou da cobertura da imprensa e passou informações falsas sobre a política de formação dos seus ministérios e os seus índices de aprovação. A gravação do diálogo foi divulgada pelo jornalista Jamil Chade, do UOL.
O encontro entre os chefes de Estado aconteceu em uma sala de café na antessala do espaço de reuniões. Bolsonaro se aproximou de Erdogan junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O brasileiro pediu ajuda a um tradutor para falar com o turco, que perguntou sobre a situação econômica do Brasil. Ele afirmou que economia brasileira está se recuperando da crise da pandemia de covid-19.
"Tudo bem. A economia voltando bem forte. A mídia como sempre atacando, estamos resistindo bem. Não é fácil ser chefe de Estado em qualquer lugar do mundo".
Pouco depois, o presidente da Turquia mencionou que o Brasil tem "grandes recursos petrolíferos" e citou nominalmente a Petrobras.
"Petrobras é um problema. Mas estamos quebrando monopólios, com uma reação muito grande. Há pouco tempo era uma empresa de partido político. Mudamos isso", afirmou Bolsonaro.
Em meio à dificuldade de conter a alta dos combustíveis, que afeta a popularidade do governo, o presidente e Guedes, têm feito uma série de ataques à Petrobras nas últimas semanas. Em transmissão ao vivo nas redes sociais na última quinta-feira, 28, o chefe do Executivo chegou a afirmar que a estatal deveria dar menos lucro, o que fez as ações da empresa tombarem na Bolsa de Valores.
Tentando mudar de assunto, Erdogan questiona: "E quando é a eleição?". Bolsonaro responde: "Daqui a 11 meses". O turco acrescenta: "Significa que o senhor tem muito a fazer coisa ainda para fazer".
O mandatário brasileiro insistiu: "Eu também tenho um apoio popular muito grande. Temos uma boa equipe de ministros. Não aceitei indicação de ninguém. Fui eu que botei todo mundo. Prestigiei as Forças Armadas. Um terço dos ministros [é de] militares profissionais. Não é fácil. Fazer as coisas certas é mais difícil."
Na última quinta-feira, 28, uma pesquisa do PoderData destaca que Bolsonaro se encontra com um nível de reprovação de 58%. No mês de agosto, 64% não aprovavam o seu governo. Outro momento em que Bolsonaro mente para Erdogan é quando ele afirma que não aceitou indicações para ministérios, já que na verdade, existiram acordos com partidos do Centrão em determinados cargos para a nomeação de ministros.
Neste sábado, de acordo com a Secretaria de Comunicação da Presidência, não havia, até as 13h (horário local), nenhuma previsão de que o presidente falasse sobre os encontros previstos em Roma: às 16h, ele se reúne com Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), grupo de países nos quais o Brasil pleiteia ingressar.
Bolsonaro está no encontro do G20, em Roma, com os ministros Guedes, João Roma (Cidadania), Walter Braga Netto (Defesa) e Carlos França (Relações Exteriores) e participará, entre hoje e amanhã, além de encontros bilaterais, de painéis sobre economia, meio ambiente e saúde pública. Os três temas são considerados delicados para o governo, em meio às críticas sobre a política ambiental e a postura durante a pandemia.
Na segunda-feira, 1º, após a cúpula, o presidente segue para a cidade italiana de Anguillara Veneta, onde moravam seus antepassados, para receber o título de cidadão local. O projeto de homenagem ao presidente foi aprovado sob críticas. Na sexta-feira, 29, militantes ambientais chegaram a pichar "Fora, Bolsonaro" na prefeitura da cidade.
Ao cumprir a agenda pessoal em Anguillara Veneta, Bolsonaro deixará de ir à COP-26, evento sobre as mudanças climáticas que contará com a presença dos principais líderes globais. O governo será representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite.
*Com informações do Estadão Conteúdo