Tradicional na noite de Natal, o bacalhau já sofreu um aumento de 12,34%Marcos Porto/Agência O Dia

Rio - Faltando menos de um mês para o Natal, consumidores já começaram a perceber o aumento no preço dos itens que compõe a mesa da ceia. Uma pesquisa prévia realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostrou a variação no valor desses alimentos. O preço do Bacalhau, por exemplo, que é tipicamente consumido na data aumentou 12,34%, assim como o do Chester, que subiu 7,27%. Esse aumento é influenciado sobretudo pelo alto índice inflacionário deste ano. Somente a prévia da inflação para o mês de novembro já é a maior para o período desde 2002 (1,17%), conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, o indicador já acumula alta de 9,57%. 
Outros produtos que são muito consumidos nesta época do ano também sofreram variação de preço, como o azeite (4,79%), o peru (7,27%), a azeitona verde (21,91%) e o panetone de frutas cristalizadas (25,96%). As frutas também não escaparam da alta, principalmente o morango (25,35%), a uva (4,90%) e o pêssego (3,83%). Para o economista Gilberto Braga, essa variação de preço deve forçar os brasileiros a fazerem uma ceia "mais econômica e criativa".
"A ceia de Natal de 2021 será fortemente influenciada pela inflação alta e pela desvalorização cambial. Itens tradicionais ficaram bem mais caros e devem determinar uma mudança na mesa do brasileiro. Quem gosta de manter a tradição, deve ficar atento as promoções nas grandes redes de supermercado. Todas elas têm convênios com algumas marcas que são oferecidas com preços mais atraentes em itens como azeites, vinhos e espumantes", afirmou. 
O consultor de varejo Marco Quintarelli relembrou, ainda, a influencia da variação cambial sobre os preços finais desses produtos. "A grande variação é explicada pela dolarização de produtos importados. Na cadeia de abastecimento brasileira, por exemplo, a alimentação das aves e suínos tem como base farelos de milho e soja, que são comercializados em dólar. Fora isso, tivemos aumento de diesel e energia elétrica e tudo isso reflete no valor que é repassado para o consumidor", explicou. 
Assim como o economista, Quintarelli reforçou a importância de fazer trocas inteligentes para evitar extrapolar orçamento estipulado para a ceia de Natal. "Esse é o momento da criatividade, querendo ou não as aves ainda estão com preço melhor do que as carnes de uma maneira geral, o suíno também. A saída é fazer uma ceia mais brasileira, com proteínas e diversidades de pratos, além de optar por frutas nacionais", orientou. 
Consumidores já perceberam a diferença
Alguns cariocas já foram as compras, na tentativa de garantir um preço melhor e um produto de qualidade. No entanto, ao se deparar com o valor de alguns itens tradicionais, começaram a repensar nos alimentos que vão compor a mesa da ceia. Esse é o caso da Tatiana Rodrigues, de 38 anos, que garantiu o bacalhau da família, mas vai abrir mão de outros itens. 
"Pela minha pesquisa o preço do bacalhau abaixou um pouco, mas ainda continua caro. Paguei R$ 120, um pouco acima da média do ano passado, que paguei por volta de R$ 100 no quilo. Ainda estou pesquisando para a ceia, mas devo comprar o que for possível. Alguns alimentos como as castanhas, por exemplo, vão ter que ser cortados ou substituídos", contou. 
Para a professora Maria José Pereira, de 48 anos, a solução encontrada foi dividir a conta com a família toda. "Não foram só os alimentos típicos do natal que tiveram aumento né? Tudo tá mais caro. Aqui em casa, como minha família é bem grande, combinamos de fazer uma divisão: cada um leva um prato salgado e uma sobremesa. No final das contas, não pesa para ninguém e ainda conseguimos reunir todos para celebrar", relatou. 
Substituições inteligentes
Apesar do encarecimento dos alimentos, ainda é possível comemorar o Natal com a família sem fazer gastos exorbitantes. Seguindo a orientação dos especialistas, que recomendaram a substituição dos itens mais tradicionais, O DIA procurou a nutricionista Luciane Peixoto para dar dicas do que pode ser interessante para inovar na hora de idealizar a ceia. 
"É possível fazer uma ceia de natal bacana sem gastar muito, partindo do princípio que podemos tomar uma medida mais radical. Uma opção é mudar um pouco a tradição que normalmente temos, como o hábito de usar produtos importados, baseados em ceias de outros países, como as frutas secas, peru e vinhos, por exemplo. O melhor caminho é trocar esses alimentos por itens nacionais. Dá pra ser prazeroso, gostoso e acessível", garantiu.
Além de proporcionar economia na lista de compras, algumas substituições podem inclusive ser mais favoráveis para a saúde, como destacou Luciane: "Um exemplo de troca simples que dá pra se fazer é optar por um frango ao invés do famoso chester. Na realidade, se pararmos para pensar, o chester não existe, é um frango que sofreu mutação e tem um peitoral e uma coxa maiores. Um frango caprichado com tempero caseiro é uma troca benéfica não só para o bolso, mas também para a saúde. Outro item é o azeite, já que a maioria são importados, podemos escolher os nacionais que também tem ótima qualidade e preço justo".
Para substituir o tradicional bacalhau, principalmente em receitas que levam outros ingredientes, também há solução. "Existem uns peixes salgados, do tipo bacalhau, que no contexto de uma salada ou um bolinho vão atender essa necessidade muito bem. Partindo do princípio que estamos vivendo ainda um momento de crise, como o comércio está querendo tomar fôlego, vale pesquisar nessas grandes lojas, que tem maior estrutura, e conseguem repassar esses itens com um preço um pouquinho melhor", orientou a nutricionista.
Na hora da sobremesa, optar pelas frutas pode fazer uma boa diferença no bolso. "Falando de frutas, as tropicais, características do nosso país, podem substituir a altura. Aquelas frutas mais tradicionais como pêssego, morango, que são usadas para receitas, podem ser trocadas pelas brasileiras como o coco e a manga, por exemplo, que tem um preço melhor e podem atender muito bem se forem colocadas em uma boa receita. Vale a pena deixar um pouco de lado as frutas secas e oleaginosas para dar espaço as frutas frescas e brasileiras. A salada de frutas pode ser uma ótima opção nesses casos", recomendou.
Por fim, Luciane reforçou a importância de se atentar também para evitar o desperdício: "Um ponto muito importante é considerar também a quantidade de alimentos e a diversidade de pratos que você vai preparar, levando em conta o desperdício. Muitas pessoas acabam exagerando na comida e, quando se trata da ceia de natal, estamos falando de um consumo noturno, as vezes a pessoa não tem condição de consumir nem um terço daquilo que preparou e no dia seguinte até come o que sobra, mas com os dias acaba enjoando e descartando toda aquela comida que sobrou na geladeira", concluiu.