Levantamento mostra aumento de 23% dos ciberataques no Brasil, nos oito primeiros meses de 2021Tânia Rêgo/Agência Brasil

Rio - O fim de ano geralmente é marcado pelas celebrações, alegria e reencontro com amigos e familiares, mas com o 13º salário na conta e o aumento do consumo, os criminosos veem chances de aplicar golpes nos consumidores desavisados. Com isso, o que era para ser um momento de felicidade acaba virando um transtorno. Por isso, especialistas listaram as fraudes virtuais mais comuns nesta época do ano para te ajudar a não cair em nenhuma delas. 
Atualmente, as compras online têm sido uma saída para quem está com pouco tempo ou quer evitar as lojas lotadas. A ansiedade de fazer as aquisições rapidamente e aproveitar as ofertas deixam os clientes vulneráveis. Além disso, esta época do ano, por razões emocionais, costuma deixar as pessoas mais suscetíveis a cair em golpes já conhecidos, como o "falso sequestro". 
A cozinheira Maria Aparecida Santos, de 56 anos, foi vítima de um dos golpes mais comuns no fim de ano. Ela relatou o desespero diante de um falso sequestro que lhe rendeu um prejuízo de R$ 1,5 mil.
"Ligaram aqui para minha casa e falaram que meu filho, que é militar, tinha sido sequestrado. Eles disseram que eu deveria transferir R$ 5 mil para eles pelo resgate. Eu avisei que não tinha o dinheiro, então eles começaram a colocar muito terror em mim, e eu chorava demais porque não estava conseguindo entrar em contato com meu filho de maneira nenhuma... Depois de fazer a transferência, eu vim para casa. Eles diziam o tempo todo que tinha alguém me seguindo, e com o estresse, eu tinha a sensação de que realmente alguém estava me vigiando. Quando eu cheguei em casa, descobri que era um golpe. Meu filho só não estava conseguindo falar comigo, porque estava no quartel", relatou Aparecida.
Aparecida contou também como se sentiu após reparar que havia sido vítima de uma fraude. "Me senti mal, me senti lesada. Perdi o único dinheiro que eu tinha, mas graças a Deus era tudo mentira. Eu perdi um dinheirinho, mas meu filho está aí, vivo e com saúde", completou.
Um levantamento feito pela Kaspersky mostrou que, nos primeiros oito meses deste ano, houve um aumento de 23% dos ciberataques no Brasil, em comparação com o mesmo período de 2020. Para te ajudar a identificar e fugir das falcatruas, O DIA conversou com o especialista em Direito Digital e membro da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB/RJ, Antonio Carlos Marques Fernandes, e ele listou as fraudes mais comuns nesta época de festas. Confira:
Golpe do cartão de crédito ou boleto bancário

Na maioria das vezes, acaba que o usuário, sem perceber, é infectado com um software malicioso que contamina as máquinas com o objetivo de roubar senhas bancárias ou do cartão. Automaticamente, possuindo a senha, faz compras e acaba com a estabilidade emocional da vítima.

No caso de um boleto bancário, os criminosos geram um documento, forjando e simulando a compra em um e-commerce ou até mesmo de um boleto de pagamento, e encaminham para quitação.

Nesse momento, o código de barras é trocado e o dinheiro pago vai para outra agência e conta. O usuário só descobre que caiu no golpe quando a empresa cobra o pagamento do produto ou da conta novamente. Este golpe, algumas vezes, demora meses para ser descoberto, o que normalmente dificulta a empresa a identificar a fraude e a polícia a chegar nos golpistas.
Falso sequestro
As quadrilhas geralmente ligam e simulam voz de choro para que a vítima acabe falando o nome de seus familiares. Em posse das informações que precisavam, os bandidos começam a agir. Dizem que sequestraram a pessoa e pedem um resgate para que possam liberar o "sequestrado". A entrega de detalhes sobre quem é a suposta vítima, facilita o trabalho bandido, que se aproveita e bota mais "pressão" em quem atendeu. Este golpe é muito comum em telefones fixos, porque geralmente quem atende são os idosos, que costumam utilizar este recurso para se comunicar.
Tome cuidado ao receber uma ligação como essa, não dê nenhuma informação sobre seus parentes para ninguém. Em seguida, tente entrar em contato com o familiar. Caso não consiga, procure a polícia. 

Mobile Malware

Ainda considerado uma fraude mais sofisticada, trata-se de vírus desenvolvido por hackers, que se instala nos computadores ou celulares com a função de roubar todas as informações pessoais do usuário, bem como suas senhas e dados bancários.

E-commerce

As compras dos presentes de Natal também precisam ser feitas com atenção. Existem diversos sites que apresentam produtos falsos. Também há portais inexistentes e maliciosos que vendem e prometem vantagem para pagamento via Pix ou boleto bancário, tendo em vista a maior facilidade de "sumir" com o dinheiro.

Vagas de emprego
Sites que oferecem empregos nesta época do ano são muito comuns, mas não leve a sério portais que pedem fotos do seu corpo, vídeos e até mesmo pagamento para te colocar em determinada vaga de emprego.
Pacote de viagem

Passar o Natal ou o Réveillon em uma cidade diferente faz com que o trabalhador esqueça um pouco das dificuldades do dia a dia, certo? Só se a companhia de viagens realmente tiver comprado as passagens e reservado o hotel. Do contrário, o descanso vira prejuízo, frustração e dor de cabeça.
Em outros anos foi comum localizar vítimas que foram roubadas por empresas falsas que alugaram casas e estadias sem que o consumidor pudesse usufruir seu pacote adquirido. Isso porque, na verdade, essas companhias vendiam sonhos pela internet, comercializavam informações e pacotes de lugares existentes, mas que nunca souberam ou receberam quaisquer valores dos consumidores. Na hora de viajar, procure empresas sérias, com nome no mercado.

Doação

Aproveitando o momento do Natal, no qual as pessoas estão mais propensas a realizar boas ações, um tipo de truque utilizado por criminosos é pedir doações para instituições de caridade. São várias as maneiras que os estelionatários usam para sensibilizar possíveis vítimas: ligações, mensagens por celular e até mesmo abordagem na rua. Evite doar se não tiver certeza do local onde o valor será empregado. Por isso, doe para instituições conhecidas, vá até o local e não acredite apenas na história triste contada na rua.
Em entrevista ao O DIA, Antônio Fernandes, falou sobre o "modus operandi" das quadrilhas. "Primeiramente, uma coisa que é muito comum, não somente nessa época do ano, mas sempre que se tem mais movimento do comércio, é a ação dos criminosos de oferecer um benefício maior para o consumidor, onde o cliente acaba se permitindo cair em fraudes, seja ela por meio de um boleto para quitação de um débito ou pelo oferecimento de um produto com um valor menor. Mesmo tendo plena convicção que aquele produto é mais caro, naquele momento, se permite ser levado pela quadrilha e acaba assinando o contrato, ou comprando um produto em um valor que à princípio parece menor. Porém, na verdade, ele está sendo fruto de um golpe", afirmou o advogado.
Segundo Antônio, a dica é evitar qualquer serviço ou produto que saia da normalidade. Isso significa que qualquer promoção que pareça "excessivamente boa" deve ser bem analisada, sempre com um pé atrás, imaginando que pode estar acompanhada de alguma fraude.
"É importante entender que nem tudo que reluz é ouro, principalmente quando se está falando de internet. Tem muitas maneiras de manipular informações, de manipular tipos de ofertas que irão chegar para você e, obviamente, as quadrilhas são especialistas nesse tipo de roubo. Então, você foi selecionado por meio de todo um trabalho operacional da quadrilha. Eles conseguem chegar para o cliente com um determinado produto, com um possível desconto já sabendo que você está tendencioso a querer aquilo. Por isso, muitas vezes, as ofertas são tão vantajosas, tão atraentes ao seu gosto, porque de fato eles já conseguem identificar quem é você antes mesmo de te ofertar", completou.
Recomendações finais
A diretora de Direito Digital e Compliance da Russel Bedford Brasil, Amanda Israel Fraga, ressaltou a importância de denunciar o crime junto às autoridades competentes. "É muito importante registrar um boletim de ocorrência quando cair em um golpe. Em várias capitais, nós já temos delegacias especializadas em crimes cibernéticos. Os crimes cibernéticos foram acrescentados no nosso código penal recentemente, então é importante fazer uma denúncia. Nem sempre teremos retorno a partir daquela denúncia, mas é importante para que a polícia possa investigar", disse Amanda.
Segundo ela, em casos onde os dados pessoais são vazados, é necessário também registrar a ocorrência no Procon. "Também é importante, caso perceba que seus dados pessoais podem ser utilizados, fazer um registro junto ao Procon, porque essas informações podem ser utilizadas para compras. Se for uma fraude com cartão de crédito, é muito importante, também, que a pessoa entre em contato com seu banco para que os golpistas não possam utilizar mais aquele cartão", completou.
Caí no golpe, e agora?

- Reúna documentos e provas contra a pessoa criminosa (endereço, nome completo, capturas de tela, e-mails, descrição física e afins);

- Contate um advogado para abrir um processo em desfavor de quem gerou o prejuízo, ou sob quem tinha a responsabilidade de evitá-lo;

- Utilize as provas reunidas previamente e possíveis testemunhas;

- Tente descobrir o IP ou o número utilizado pelos criminosos, se for o caso, tire "print" de tudo;

- Em determinadas ações pode ser necessário fazer uma ata notarial de modo a preservar a prova (um ato notarial por meio do qual o tabelião – a pedido de parte prejudicada – lavra um instrumento público formalizado pela narrativa fiel de tudo aquilo que verificou por seus próprios olhos, sem juízo de valores);

- Procure sempre que necessário a delegacia especializada, como a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).
*Estagiário sob supervisão de Marina Cardoso