Mais de 50 milhões de brasileiros, cerca de 25% da população, têm planos de saúde. A grande maioria se esforça para conseguir pagar as mensalidades em dia, podendo, assim, ter mais segurança na hora de fazer uma consulta, um exame, ou um tratamento. No entanto, muitas vezes, o "conforto" acaba dando lugar a transtornos, já que muitas operadoras não cumprem com os contratos. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostra que o setor foi o líder de reclamações em quatro dos últimos cinco anos.
Para a profissional de educação física Mônica Helmold, de 56 anos, não adiantou muito ter sido beneficiária por quatro anos da Leve Saúde. Moradora de Niterói, na Região Metropolitana, ela relata alguns dos problemas que teve com a empresa.
''No momento da adesão, me foi passada uma listagem bem abrangente em quase toda a cidade, mas no momento em que passou a carência e comecei a utilizar os serviços, percebi que os associados não eram tantos assim. E durante os quatro anos em que fui cliente, a dificuldade para marcar um exame ou uma simples consulta foi ficando mais difícil, com a escassez de médicos'', conta.
''Uma vez eu vi na listagem que havia uma clínica aqui na Região Oceânica que atendia por essa empresa. Quando eu pesquisei por atendimento, já não havia mais. Outro exemplo: consegui uma clínica no Centro de Niterói que, supostamente, atendia com a Leve Saúde. Quando fui marcar um médico na terça passada, ele já não atendia mais'', denuncia.
Esta foi a última fez que Mônica tentou utilizar os serviços do plano antes de decidir pelo cancelamento. A reportagem buscou contato com a Leve Saúde, que afirmou que a ''rede de atendimento na cidade de Niterói está com dimensionamento adequado para atender seus clientes na região''.
Quem também faz uma reclamação contundente é a psicóloga Flávia Gonzalez, 40. Ela tem um filho com transtorno do espectro autista, de 4 anos, que fazia terapia em uma clínica em Petrópolis, na Região Serrana. Há pouco mais de dois meses, porém, a clínica deixou de oferecer o serviço, alegando que não estava recebendo repasses da operadora de plano de saúde de Flávia. Ela, que é beneficiária da Unimed-Rio, procurou outros locais, mas enfrentou o mesmo problema.
''Nenhuma outra clínica está aceitando fazer os atendimentos por conta do plano que não está realizando o repasse'', revela. Ainda de acordo com Flávia, a operadora alega que não está ciente do débito com a clínica.
Em nota, a Unimed-Rio informou que ''vem negociando diretamente com os prestadores especializados em tratamentos de casos de transtorno do espectro autista, de forma a garantir o acesso e o atendimento aos clientes sem qualquer impacto.''
Reajustes também são alvo
Outra queixa generalizada é com relação aos reajustes. O modelo de precificação é dividido em dez faixas etárias e todas elas sofrem aumento ano a ano.
Procurada por O DIA, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula os planos, forneceu dados sobre o preço médio dos seguros de saúde individuais. No gráfico abaixo, feito a partir destes dados, é possível observar as mudanças de valores:
Nesta situação, uma pessoa de 53 anos, em 2022, pagaria um plano no valor médio de R$ 1.018. Já no ano seguinte, esse valor médio passaria a ser de R$ 1.397, porque o segurado teria que arcar com o reajuste anual e a troca de preço pela faixa etária. Ou seja, um aumento de quase 40% em um ano. Para mais informações sobre preços médios de planos de saúde, basta acessar o link.
De acordo com a pesquisa do Idec, uma a cada três reclamações de consumidores no país é a respeito de problemas com planos de saúde. Confira:
Para registrar alguma reclamação com relação ao seu plano de saúde, basta acionar o Disque ANS, através do 0800 701 9656. Também é possível registrar queixas on-line neste link. A ANS também registra queixas presencialmente em seus núcleos. Confira os endereços.
Abramge trabalha por melhora
Em contrapartida, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) diz que ''compreende que casos pontuais podem não alcançar o nível de excelência esperado por beneficiários de planos de saúde, porém entende que essa não é a regra do setor.''
A entidade também afirma que o "Datafolha, o Ibope e o IBGE já realizaram pesquisas sobre o setor e apontaram uma satisfação de cerca de 80% dos entrevistados."
Por fim, a Abramge ressalta que as operadoras de planos de saúde estão trabalhando para ampliar infraestrutura de atendimento, melhorar sistemas e organizar redes e assim trazer a saúde suplementar brasileira para uma rota de sustentabilidade que promova o acesso ao sistema privado de saúde.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.