Aumento dos ovos chama a atenção dos consumidoresReginaldo Pimenta/Agência O Dia

As altas temperaturas que afetam os brasileiros neste mês de fevereiro não provocam desconforto somente nas atividades do dia a dia, mas também no bolso das pessoas. Isso porque diversos produtos tiveram acréscimo no seu valor em decorrência do calor intenso.


Para ver de perto a variação de preços, O DIA foi até uma feira livre na Tijuca, Zona Norte, conversar diretamente com feirantes e consumidores. Os ovos foram os produtos mais mencionados quando o assunto é aumento.

José Maurício, de 76 anos, que vende o alimento desde 1980, explicou que precisou aumentar mais de 10% do valor da dúzia de ovos vermelhos desde dezembro.

"São muitos fatores que fazem o preço do ovo aumentar. Em dezembro eu vendia a dúzia de ovos vermelhos por R$ 13, agora vendo por R$ 15, mas não estou ganhando nada a mais com isso", explicou.

Com sua experiência comercializando o produto, ele apontou também que uma crise nos Estados Unidos envolvendo gripe aviária fez com que o país norte-americano importasse ovos brasileiros, deixando menos disponíveis para os comerciantes locais.

"Acho que estão vendendo muito para fora devido à crise dos ovos nos Estados Unidos e vendendo para nós uma parte menor, que é a que sobra. Por conta disso, vejo o preço aumentando. O milho que alimenta a galinha aumentou também. Tudo isso faz o preço final ficar maior", contou.
José Maurício é feirante desde 1980 e comentou o aumento do preço dos ovos - Reginaldo Pimenta/Agência O Dia
José Maurício é feirante desde 1980 e comentou o aumento do preço dos ovosReginaldo Pimenta/Agência O Dia


A freguesa Natália Norões disse que sentiu esse aumento com relação aos ovos, e também com relação às frutas.

"Eu compro sempre aqui. Eu percebi esse aumento. Senti muito o aumento dos ovos. De fruta, eu diria que o abacaxi parece ter aumentado bastante. O mamão. também. Eu como a fruta todo dia, então já muda para mim, fica difícil. A gente precisa apertar um pouco para consumir as mesmas coisas".

O comerciante de frutas André Guerra apontou que muitos feirantes têm ganhos mínimos com relação à venda deste tipo de produto. Mesmo assim, alguns clientes ficam insatisfeitos com ele, acreditando que o vendedor tem lucro maior.

"Aumentou tudo, mas teve um acréscimo maior para certas frutas. O abacaxi está custando para nós entre R$ 10 e R$ 12, que é o preço que eu gostaria de estar vendendo aqui. Acabo tendo que vender por R$ 15 e o lucro para nós fica menor. Mesmo assim os clientes acham absurdo, sendo que os meus ganhos são reduzidos", explicou.


A reclamação é um pouco menor quando o assunto são as verduras. O vendedor Douglas Silva explicou que um aumento esta época do ano já era esperado, mas que a variação acabou sendo um pouco maior que o de costume.

"Sempre no verão a tendência é aumentar um pouco o preço. Recentemente eu sinto que aumentou um pouquinho mais que o normal. O consumidor acha mais caro, mesmo assim o pessoal compra", diz..

"Tem comerciante que está aqui com preço mais alto que o normal. Sinto muito isso com relação às frutas, mais do que com relação às verduras", disse a freguesa Andreia Oliveira.

O francês Christophe Real e sua namorada, Beatriz Benetti, também marcaram presença na feira. Para eles, apesar de haver uma variação nos preços, ainda vale a pena consumir nas feiras em comparação a supermercados, onde o produto também variou de preço.
Por que isso ocorre?

Para entender o porquê destes aumentos, O DIA convidou o doutor em agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) João Araújo, que detalhou como as questões climáticas podem afetas a produção e, consequentemente, o preço final dos produtos.

"O clima tem relação direta sobre o desenvolvimento e produtividade dos alimentos. Extremos climáticos interferem sobre a fisiologia dos cultivos e criações. Períodos de altas temperaturas causam estresses por calor, radiação e/ou deficiência de água para irrigação e as consequências são notadas no campo, seja sobre a produtividade, qualidade ou morte dos cultivos. Logo afetará a oferta regular e elevará o preço nos Ceasas, nas feiras e supermercados", explica.

Ele também explicou que os produtos frescos tendem a ser os mais afetados. "Quando atravessamos um verão extremo e seco como esse de 2025, o impacto é inevitável sobre a oferta. Dessa forma, alimentos frescos como verduras, legumes e frutas tendem a encarecer nessa época", complementa.

E por que o ovo subiu tanto?
Segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (IPC-Fipe), o valor do ovo subiu 4,32% na segunda quadrissemana de fevereiro. Araújo lembra que há uma relação direta entre o calor e o preço dos ovos por conta do bem-estar dos animais.

"Os ovos são produzidos por galinhas poedeiras em granjas. Esses locais precisam ter uma ambiência, isso quer dizer o controle de temperatura e umidade dentro do ambiente onde ficam milhares de galinhas", afirmou.

"À medida que a temperatura aumenta, é preciso ter um gasto de energia maior para tentar manter o conforto térmico desses animais. Apesar disso, muitas aves morrem em decorrência da alteração da temperatura, o que é comum em períodos de calor intenso. Além disso, as aves que sobrevivem muitas vezes estão estressadas e, com isso, a produtividade cai. Portanto a oferta fica prejudicada, causando uma elevação nos preços", concluiu.

Ainda segundo ele, a alimentação dos animais, à base de milho, produto que também registrou aumento, é outro fator importante.

"A ração destes animais é uma composição em que o milho é a fonte principal. Como o milho também está sujeito a aumentos pela queda de produtividade, o custo para alimentar as galinhas e produzir o ovo fica um pouco maior, fazendo com que o granjeiro precise repassar esse custo".

O especialista destacou ainda que pode haver um aumento do valor dos ovos por conta das vendas para os Estados Unidos, como mencionado pelos feirantes, mas não acredita que este seja o motivo principal para o aumento.
João Araújo, doutor em agronomia pela UFRRJ - Arquivo Pessoal
João Araújo, doutor em agronomia pela UFRRJArquivo Pessoal


Calor intenso

O Rio de Janeiro bateu na segunda-feira, 17, o recorde de temperatura registrada nos últimos dez anos: 44ºC, às 12h10, na estação meteorológica de Guaratiba, na Zona Oeste. Foi o dia mais quente do ano e desde que o Sistema Alerta Rio passou a fazer a medição, em 2014.
O município entrou no Nível de Calor 4 (NC4), às 12h35 da segunda, pela primeira vez desde a criação do Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo por parte da prefeitura. Este é o segundo nível mais alto da escala, que vai até o NC5. O NC4 é declarado quando há registro de temperaturas entre 40 graus e 44 graus por, ao menos, três dias consecutivos.
A temperatura registrada recentemente afeta diretamente a produção de diversos alimentos.