Engraxate trabalha no Centro do RioPedro Ivo/Agência O Dia
"Está mais difícil agora. O movimento caiu 50% desde a época da covid. Muitas pessoas começaram a trabalhar em home office. Tínhamos muitos clientes que trabalhavam aqui perto", explica.
Ele diz que sua meta agora é investir na divulgação da empresa. Ele acredita que esta é a receita para turbinar o movimento da loja.
"Vou começar a divulgar melhor agora. As donas anteriores falaram que não precisava, mas agora eu vou turbinar essa engraxataria".
"O que acontece é que o mercado é muito pequeno na procura por alfaiates, mas o número de profissionais também é. Por conta disso, há um casamento razoável de oferta e demanda".
O profissional costuma fazer roupas para clientes que possuem um poder aquisitivo maior. Em 2016, ele chegou a fazer roupas para o prefeito Eduardo Paes, que estava no fim de seu segundo mandato.
Eluiz explicou que os principais desafios de sua profissão envolvem a manutenção do cliente:
"Procuro trabalhar com seriedade e oferecer um produto de qualidade. Faço também o que chamo de Vip Service. Eu vou até os clientes, trazendo mais comodidade a eles, seja no domingo ou nos feriados. Oferecendo um bom serviço, tenho mais chances de um cliente me chamar de novo ou me indicar para alguém."
Além desses profissionais, há existem figuras cada vez menos presentes no nosso dia a dia. Um grande exemplo disso são os cobradores de ônibus, já que muitas empresas aboliram a função e atribuíram ao motorista a tarefa de cobrar o valor dos passageiros.
A Viação Pendotiba, que opera linhas em Niterói e linhas intermunicipais (Niterói-Rio), ainda trabalha com cobradores. A empresa forneceu informações sobre seu quadro de funcionários e mostrou a diferença do número de contratados nas duas funções.
"Entendemos ser importante a manutenção de postos de trabalhos dos colaboradores, de acordo com as necessidades, onde empregamos em torno de 60 cobradores e 330 motoristas", diz a empresa por meio de nota.
Das quase 20 linhas operadas pela empresa, apenas três têm a função: Oceânica 1, 2 e 3.
"Nestas linhas operamos com veículos BHLS (Bus with High Level of Service) de tipologia diferente dos veículos convencionais, além de possuírem portas de embarque e desembarque nos dois lados dos veículos, que impedem a utilização tão somente do motorista", esclarece a empresa.
O sociólogo e cientista político pela UFRJ Rafael Mello analisa as duas situações, tanto a de profissionais como o alfaiate e o engraxate, quanto a dos cobradores de ônibus.
"A tecnologia não é 'vilã', mas seu uso reflete as prioridades do sistema econômico. Automatizar funções como a de cobrador reduz custos para empresas, mas ignora o impacto social: trabalhadores perdem empregos sem rede de proteção. E a responsabilidade por serviços (como segurança ou atendimento) é transferida para passageiros ou motoristas sobrecarregados. Historicamente, máquinas no campo, durante a Revolução Industrial, também substituíram mão de obra, gerando êxodo rural e precarização", compara.
Já sobre os demais profissionais, cada vez menos vistos, Rafael aponta que "a substituição de profissões é comum na história". "Oficinas artesanais deram lugar a fábricas, sapateiros a indústrias de calçados. O que era feito com cuidado individual virou produção em série, reduzindo o trabalho a tarefas repetitivas e substituíveis. O avanço tecnológico, porém, não precisa ser sinônimo de exclusão. Se a produtividade aumenta, por que não reduzir jornadas de trabalho e distribuir os ganhos? Em vez disso, o sistema concentra riquezas", destaca.
Clientela
A jornalista Suzana Moura é cliente do sapateiro conhecido como "Sr. Zé", no Centro de Niterói. Ela contou o que a faz buscar por este tipo de profissional cada vez mais raro.
"Sempre fui a favor de levar sapatos dos quais gosto muito para o conserto. Primeiro, porque quando eu faço uma compra eu nunca olho só o preço, principalmente se tratando de sapatos, que eu amo. Olho a qualidade, e um sapato de boa qualidade não é tão barato. Segundo, porque prezo pelo conforto e se o sapato une qualidade e conforto, eu vou querer que ele dure o máximo possível", diz.
"O capitalismo nos seduz o tempo inteiro que temos que sempre ter mais e comprar mais, e se tratando de sapatos, se for de qualidade ruim, não vai durar muito e teremos que substituir em pouco tempo", completa.
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