Beatriz Souza ganhou o primeiro ouro do Brasil em ParisLuis Robayo / AFP
Publicado 06/08/2024 15:12
Rio - A judoca Beatriz Souza emocionou o Brasil ao conquistar a primeira medalha de ouro do país nos Jogos de Paris. Logo após derrotar a israelense Raz Hershko, na categoria acima de 78kg, a paulista protagonizou uma cena marcante ao conversar com seus pais, por telefone, e dedicar a conquista à sua avó, que havia morrido cerca de um mês antes do início da Olimpíada.
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A avó materna da judoca, dona Brecholina, faleceu no dia 22 de junho, aos 87 anos, após de sofrer um acidente em sua casa e quebrar o fêmur. A idosa passou por uma cirurgia, mas não resistiu. Em entrevista ao DIA, os pais de Bia, Solange Rodrigues Silva Souza e Poscedônio José Souza Neto, detalharam o drama vivido pela família pouco antes dos Jogos.
"Foi um baque muito grande para a família, pois ninguém estava esperando. A gente é uma família muito unida e as netas eram muito ligadas à avó. Minha mãe amava os netos dela. Duas vezes no mês, a gente se reunia para um almoço aos domingos. Todos os dias elas faziam chamada de vídeo para conversarem. A Bia foi para Paris com o coração muito triste, mas com a garra e a determinação de fazer o melhor", disse Solange.
Apesar do choque emocional poucos dias antes da Olimpíada, a judoca conseguiu superar a perda da avó. De acordo com Solange, o apoio familiar e o acompanhamento psicológico que Bia recebe do Pinheiros - clube onde treina - foram cruciais para a atleta ter a resiliência de superar essa adversidade e se concentrar na competição.
"Ela nunca pensou em desistir, ainda mais em Olimpíadas. A dor e o luto vão ficar, mas temos nossas obrigações e temos que cumprir nossos compromissos. Foi um esforço de muitos anos, com muita gente envolvida, para chegarmos nesse dia. Ela treinou bastante para isso. Foram momentos tristes e agora temos uma vitória", comentou.
A atleta optou por não levar os familiares a Paris para poder se concentrar nos Jogos. Para seu pai, a estratégia foi certeira pois permitiu que ela mantivesse o foco e se dedicasse exclusivamente à competição.
Sem sua família por perto, Bia protagonizou uma cena emocionante após a luta do ouro. Depois de vencer a israelense Raz Hershko, a judoca teve uma rápida conversa com os pais, ainda à beira do tatame, através de uma ligação, e dedicou a medalha à sua avó.
"A homenagem que ela prestou à minha mãe foi muito linda. Uma homenagem mundial. Tenho certeza que onde quer que ela esteja, ela adorou. Nós ainda estamos tristes, porque foi uma coisa repentina. Ela estava bem. Vai ficar uma saudade, mas também uma lembrança boa, principalmente depois dessa homenagem", disse Solange.
Carreira recheada de medalhas
Primeira mulher brasileira a conquistar um ouro como estreante em Olimpíada, a campeã tem uma carreira recheada de pódios. Desde os torneios de categoria de base, Beatriz Souza se acostumou com as vitórias. Na Olimpíada de Paris, a judoca conquistou duas medalhas em menos de 24 horas. Além do ouro no individual, foi bronze na disputa por equipes.
Nascida em Itariri e criada em Peruíbe, no litoral Sul de São Paulo, Bia conheceu o judô com apenas sete anos. Praticante do esporte, seu pai foi o grande motivador para que ela desse os primeiros passos na modalidade. Aos quatro anos, ela até chegou a tentar ser nadadora, mas foi na luta que ela se encontrou.
"Eu lutei judô por 15 anos e em um desses treinos eu levei as minhas filhas. No primeiro treino ela ficou empolgada e no segundo começou a treinar, já se sentia uma judoca. Ela viu que esse era o esporte favorito e o futuro dela", disse Poscedônio.
Bia começou a treinar na academia da cidade, na Associação Budokan de Peruíbe, com o sensei Wagner Silva, seu primeiro treinador. Desde pequena ela já demonstrava ter potencial e chamou a atenção do Palmeiras, primeiro clube que ela treinou antes de ir para o Pinheiros.
Apesar de praticar judô e ter sido o grande incentivador de Bia, Poscedônio José encarava a luta muito mais como um estilo de vida do que uma profissão. Militar, ele explica que começou a treinar tarde e não tinha como abandonar tudo para viver do esporte.
"Comecei a treinar adulto. Tinha que trabalhar, não podia depender só do esporte. Mas ela fez a minha parte. O que eu não fiz, ela fez por mim. O pessoal aqui da cidade, da academia, ficaram muito contentes com a representação dela. Hoje ela é um dos grandes expoentes da nossa cidade", disse.
Além do ouro olímpico no individual e o bronze na disputa por equipes na Olimpíada de Paris, Bia ainda coleciona seis pódios mundiais e três medalhas nos Jogos Pan-Americanos. Em toda sua carreira, a judoca soma 15 medalhas de ouro, 14 de prata e 21 de bronze nas competições individuais.
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Lucas Felbinger
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