Carruagens carregam as 22 múmias de faraós egípcios para sua nova casa no Museu Nacional da Civilização EgípciaKHALED DESOUKI / AFP
Por AFP
Publicado 04/04/2021 08:59
Um desfile inédito com as múmias de 22 faraós do Egito antigo, entre os quais estava Ramsés II, conduziu solenemente neste sábado (3) pelas ruas do Cairo estes lendários reis e rainhas até sua nova morada, o Museu Nacional da Civilização Egípcia (NMEC).
Sob estrita vigilância policial, o "Desfile Dourado" dos faraós, a bordo de veículos que imitavam carros fúnebres da época, cruzou em 30 minutos os sete quilômetros que separam a Praça Tahrir, onde fica o museu histórico e onde as múmias repousavam há mais de um século, e o NMEC.
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Tanto a Praça Tahrir, recentemente decorada com um obelisco antigo e quatro esfinges com cabeça de cabra, quanto suas imediações foram fechadas "a veículos e pedestres", segundo o ministério do Interior.
Em sua chegada, os reis e rainhas foram saudados por 21 salvas de canhão.
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Os egípcios puderam acompanhar pela TV estatal o desfile dos 18 reis e quatro rainhas, que contou com uma cerimônia de abertura cuidadosamente coreografada.
Além da TV, o cortejo foi transmitido ao vivo pelo Twitter, com a hashtag em árabe #comboio_das_mumuas_reais, e virou 'trending topic' mundial.
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"Este grandioso espetáculo é uma prova a mais da grandeza (...) de uma civilização única que chega às profundezas da história", reagiu no Twitter o presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi.
Em ordem cronológica, o faraó Sekenenré Taá (século XVI a.C.), da 17ª dinastia, abriu o cortejo, encerrado por Ramsés IX (século XII a.C.), da 20ª.
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Entre as múmias mais famosas estavam as de Hatsheptsut e Ramsés II.
Banhada por uma luz azul, a procissão saiu do museu centenário, acompanhada por figurantes vestidos com trajes faraônicos, em carroças puxadas por cavalos, ao som de tambores e com uma música sinfônica ao fundo.
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Pouco antes do início do desfile, o famoso cantor egípcio Mohamed Munir interpretou uma canção composta para a ocasião. Vários atores, como os egípcios Ahmed Zaki e Mona Zaki e o tunisiano Hend Sabry recitaram textos sobre a civilização egípcia.
No total, 60 mortos, 150 cavalos, 330 figurantes, 150 músicos e 150 percussionistas do Ministério da Defesa participaram do evento, segundo as autoridades, segundo as autoridades.
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O NMEC, que ocupa um grande prédio ao sul do Cairo, inaugurado parcialmente em 2017. abrirá as portas neste domingo, 4 de abril. Mas as múmias só poderão ser visitadas pelo público em 18 de abril.
O culminar
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A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, presente no desfile, afirmou em um comunicado na sexta-feira que a transferência das múmias ao NMEC era "o culminar de um longo esforço para preservá-las e exibi-las melhor".
"A história da civilização egípcia desfila diante de nossos olhos", acrescentou a líder da organização da ONU, que participou da criação do NMEC.
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A maioria das 22 múmias, descobertas perto de Luxor, no sul do Egito, a partir de 1881, não saiu do museu no centro do Cairo, localizado na famosa Praça Tahrir, desde o início do século XX.
Desde a década de 1950 estavam expostas, lado a lado, em uma pequena sala, sem explicações museográficas claras ao visitante.
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As múmias foram transportadas cada uma dentro de um tanque especial com o nome do soberano e dotado de mecanismos de absorção de impactos, em uma envoltura que contém nitrogênio para conservá-las.
No NMEC, serão expostas em caixões mais modernos "para um melhor controle da temperatura e da umidade do que no antigo museu", explicou à AFP Salima Ikram, professora de Egiptologia da Universidade Americana do Cairo, especialista em mumificação.
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As múmias serão apresentadas individualmente, ao lado de seus sarcófagos, em um ambiente que lembra as tumbas subterrâneas dos reis, e cada uma terá uma biografia e objetos relacionados com os soberanos.
A maldição dos faraós
Passados anos de instabilidade política após a revolta popular em 2011, que afetou gravemente o turismo no país, o Egito procura uma maneira incentivar o retorno dos visitantes, em particular promovendo a cultura.
Além do NMEC, o Egito deve inaugurar em poucos meses o Grande Museu Egípcio (GEM), próximo às pirâmides de Gizé, que abrigará coleções faraônicas.
Segundo Walid al Batuti, conselheiro do ministro do Turismo e Antiguidades, o desfile "mostra que depois de milhares de anos, o Egito conserva um grande respeito por seus dirigentes", declarou ao canal público Nile TV International.
O grande desfile, anunciado pelas autoridades através de vídeos on-line, causou sensação nas redes sociais.
Com a hashtag em árabe #maldicao_dos_faraos, muitos internautas associaram as recentes catástrofes ocorridas no Egito a uma "maldição" que teria sido provocada pelo deslocamento das múmias.
Em uma semana, o Egito experimentou o bloqueio do canal de Suez por um navio cargueiro, um acidente ferroviário que deixou 18 mortos em Sohag (sul) e o desabamento de um prédio no Cairo que provocou a morte de pelo menos 25 pessoas.
A "maldição do faraó" já tinha sido evocada nos anos 1920, depois da descoberta da tumba de Tutancâmon, seguida das mortes consideradas misteriosas de membros da equipe de arqueólogos.
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