Desde a madrugada deste domingo, 42 palestinos, incluindo ao menos oito crianças e dois médicos, foram mortos em bombardeios israelenses em Gaza, um enclave pobre de dois milhões de habitantes sob bloqueio israelense há quase 15 anosAFP
Por AFP
Publicado 16/05/2021 19:17
Os atentados israelenses neste domingo (16) em Gaza mataram pelo menos 42 palestinos, o maior número de vítimas em um dia desde o início da escalada militar, enquanto uma reunião do Conselho de Segurança da ONU não levou a nenhum avanço.

“Este ciclo insensato de derramamento de sangue, de terror, de destruição, deve cessar imediatamente”, declarou o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, na abertura de uma sessão de emergência do Conselho de Segurança. Ele disse temer que a violência "desencadeie uma crise incontrolável" na região.

Esta terceira reunião virtual, porém, não resultou em nenhuma proposta. Segundo vários diplomatas entrevistados pela AFP, os Estados Unidos, exibindo uma posição que muitos de seus aliados consideram incompreensível, se recusaram novamente a emitir uma declaração conjunta que permitiria uma rápida interrupção dos confrontos.

Desde a madrugada deste domingo, 42 palestinos, incluindo ao menos oito crianças e dois médicos, foram mortos em bombardeios israelenses em Gaza, um enclave pobre de dois milhões de habitantes sob bloqueio israelense há quase 15 anos.

Este é o maior número de mortes diárias em Gaza desde o início do novo ciclo de violência, em 10 de maio. Um total de 192 palestinos foram mortos, incluindo 55 crianças, e 1.230 feridos, de acordo com o último balanço fornecido pelas autoridades palestinas.

Em Israel, dez pessoas foram mortas, incluindo uma criança, e 282 feridas, em disparos de foguetes palestinos desde segunda-feira.

Grupos armados palestinos, incluindo o Hamas no poder em Gaza, dispararam mais de 3.100 foguetes contra Israel desde 10 de maio, segundo o exército israelense, que ressaltou que grande parte foi interceptada.

Em Gaza, o número de mortos seguia aumentando enquanto as equipes de resgate lutavam para remover os corpos dos escombros, para o olhar horrorizado de membros das famílias.

Dezenas de feridos foram evacuados para o vizinho Egito. Três comboios, com 263 palestinos feridos a bordo, cruzaram o posto de Rafah para a região egípcia do Sinai para serem atendidos, afirmaram fontes médicas e autoridades.

Enquanto isso, em Jerusalém, um veículo colidiu contra soldados israelenses que patrulhavam no bairro de Shaykh Jarrah, em Jerusalém Oriental. O ataque deixou vários feridos, segundo as equipes de resgate e a polícia israelense, que disseram ter "neutralizado" o agressor, sem especificar se ele estava morto ou ferido.

Cenas de terror 
Abu Anas Achkanani, morador do bairro de Al-Rimal em Gaza, alvo dos ataques, disse que perdeu sua cunhada e quatro sobrinhas e sobrinhos, o mais velho de apenas 11 anos.

"Eu estava na casa ao lado (...) De repente, por volta das 12h, 12h15, houve o ataque na rua e foi um inferno! (...) Descemos para ver, foi surreal. Tiramos a mãe dos escombros com as crianças".

Alcançando um novo nível em sua guerra contra o Hamas, o Exército israelense anunciou no Twitter que havia "atacado a casa de Yahya Sinouar e de seu irmão, um militante terrorista", postando um vídeo mostrando uma residência destruída envolvida numa nuvem de poeira.

Fontes de segurança palestinas confirmaram o ataque à casa de Sinwar, mas seu destino é desconhecido por enquanto.
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Alvo legítimo
No sábado, um prédio de 13 andares onde ficavam os escritórios da emissora Al Jazeera, do Catar, e da agência de notícias Associated Press (AP), dos Estados Unidos, foi reduzido a escombros em um bombardeio do exército israelense, que havia pedido a evacuação do prédio.

Segundo o exército, o imóvel também abrigava "entidades pertencentes à inteligência militar" do Hamas, acusadas de usar civis como "escudos humanos".

Em entrevista ao canal norte-americano CBS, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu justificou o atentado, afirmando que se tratava de "um alvo perfeitamente legítimo". Ele garantiu se basear em informações dos serviços de inteligência.

Os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) iniciaram neste domingo um processo perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) devido aos atentados contra os veículos de comunicação, alegando que eles podem constituir "crimes de guerra", disse um porta-voz da associação à AFP.

Esta nova escalada do conflito estourou após o lançamento por Gaza de uma rajada de foguetes contra Israel em "solidariedade" às centenas de palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, um setor palestino ocupada por Israel desde 1967.

Os tumultos na esplanada, terceiro lugar sagrado do Islã, foram o culminar de fortes tensões e confrontos em Jerusalém Oriental, principalmente devido à ameaça de expulsão de famílias palestinas em favor de colonos judeus em um bairro da Cidade Santa.

As hostilidades se espalharam para a Cisjordânia, outro território palestino ocupado por Israel desde 1967, onde confrontos com o exército israelense deixaram 19 palestinos mortos desde 10 de maio.
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