Publicado 09/06/2021 15:57
O candidato de esquerda Pedro Castillo já se apresenta como vencedor da acirrada eleição presidencial de domingo no Peru, onde uma apuração lenta 48 horas depois continua sem determinar um vencedor oficial, embora o professor rural esteja à frente de Keiko Fujimori e inclusive já tenha recebido algumas felicitações, como a do ex-presidente da Bolívia Evo Morales.
Morales felicitou, nesta quarta-feira (9), a "vitória" de Castillo, que já se considera vencedor ao ampliar sua vantagem sobre a direitista Keiko Fujimori, 50,2% contra 49,7% para a candidata conservadora, após contabilizar 98,3% dos votos até 10h30 locais (12h30 no horário de Brasília), segundo o órgão eleitoral peruano ONPE.
"Muitas felicidades por essa vitória, que é a vitória do povo peruano, mas também do povo latino-americano que quer viver com justiça social!", tuitou o ex-presidente esquerdista indígena (2006-2019).
Em uma mensagem para simpatizantes na sede do partido Peru Libre, no centro de Lima, Castillo disse que seus observadores consideram certa a vitória no segundo turno. Ele pediu a seus seguidores que não caiam em provocações e inclusive agradeceu as felicitações por sua "vitória" enviadas por países da América Latina.
"Seremos um governo respeitoso da democracia, da atual Constituição e faremos um governo com estabilidade financeira e econômica", disse Castillo na terça-feira à noite.
"Quero expressar em nome do povo peruano às personalidades de diversos países que esta tarde expressaram saudações ao povo peruano", acrescentou, em referência a mensagens de "embaixadas e governos da América Latina e de outros países".
Castillo tem 50,20% dos votos, contra 49,79% da rival, após a apuração de 98,3% das urnas, mas a disputa permanece aberta, segundo fontes do Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE).
Como nas três últimas eleições presidenciais no Peru, quase tão acirradas como a atual, a apuração oficial demora por conta dos votos das zonas rurais, das áreas de selva e do exterior, onde estão registrados um milhão de eleitores.
No exterior, Fujimori tem até o momento 66,48% dos votos, contra 33,51% do candidato de esquerda, com 89,47% destas cédulas apuradas.
"Mas reverter a diferença será muito difícil, devem faltar mais votos por contar do Peru que do exterior", declarou à AFP o analista Hugo Otero.
Ele se refere ao fato de que o ONPE ainda precisa contabilizar pouco menos de 2% das urnas do Peru, a maioria de zonas remotas que podem representar mais votos para Castillo que aqueles que ainda faltam do exterior.
"Acredito que Castillo vai ganhar, mas temos que esperar até que o ONPE anuncie o resultado oficial", disse Otero.
"Mentiras, mentiras"
Pouco depois do fim da votação no domingo, a filha do detido ex-presidente Alberto Fujimori liderava a apuração, mas com o avanço da contagem dos votos Castillo se aproximou e virou o resultado: na terça-feira à noite a vantagem era de mais de 100.000 votos.
Fujimori denunciou na segunda-feira "indícios de fraude".
O ONPE nega a possibilidade de fraudes, assim como a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que classificou o processo de normal e transparente.
"Mentiras, mentiras, mais do mesmo: O Fujimorismo", afirma o título de um comunicado divulgado pelo partido de Castillo, no qual destaca que "não é um segredo a antiga prática do fujimorismo sobre fraudes eleitorais".
Entre outras coisas, o partido de Castillo recorda "a vingança da senhora Keiko Fujimori por não aceitar os resultados do ano de 2016", quando perdeu a votação para Pedro Pablo Kuczynski por uma margem estreita (50,12% contra 49,88%). Após a impugnação da época das atas, o ONPE demorou sete dias para declarar seu rival oficialmente presidente do Peru.
Enquanto os partidários de Castillo começam a cantar vitória, quase 200 seguidores de Fujimori, em sua maioria das classes média e alta de Lima, se reuniram na terça-feira diante da sede do ONPE para denunciar "fraude".
A incerteza aumenta em um país abalado por crises políticas que resultaram em quatro presidentes desde 2018, três deles em apenas cinco dias em novembro do ano passado.
As eleições deixaram evidente que o país não tem apenas uma disputa política, mas também entre Lima e o interior do país, relegado por séculos e muito afetado pela recessão econômica provocada pela pandemia.
Na região andina de Cusco, a antiga capital do império inca, Castillo recebeu 83% dos votos, e em Puno, às margens do lago Titicaca, 89%. Nestas áreas predominam as populações quechua e aymara, respectivamente.
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