Estrutura da catedral ficou abalada após bombardeio na cidadeOleksandr Gimanov/AFP
"A ameaça é que a parte onde o míssil caiu está se movendo", explica o prefeito, Gennady Troukhanov, em frente à catedral ortodoxa parcialmente destruída após ter sido atingida na noite de sábado (22).
"Começaremos a derrubar o muro imediatamente. Temos medo que arraste todo o edifício quando cair", acrescentou, dirigindo-se ao metropolita Agafanguel, responsável pela diocese.
"Nunca tínhamos visto ataques assim", afirma o prefeito.
Construída há mais de 200 anos, a catedral chegou a ser destruída por soviéticos em 1936 e foi reconstruída no início dos anos 2000 com o dinheiro obtido através de doações. Foi consagrada em 2010 pelo Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill.
O prefeito da cidade pediu ao metropolita ortodoxo que autorize o processo de demolição parcial do edifício.
"Explique aos paroquianos que é perigoso e eles não deveriam estar aqui", disse Troukhanov. "É uma tragédia. Que lugar sagrado!", respondeu o religioso.
Ódio e incompreensão
No interior, voluntários limparam o chão e empilharam ícones quebrados e estilhaçados. Os murais recém-concluídos foram arrancados, expondo a estrutura de concreto e metal.
"Essas paredes foram construídas com nossas mãos, com nosso amor. Quanta dor", lamenta uma fiel Galyna, que vende velas para arrecadar fundos para a restauração.
"Esta igreja é o orgulho de Odessa", complementa outra fiel de mesmo nome, enquanto examina uma imagem de Maria que resistiu ao incidente e permaneceu quase intacta.
O edifício pertence à Igreja Ortodoxa Ucraniana, ligada ao Patriarcado de Moscou. Embora tenha rompido relações com a Rússia, muitos na Ucrânia o consideram leal ao Kremlin.
O porta-voz da diocese de Odessa, o decano Maximian Pogorelovsky, afirma, como outros eclesiásticos, ter sentido "ódio" e "incompreensão" diante do bombardeio russo.
"Podemos afirmar que eles (os russos) apontaram para a catedral, provavelmente para nos assustar", analisa.
O Kremlin, por sua vez, nega ter atacado o edifício, garantindo que a destruição foi causada por mísseis antiaéreos ucranianos, disparados para interceptar foguetes russos que caíam sobre a cidade.
Além da catedral, os recentes bombardeios afetaram a Casa Histórica dos Cientistas e prédios residenciais próximos ao porto. No último andar de um edifício do século XIX, a estudante e bailarina Asia Kashperuk guarda seus pertences entre paredes destruídas e um teto perfurado.
"É o que restou de nosso apartamento", lamentou.
De acordo com Katarina, mãe de Asia, as autoridades disseram que seu prédio estava sob proteção da Unesco e, portanto, "não podiam fazer nada". "Será que vão esperar que ela desmorone?", questiona a mulher.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.