Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kulebaafp
"A verdade é que até que consigamos vencer, nós vamos precisar de mais (armas), precisamos seguir adiante, porque a guerra é uma realidade e, nesta realidade, nós precisamos de vencer. Não há outro caminho", afirmou o ministro em uma entrevista à AFP na quarta-feira, 16.
"Se nossos aliados solicitarem uma garantia de que esta ou aquela arma será utilizada apenas em território ucraniano, nós apresentamos esta garantia e a respeitamos", disse o chanceler. "Houve algumas ocasiões em que fizemos tais promessas e as cumprimos", insistiu.
O ministro também explicou que a contraofensiva iniciada pelas forças ucranianas em junho tem como "objetivo" libertar todo o território do país.
"Nosso objetivo é a vitória, a vitória sob a forma de libertação de nossos territórios dentro das fronteiras de 1991", declarou na entrevista. "E não importa o tempo que vai demorar", acrescentou.
As fronteiras de 1991 são as da Ucrânia independente após o colapso da União Soviética, que incluem a Crimeia, península anexada pela Rússia em 2014.
A contraofensiva ucraniana conseguiu recuperar pequenas localidades, mas enfrenta muitas dificuldades para romper as sólidas linhas de defesa russas.
A Ucrânia, cujas perdas militares e civis desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, são avaliadas em mais de 100 mil mortos ou feridos, segundo os países ocidentais, "paga o preço mais elevado" do conflito, admitiu o ministro.
"Mas enquanto o povo ucraniano compartilhar este objetivo, o governo ucraniano avançará de mãos dadas com seu povo", disse Kuleba.
"Estamos todos cansados. Eu estou cansado e vocês estão cansados, mas o que está em jogo é muito importante para permitir que o cansaço determine a natureza de nossas decisões", afirmou.
Libertar a África do "domínio" russo
"Perdemos muitos anos, mas vamos avançar para um renascimento ucraniano-africano, fazer renascer estas relações. Este continente precisa de um trabalho sistemático e de longo prazo", disse Kuleba.
Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, o chanceler ucraniano fez três viagens ao continente africano para tentar obter apoio contra Moscou.
Uma delegação de chefes de Estado africanos visitou Kiev em junho para propor uma mediação - rejeitada pela Ucrânia — e depois viajou a Moscou.
Embora "a maioria dos países africanos continue expressando sua neutralidade" diante do conflito, "está acontecendo uma lenta erosão das posições russas em África", disse o ministro, que citou Libéria, Quênia, Gana, Costa do Marfim, Moçambique, Ruanda e Guiné Equatorial entre os novos sócios de Kiev no continente. "Nossa estratégia não é substituir a Rússia, e sim libertar a África de seu domínio", acrescentou.
Kuleba acusou o Kremlin de usar "coerção, corrupção e medo" para manter os países africanos sob seu controle. Ele insistiu que Moscou tem apenas "duas ferramentas poderosas para trabalhar na África: propaganda e (o grupo paramilitar) Wagner".
O grupo Wagner está associado a países africanos, como Mali e República Centro-Africana, onde supostamente cometeu muitos abusos, acusam grupos de defesa dos direitos humanos e governos ocidentais.
Kuleba também chamou de "mentiras" as preocupações expressadas por Moscou sobre a segurança alimentar da África, depois que a Rússia abandonou um acordo que permitia as exportações de grãos ucranianos através do Mar Negro, apesar do conflito.
"Os africanos viram que as histórias de (Vladimir) Putin sobre como se preocupa com os países africanos são mentiras", disse Kuleba. "O agricultor ucraniano e o consumidor africano de pão são as pessoas que estão pagando o preço mais alto", acrescentou.
A Rússia abandonou o acordo em julho, o que provocou o temor de um aumento dos preços dos cereais, o que afetaria em particular os países mais pobres. O presidente russo prometeu fornecer grãos de maneira gratuita a seis países africanos.
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