Ex-presidente de Honduras, Juan Orlando HernándezAFP
Após um dia e meio de deliberações, o júri de 12 pessoas anunciou seu veredicto unânime pouco antes das 13h30 locais pelas três acusações atribuídas a ele pela Promotoria: culpado de conspirar para enviar cocaína aos Estados Unidos, traficar e possuir armas. Sua sentença será anunciada em 26 de junho, anunciou a Promotoria.
"Sou inocente, digam isso ao mundo, eu amo vocês", disse Hernández, de 55 anos, ao deixar a sala de audiência, dirigindo-se a seus familiares, entre elas duas cunhadas que vieram apoiá-lo, já que sua esposa e filhos não receberam vistos para viajarem aos Estados Unidos, e aos três generais que testemunharam a seu favor no julgamento.
Ao lado de seus advogados, após ouvir do juiz Kevin Castel que o júri havia chegado a um veredicto, o ex-presidente parecia rezar.
Depois, acompanhou o veredicto movimentando a cabeça com incredulidade, à medida que o porta-voz do júri respondia a cada uma das perguntas que o juiz formulou para estabelecer sua culpabilidade.
Seu advogado, Raymond Colon, anunciou que seu cliente vai recorrer da decisão. "Ele afirma que é inocente", disse.
Em Tegucigalpa, a esposa do ex-presidente, Ana García, afirmou em declarações à imprensa que o julgamento foi "injusto" e garantiu que seu marido "continuará lutando" até ao último dia para provar sua "inocência".
Entretanto, o governo defendeu em comunicado que "é imperativo desmantelar a organização criminosa que continua operando" e os seus cúmplices "devem pagar pelos seus crimes".
Segundo a Promotoria, o ex-presidente criou um "narcoestado" durante o seu mandato (2014-2022) e transformou seu país em uma "super autopista" por onde passava boa parte das drogas vindas da Colômbia com destino aos Estados Unidos.
A rede que ele protegeu teria enviado mais de 500 toneladas de cocaína para este país. Em troca, Hernández teria recebido milhões de dólares dos cartéis do tráfico, entre eles o de Sinaloa, do chefão mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.
O promotor Jacob H. Gutwillig lembrou o júri que o acusado tinha um discurso duplo: em público, promovia leis contra o narcotráfico e as extradições de traficantes aos Estados Unidos, reunindo-se com funcionários e autoridades americanos, mas "nada disso desfaz o que o acusado realizou por trás da porta". "É um narcotraficante", afirmou.
Benefício próprio
O ex-presidente "teve todas as oportunidades para ser uma força do bem em Honduras, mas escolheu abusar do poder e do país para seu próprio benefício", lamentou o promotor Damian Williams, em um comunicado emitido após a decisão.
JOH, acrônimo pelo qual é conhecido em seu país, seguirá assim os passos de seu irmão Tony Hernández e de Geovanny Fuentes, estreito colaborador deste, que cumprem prisão perpétua nos Estados Unidos. Outros condenados pelos mesmos crimes são Fabio Lobo, filho do ex-presidente Porfirio Lobo (2010-2014), e o deputado Fredy Renán Nájera.
"Hoje a justiça foi feita", disse eufórica a ativista de direitos humanos Lida Perdomo em frente ao tribunal, onde dezenas de hondurenhos se reuniram para aguardar o veredicto.
"Esperamos que o condenem no mínimo a três prisões perpétuas e isso ainda seria pouco para que ele pague todo o dano que fez ao meu país", afirmou Perdomo à AFP.
Ao ser perguntado pela AFP, o advogado de defesa Renato Stabile disse que, "obviamente, a decisão é dura, mas [o ex-presidente] mentalmente é muito forte".
Impunidade
Desde 2014, Honduras extraditou aos Estados Unidos 41 pessoas acusadas de narcotráfico, incluindo três por fentanil.
Boa parte das testemunhas apresentadas pela Promotoria colocaram em evidência a corrupção e os vínculos estreitos entre a política e o narcotráfico.
"A elite política, que também é a econômica, atuou em completa impunidade" durante os últimos 15 anos, desde o golpe de Estado de 2009, encorajada pelo "apoio que recebeu de governos estrangeiros, embora soubessem que estava fortemente envolvida no tráfico de drogas", assinalou à AFP a ativista americana Karen Spring, da organização Honduras Solidarity Network.
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