Gangues tentam paralizar Porto Príncipe, capital do Haiti, para derrubar o atual primeiro-ministro do paísLuckenson Jean / AFPTV / AFP
Hospitais sob ataque, escassez de alimentos e infraestruturas bloqueadas levaram a cidade a uma situação humanitária cada vez mais precária. O sábado (9) foi marcado por novos confrontos entre a polícia e gangues.
Porta-vozes militares dos Estados Unidos anunciaram neste domingo a realização de "uma operação para aumentar a segurança na Embaixada dos EUA em Porto Príncipe, permitir a continuação das operações" da missão diplomática e "a saída de funcionários não essenciais".
"O transporte aéreo de pessoal de e para a Embaixada é consistente com a nossa prática padrão do aumento de segurança", acrescentou um comunicado do Comando Sul do Departamento de Defesa americano.
A embaixada dos EUA publicou na rede social X que "o aumento da violência das gangues nas proximidades da embaixada dos Estados Unidos e do aeroporto levaram o Departamento de Estado a tomar medidas para permitir a saída de funcionários adicionais" da sede diplomática.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, e o presidente do Quênia, William Ruto, tiveram uma conversa sobre a crise atual e "enfatizaram seu compromisso inabalável com o envio de uma missão multinacional de apoio à segurança" destinada a "criar as condições de segurança necessárias para a realização de eleições livres e justas", segundo um porta-voz do Departamento de Estado no sábado.
População confinada
Segundo a OIM, 362 mil pessoas -das quais mais da metade é menor de idade- estão deslocadas no Haiti, um número que aumentou 15% desde o início do ano.
Proposta de Bukele
Estes grupos e uma parte da população exigem a renúncia do primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, que, segundo últimos relatos, está em Porto Rico. Ele deveria deixar o cargo em fevereiro, mas fez um acordo para compartilhar o poder com a oposição até a realização de novas eleições.
O Conselho de Segurança da ONU deu o aval em outubro a uma missão policial multinacional liderada pelo Quênia, mas esse desdobramento ficou estagnado nos tribunais quenianos.
Diante da violência, dezenas de moradores ocuparam no sábado um escritório da administração pública em Porto Príncipe, na esperança de encontrar abrigo lá, segundo um correspondente da AFP.
"Desde ontem à noite não conseguimos dormir. Fugimos, eu com minhas coisas na cabeça, sem saber para onde ir", disse à AFP Filienne Setoute, que teve que deixar sua casa.
No dia anterior, homens armados atacaram o palácio presidencial e a delegacia de Porto Príncipe, confirmou à AFP o coordenador geral do sindicato da polícia haitiana (Synapoha). Vários agressores foram mortos, de acordo com a mesma fonte.
Por outro lado, cinco pessoas sequestradas em fevereiro em Porto Príncipe, incluindo quatro missionários, foram libertadas, anunciou neste domingo sua congregação católica, pedindo a libertação de outros dois religiosos detidos.
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu-se no domingo para "resolver" a crise de insegurança no Haiti, embora não tenha especificado de que forma.
"Podemos resolver isso. Mas precisaremos de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, do consentimento do país anfitrião e da cobertura de todos os custos da missão", escreveu Bukele nas redes sociais.
Riscos à saúde e fome
Diante da explosão de violência, a Comunidade do Caribe (Caricom) convocou representantes dos Estados Unidos, França, Canadá e da ONU para uma reunião na segunda-feira na Jamaica.
A assistência médica está seriamente comprometida, com "hospitais atacados por gangues e que tiveram que evacuar o pessoal médico e os pacientes, incluindo recém-nascidos", segundo a OIM.
A ONG Mercy Corps alertou para os riscos de fornecimento de alimentos no país mais pobre das Américas.
"Com o fechamento do aeroporto internacional, a pequena ajuda que o Haiti está recebendo atualmente pode não chegar mais", alertou a organização na quinta-feira. E "se não houver acesso a esses contêineres, o Haiti em breve passará fome".
Se a "paralisia" em Porto Príncipe continuar nas próximas semanas, "cerca de 3.000 mulheres grávidas correm o risco de não poder acessar os cuidados de saúde essenciais", alertaram vários representantes da ONU na semana passada.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.