Ex-presidente do Paraguai Mario Abdo BenítezWilson Dias/Agência Brasil

Uma juíza de garantias admitiu nesta quinta-feira (14) uma acusação do Ministério Público contra o ex-presidente do Paraguai Mario Abdo Benítez (2018-2023), acusado por seu antecessor, Horacio Cartes, de vazamento de documentos confidenciais relacionados com sua atividade empresarial.
A magistrada Cynthia Lovera também aceitou a acusação como cúmplices de outros sete ex-integrantes do alto escalão do governo Benítez.
Cartes (2013-2018) acusou seu sucessor de utilizar os documentos para difamá-lo e prejudicar as chances eleitorais de seu herdeiro político, o atual presidente Santiago Peña, antes do pleito de 30 de abril de 2023.
Para ser processado, Abdo Benítez deverá ser destituído de seus privilégios como senador vitalício, procedimento que se tornaria efetivo na próxima semana, informou aos jornalistas o presidente do Senado, Basilio Núñez.
Os Estados Unidos designaram Cartes como "significativamente corrupto" em 2022 - e o ratificaram em 2023 - e proibiram sua entrada em território americano, sanção que também se estende a seus três filhos.
A acusação responsabiliza o ex-presidente Abdo dos supostos crimes de revelação de segredos de serviço, revelação de segredos privados por funcionários ou pessoas com obrigações especiais, induzir um subordinado a realizar um ato punível, denúncia falsa, simulação de ato punível, usurpação de funções públicas e associação criminosa.
Segundo o Ministério Público, o ex-presidente Abdo formou "uma organização criminosa" para vazar informações confidenciais da Secretaria de Lavagem de Dinheiro e Bens (Seprelad) destinadas a desacreditar o setor vinculado a seu arqui-inimigo político (um rico empresário do tabaco no Paraguai) e o atual presidente Santiago Peña.
César Trapani, advogado do ex-presidente denunciado, disse a jornalistas que seu cliente "é acusado de atos falsos que carecem de qualquer tipo de referência de tempo e espaço".
"São falsos e não existiram. As afirmações fazem alusão a circunstâncias que não são certas e que são fictícias. Não se enquadram nos parâmetros mínimos para uma denúncia formal", observou.
"Isto cheira à vingança política de Cartes", afirmou o porta-voz do ex-presidente acusado, o deputado Daniel Centurión.
Entretanto, Pedro Ovelar, advogado de Cartes, alegou que "existem testemunhos, documentos e perícias que revelam uma grande conspiração contra o ex-presidente Cartes".