Profissional também integra dois projetos de extensão sobre a atuação da mulher na ciênciaImagem Arquivo
Por O Dia
Publicado 28/05/2021 11:01
Niterói - No último mês de março, comumente dedicado às mulheres e à luta feminina, a professora Cecília de Souza Fernandez, do Departamento de Análise do Instituto de Matemática e Estatística da UFF, foi homenageada pelo site “Cultura UOL” por ser uma das profissionais brasileiras que fazem história em áreas consideradas ‘masculinas’. Na Universidade Federal Fluminense, a cientista também é referência em pesquisas multidisciplinares que unem o raciocínio matemático a diversas áreas como Biologia, Farmácia e Medicina.
A matemática está presente no dia a dia de todos nós. Trata-se de uma ciência que relaciona lógica com situações práticas habituais, buscando constantemente a veracidade dos fatos por meio de técnicas precisas e exatas. Ciente do seu caráter multifuncional e investigativo, a docente afirma que os pesquisadores que atuam nessa área, assim como ela, estão dispostos não só a conhecer os problemas de outras áreas como a estabelecer parcerias em busca de soluções conjuntas.
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“Trabalho com profissionais de diferentes campos acadêmicos, como médicos, biólogos, farmacêuticos e historiadores. Também interajo com outras instituições, criando pontes de comunicação entre a matemática, as pesquisas da área na UFF e cientistas de outras comunidades acadêmicas. Tenho muito orgulho dessa interação com pessoas de outras formações profissionais, pois estou sempre aprendendo coisas novas e isso me motiva profissionalmente”, pontua Cecília.
Em conjunto com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a docente desenvolve a pesquisa intitulada “Estudo das Alterações Cito-Moleculares em Rabdomiossarcoma visando sua correlação com aspectos clínicos e histopatológicos: avaliação como biomarcadores de prognóstico”. A cientista enfatiza que a pesquisa clínica depende de medições quantitativas. Impressões, intuições e crenças são importantes na medicina, mas é fundamental que estejam acompanhadas de uma base sólida de informações numéricas.
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Cecília afirma que esse suporte permite uma comunicação mais precisa entre profissionais da área da saúde, bem como uma estimativa de erro. “Desfechos clínicos, sintomas ou comprometimento funcional podem ser contados e expressos em números. Na maioria das situações, o diagnóstico, o prognóstico e os resultados do tratamento são incertos para um paciente individualmente. Uma pessoa experimentará um resultado clínico ou não. Portanto, a previsão precisa ser expressa através de um modelo de probabilidade. Na pesquisa com o instituto, uso modelos estatísticos para resolver questões relacionadas à pesquisa clínica de doenças oncológicas”.
A professora também integra dois projetos de extensão sobre a atuação da mulher na ciência. Um deles é o “Mulher e Ciência no Estado do Rio de Janeiro: Desafios e Conquistas”, desenvolvido na Pós-Graduação em Oncologia do INCA. Segundo ela, “um produto importante em relação a essa iniciativa é que ministramos uma disciplina para os estudantes de pós-graduação do instituto abordando pela primeira vez a trajetória de mulheres cientistas em diversos campos do conhecimento”.
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O outro projeto é o “Mulheres na Matemática”, que visa divulgar a história de mulheres que trabalharam em diferentes subáreas da Matemática. O trabalho é desenvolvido no Instituto de Matemática e Estatística da UFF, com o objetivo de atrair jovens alunas para a carreira e promover a divulgação de trabalhos científicos de alto nível realizados por profissionais brasileiras da área. De acordo com a docente, um desdobramento significativo surgido através desse programa é a obra “A história de Hipátia e de muitas outras matemáticas”, que apresenta, em ordem cronológica, a vida e o trabalho de quinze matemáticas do mundo todo escolhidas pelas autoras.
Escrito pela pesquisadora, em parceria com a professora Ana Maria Luz Fassarella do Amaral, também do Departamento de Análise do Instituto de Matemática e Estatística, e Isabela Vasconcelos Viana, graduada em Matemática pela UFF, esse é o primeiro livro redigido em português que apresenta o trabalho apenas de matemáticas. “Tivemos também a preocupação de evitar uma linguagem técnica para tornar o texto mais acessível a públicos de diferentes níveis de formação e áreas”, ressalta Cecília.
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Atualmente a cientista também está organizando uma publicação com a professora emérita do Departamento de História da UFF Ismênia de Lima Martins. A obra ainda está em fase de elaboração e pretende trazer a trajetória acadêmica de doze cientistas do estado do Rio de Janeiro.
“Em 2014 coordenei o primeiro “Seminário Mulher e Ciência do Estado do Rio de Janeiro: desafios e conquistas”. Nesse evento, pesquisadoras do estado do Rio de Janeiro de diferentes áreas de conhecimento abordam suas trajetórias de pesquisa e falam das dificuldades e conquistas em suas carreiras. Convidei a professora Ismênia para uma conferência nesse seminário por tudo o que ela representa para a UFF e para a ciência brasileira. Desde então mantivemos contato, e foi dela a ideia da organização desse livro. Nosso maior desejo é conseguir divulgar o trabalho de mulheres cientistas para incentivar o aumento da representatividade feminina no meio político, acadêmico e científico”, relata a docente.
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Matemática é para mulher sim!
Tendo em vista os projetos de que Cecília participa, fica evidente a preocupação da pesquisadora em destacar o papel feminino na academia. “As jovens pesquisadoras necessitam de maior visibilidade para continuarem motivadas em atuar nesse campo”, avalia. A docente afirma que muitas dificuldades ocorrem no início da carreira das mulheres nessas áreas. “A primeira questão, comum a outras carreiras inclusive, é conciliar o trabalho com o papel de mãe. Outro desafio, mais específico do universo acadêmico, é a representatividade feminina nas pesquisas em ciências exatas”.
A docente observa que, no caso da carreira de pesquisador, o tempo é um fator muito importante. “Precisamos estudar e nos dedicar aos problemas que desejamos solucionar. Para isso, é necessário trocar ideias com colegas, participar de seminários, encontros e congressos. Dessa forma, em relação à maternidade, principalmente quando a criança é pequena, o tempo disponível para as atividades dessa mãe pesquisadora diminui bastante. Em muitos casos, ela não dispõe de uma rede de suporte ou apoio familiar. Sem nenhuma assistência, essas jovens se isolam e tendem a abandonar a carreira”, analisa.
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Cecília explica também que na área da pesquisa o reconhecimento é obtido através da participação em bancas de mestrado e doutorado, em comitês especializados, em palestras e conferências, entre outras atividades. “A tendência é que os pesquisadores homens, que são maioria nas exatas, convoquem sempre uns aos outros. Assim, as mulheres acabam ainda não tendo o espaço que deveriam”.
A cientista enfatiza que o mercado de trabalho que absorve a força de trabalho feminina na área de matemática engloba basicamente as universidades. “A última questão quanto à presença das mulheres nas ciências exatas é que, ao ingressarem na carreira de docência universitária, as acadêmicas podem trabalhar fazendo pesquisas ou não. Portanto, é possível encontrar, em determinados departamentos, professoras em número equiparado ao de professores. Entretanto, ainda somos bem menos pesquisadoras do que pesquisadores na área”.
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Mesmo reconhecendo os muitos desafios em exercer o trabalho de pesquisa na área de exatas sendo mulher, a professora da UFF incentiva as jovens alunas interessadas em Matemática a não desistirem de seus objetivos. “No mundo contemporâneo, existem múltiplas atuações para um matemático na sociedade. Áreas de estudos como Matemática Pura, Matemática Aplicada e Educação Matemática têm cada vez mais mulheres em ascensão. Também é possível trabalhar desenvolvendo pesquisas em empresas e indústrias, além, é claro, da carreira docente, que possibilita dar aulas, orientar alunos de graduação e pós-graduação, escrever projetos de pesquisa acadêmicos e livros. Alunas do ensino básico que se interessam por exatas: se empenhem, pois as possibilidades estão cada vez mais amplas”, conclui.
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