Desirée Monjardim: próxima exposição sob sua curadoria terá abertura em setembroReprodução/Internet
Desirée Monjardim: uma vida dedicada às artes plásticas
Curadora da Sala José Cândido de Carvalho, no Ingá, trabalha bravamente para a inclusão de artistas plásticos no cenário niteroiense
Niterói – Além de ser figura indispensável na cultura de Niterói – e que, como o vinho, vai melhorando com o passar do tempo -- a pintora, gravadora e curadora Desirée Monjardim Lait é uma das mais reconhecidas artistas visuais da nossa cidade. Ela responde pela curadoria da já tradicional Sala José Cândido de Carvalho – anexa à Fundação de Arte de Niterói (FAN), no Ingá – e, por mais de duas décadas, vem dando a oportunidade de exposição para artistas plásticos iniciantes e inovadores, como já o fez com a revelação da cidade Felipe Barbosa, por exemplo. Em 18 de maio deste ano completou 25 anos à frente da sala -- quando foi comemorado o Dia Nacional dos Museus, e mesma data em que se celebra a luta antimanicomial no país. No próximo dia 05 de setembro sua galeria abre nova exposição, desta vez da artista Martha Werneck.
Desde criança Desirée desenha e tem família ligada de artistas e ligada à arte em geral. Niteroiense nascida em 10 de abril de 1948, Desirée é autodidata e sempre contou com o apoio familiar quando resolveu trabalhar com arte. "Meus pais sempre me apoiaram em tudo o que eu fiz, devo muita coisa a eles", afirma. Talvez por isso também apoie seu talentoso filho, o também artista Emanuel Monjardim.
Ao descobrir seu talento e vocação desenhando, aperfeiçoou-se nas técnicas de xilogravura e entalhe no final da década de 1960. No atelier que abriu em Rio Bonito, começou a trabalhar com pinturas, passou também pelos utilitários, como luminárias e decoração de interiores. A partir de 1984, frequentou a Oficina de Gravura do Ingá, dedicando-se ao desenvolvimento da gravura em metal, sob a orientação de Anna Letycia Quadros, Isis Braga e Rossini Perez.
Em 1969 expôs suas talhas com sucesso na Feira de Arte de Ipanema e no ano seguinte, na carioca Galeria Cavilha, mostra que contou com apresentação de Antonio Houaiss. Em 1975 participou de uma exposição coletiva de talhas na Galeria Le Chat, em Icaraí, ao lado de Jesuíno Campos, Mário de Andrade, Ivahy de Aguiar, Karla Schmidt e Lia Helayel. Desde então, exibiu sua obra em exposições coletivas e individuais, em diversas cidades do país e também do exterior.
No ano de 1988, integrou uma mostra coletiva no Museu do Ingá, ao lado de Ísis Braga, Maria Lúcia Maluf, e dos mestres escultores Expedido, Mudinho e Guarani. No mesmo ano, participou da exposição Gravadores do Ingá, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno. Em 1989, integrou a exposição coletiva no Gabinete de Estampas do Parque Lage e inaugurou uma individual na Galeria Artespaço, no Rio de Janeiro. Na galeria de Arte SESC da Tijuca, expôs suas obras com o escultor João Weslwy, mostra que no ano seguinte ocupou o Museu do Ingá. Também em 1990 participou de uma mostra coletiva na Átrio Galeria, com David Largman e Marco Antônio Fernandes. Em 1996, mostrou seus trabalhos na Galeria da Aliança Francesa de Niterói. Já em 1998, abriu uma mostra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e foi convidada pelo saudoso artista e restaurador Cláudio Valério para comandar a Sala José Cândido de Carvalho, localizada na sede da Fundação de Arte de Niterói. No ano seguinte, assumiu também a direção do Museu do Ingá.
MILITANTE COM CAUSA E ARTE
Militante da causa manicomial, Desirée Monjardim iniciou seus trabalhos como curadora inaugurando na Sala José Cândido de Carvalho uma mostra que reuniu desenhos, pinturas e fotografias produzidos por 15 usuários dos serviços de atendimento psiquiátrico de Niterói. "Como curadora consegui o meu objetivo de anos: informar muita coisa sobre esse projeto que as pessoas não sabiam. Foi um sucesso o dia do vernissage, deram muito valor aos trabalhos", contou ela ao site Cultura Niterói.
De acordo com a artista, a função de curadoria é de extrema responsabilidade. "Eu analiso os books e o currículo dos artistas que querem expor na sala, às vezes também vou no atelier das pessoas. Vejo a qualidade dos trabalhos e julgo se são bons para serem expostos. Tudo depende dos meus critérios, o meu olhar. Têm ocasiões que peço a críticos de artes para também avaliarem os trabalhos, antes de mostrá-los", conta Desirée.
Entre as inúmeras exposições coletivas e salões de arte que Desirée Monjardim tomou parte distinguem-se as mostras realizadas na Câmara Municipal de Niterói (1982); na Casa de Cultura Laura Alvim - RJ; No Espaço Petrobrás (1987); na Fundação Armando Álvares Penteado - SP (1987); Projeto Maria Julieta Drummond de Andrade - RJ; Semana da Cultura Brasileira, São José da Costa Rica (1989); Verso e Reverso do Rio, Galpão das Artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1991) e 48 Contemporâneos, Galeria de Arte Universidade Federal Fluminense/Museu do Ingá (1996).
PREMIAÇÕES E DEPOIMENTOS
A obra autoral de Desirée Monjardim já foi premiada no IX Salão Carioca de Arte, com o 1º. Prêmio de Gravura, 1985; no II Salão de Inverno da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o 1º. Prêmio de Gravura, 1990 e no I Salão Nacional de Gravura, SESC, com Menção Honrosa, 1996. Está representada em diversos acervos, como o do Museu Dom João VI da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro; do Museu de Arte Costarriquenha, São José da Costa Rica; do Museu de Arte Latina da Europa, na Universidade de Essex, Inglaterra; da Exposição Itinerante da Associação de Mulheres Uruguaias Lourdes Pinto e da Coleção RioArte.
No ano 2000, um dos seus quadros, que faz parte do acervo do Museu de Essex, em Londres, foi selecionado para a exposição Outros 500. Desirée abriu o catálogo da mostra londrina, que também contou com Daniel Senise, Fransz Weismann, Cildo Meirelles, Sebastião Salgado e Waltércio Caldas. Desirée é citada no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, coordenado por Walmir Ayala e publicado pelo Instituto Nacional do Livro, 1977. Acumula depoimentos de artistas, amigos e fãs, como Mauricio Bentes.
Sobre uma obra dela, Antônio Houaiss disse, em 1970: "Vede como o obsessivo angustioso de suas caras massificadas se faz, por gesto de feminino carinho no entalhe, grafos significantes a um tempo tristes e pícaros, humilhados e esperançosos, mudos e eloquentes. Isso é de artista, Isso é arte”. Anos mais tarde, em 1994, voltou a elogiar o trabalho da amiga. “É o belo, comovente, pungente, absorvente e corajoso caminho que tem sido palmilhado por Desirée Monjardim: tem uma visão, digamos euclidiana, do mundo, digamos geométrico-elementar das coisas, digamos simples (o impossível de lograr) com a busca do puro em cada coisa, do racional em cada suporte, mesmo que irrepetível e irrepetitivo, de eliminação do fractal, do arbítrio, do quase-caos, mas pura, serenamente, a nos encaminhar na iniciação de que tudo que vem da busca humana pode ser belo e humanizador, se fruto da verdade, com sonho, com pertinácia, com amor. Digo, neste sentido, que cada objeto de Desirée é puro”, disse o destacado filólogo, crítico literário, tradutor, diplomata, enciclopedista e ministro da cultura do Brasil no governo Itamar Franco, que nos deixou em 1999.
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