Rio - O Exército prendeu em flagrante, nesta segunda-feira, 10 militares envolvidos no fuzilamento do carro de uma família em Guadalupe, na Zona Norte, no domingo. Como resultado do ataque ao veículo, Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, morreu. Ele estava com a família — a mulher e uma criança de 7 anos — indo para uma festa quando o automóvel foi atingido por mais de 80 disparos.
Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) disse que ouviu até o momento 12 militares, prendendo 10 deles em flagrante. Além das prisões, envolvidos foram afastados do Exército e prisões ocorreram ' em virtude de descumprimento de regras de engajamento'. Também foi ouvido uma testemunha civil, não identificada.
Segundo o CML, a primeira nota que identificava da família como "criminosos" se baseou em "informações iniciais transmitidas pela patrulha". Em seguida, com o relato da família e as "inconsistências identificadas entre os fatos", os militares foram imediatamente afastados e Delegacia de Polícia Judiciária Militar começou a ouvi-los. Além dos militares, prestou depoimento, até o momento, uma testemunha civil, não identificada.
"Na manhã de hoje (segunda-feira), após a conclusão dessas oitivas (depoimentos), foi determinada a lavratura da prisão em flagrante de 10 dos 12 militares ouvidos, em virtude de descumprimento de regras de engajamento", diz o Comando Militar do Leste. Eles ficarão à disposição da Justiça Militar da União que deverá realizar a Audiência de Custódia e dará prosseguimento do processo.
"Cumpre esclarecer que o decurso de prazo entre os acontecimentos propriamente ditos e as providências no sentido da decretação das prisões deveu-se aos cuidados necessários para com o devido processo legal, por orientação do Ministério Público Militar, órgão encarregado do controle externo das atividades das Forças Armadas; por fim, o Exército Brasileiro reitera seu estrito compromisso com a transparência e com os parâmetros legais impostos pelo Estado de Direito ao uso legítimo da força por seus membros, repudiando veementemente excessos ou abusos que venham a ser cometidos quando do exercício das suas atividades", conclui a nota do CML.
'Nem sei o que dizer para ele. Só chorar junto', diz filho de músico morto pelo Exército
O entregador Daniel Rosa, de 29 anos, falou sobre a dor do irmão de 7 anos, que viu o pai morrer após ter o carro metralhado pelo Exército. A criança estava no carro do músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, com a família indo para uma festa quando os militares efetuaram mais de 80 disparos.
"Meu irmão está traumatizado. Só chora e fala 'quero meu pai agora. Por que meu pai não está aqui'", contou Daniel, dizendo que a família vai processar a União. "Por que o Exército está dizendo que meu pai é bandido? Eu quero uma explicação. Meu pai era trabalhador, sustentou a família. Tudo que sou devo a ele, que me deu carinho, amor, que chamou a minha atenção quando foi preciso, que me orientou", lembrou o filho, chorando. "O que o governo vai fazer? Passar a mão nas minhas costas", questionou o filho da vítima.
Em um intervalo de 60 horas, foram dois casos de civis mortos por militares do Exército. Na madrugada de sexta-feira, por volta de 2h, Christian Felipe Santana de Almeida Alves, 19, foi morto por um tiro de fuzil no peito pelo Exército na Vila Militar, em Realengo. A corporação alegou que o jovem foi baleado, na madrugada de sexta-feira, após a moto em que ele estava na garupa furar um bloqueio e o chamou de criminoso. A família negou e contestou a afirmação que o rapaz era bandido.
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